O Papa emérito Bento XVI, que morreu neste sábado, era apenas um jovem, ainda mais conhecido como Joseph Ratzinger, de 12 anos, quando a Segunda Guerra Mundial começou, em 1939. Por ser tão novo, não foi chamado imediatamente para servir aos nazistas. Mas a situação mudou de figura quando, em 1943, aos 16 anos, o exército de Hitler convocou Ratzinger – já seminarista – a realizar “trabalhos auxiliares” junto com os militares. Nesse momento, começou a saga junto aos nazistas, embora Ratzinger e sua família nunca tenham apoiado Hitler e seus seguidores.

A ligação forçada com os nazistas é narrada, em detalhes, na biografia “Bento XVI – O Guardião da Fé” (Record), de Andrea Tornielli. Naquela época, como afirma o livro, Ratzinger acabou morando com militares e chegou a atuar em serviços antiáreos em Munique, até que, um ano mais tarde, foi convocado para o “serviço de trabalho do Reich”.

“Aquelas semanas de trabalho permanecem em minha memória como uma recordação opressiva. Os nossos superiores eram em grande parte provenientes da comumente chamada Legião Austríaca. Tratava-se de nazistas do primeiro time… pessoas fanaticamente ideologizadas, que nos tiranizavam com violência”, relembra o Papa emérito.

Em dado momento, Ratzinger foi designado para o quartel de infantaria de sua região e não precisou combater junto do exército nazista, mas foi obrigado a marchar com seus companheiros e a cantar canções de guerra. Segundo o Papa emérito, tal ação servia “para mostrar à população civil que o Führer dispunha ainda de soldados jovens recentemente treinados”.

Na primavera, Ratzinger decidiu fugir e voltar para seu lar. Soldados americanos acabaram identificando o jovem como soldado do Reich e Ratzinger foi retido como prisioneiro de guerra, mas libertado um tempo depois, em 19 de junho de 1945. Quando finalmente chegou em casa, a família o recebeu com festa. “Em toda a minha vida nunca eu comi uma refeição tão gostosa como aquela que minha mãe me preparou com os produtos da nossa horta”.