Benjamin Netanyahu, o primeiro-ministro há mais tempo no poder desde a fundação do Estado de Israel, é um “mago” na arte da sobrevivência política, apesar de ser acusado de corrupção.

Apelidado por seus apoiadores de “rei Bibi”, Netanyahu chegou a um acordo nesta segunda-feira (20) com Benny Gantz, para formar um governo de emergência.

Netanyahu ficará à frente da administração pelos primeiros 18 meses antes de deixar o cargo para seu, em outros tempos, adversário.

Após 16 meses de governo de transição, três eleições legislativas e reviravoltas políticas, os dois rivais encerraram a maior crise política da história de Israel, em meio à pandemia da COVID-19.

Até parece que “Bibi” sempre esteve onde está. Sua voz rouca inconfundível e seus cabelos impecavelmente penteados fazem parte do coração do sistema político israelense.

Estrategista experiente, Netanyahu, de 70 anos, é o único primeiro-ministro de Israel mais jovem que o Estado, fundado em maio de 1948.

Nascido em Tel Aviv em 21 de outubro de 1949, ele herdou a bagagem ideológica de seu pai, Benzion, assistente pessoal de Zeev Jabotinsky, líder da tendência sionista “revisionista”, favorável a uma “Grande Israel” que incluísse também a Jordânia.

Hoje, Netanyahu defende a ideia de um “Estado judeu” com fronteiras que se estendem até o nordeste da Jordânia. Daí sua promessa de anexar o vale do Jordão, localizado em terras palestinas e ocupado por Israel há mais de 50 anos.

– O mais jovem primeiro-ministro –

Em 1976, o irmão de Netanyahu, Yoni, morreu em uma operação militar para libertar reféns de um voo Tel Aviv-Paris, sequestrado por organizações palestinas e alemãs em Uganda.

Desde então, Netanyahu tornou a luta “contra o terrorismo”, que ele frequentemente associa aos palestinos, um dos norteadores de sua vida política.

Proeminente orador, Netanyahu foi diplomata em Washington antes de se tornar embaixador da ONU nos anos 1980. Quando voltou a Israel, foi eleito deputado em 1988 pelo partido Likud e se tornou a nova estrela da legenda de direita.

Durante a Guerra do Golfo, em 1991, quando Israel foi alvo de mísseis Scud iraquianos, o político defendeu veementemente os interesses de seu país na rede americana CNN. E seguiu em ascensão até 1996, quando, aos 47 anos, se tornou o primeiro-ministro mais jovem da história de Israel.

Seu reinado durou apenas três anos. Depois de permanecer afastado por algum tempo, voltou a dirigir o Likud e foi novamente eleito primeiro-ministro em 2009.

– “Guerra pessoal” –

Desde então, a política israelense tem sido marcada por “Bibi”, um mestre na arte de formar coalizões, absorver pequenos partidos e aliar-se a formações ultraortodoxas para consolidar seu poder.

O primeiro-ministro se apresenta como o grande defensor de Israel contra o Irã.

Desde que chegou à presidência dos Estados Unidos, Donald Trump tem sido seu grande apoiador. Washington transferiu sua embaixada para Jerusalém, reconheceu a anexação sobre o Golã e apresentou em janeiro um plano de paz para a região que os palestinos rejeitam, alegando que apenas favorece Israel.

Os opositores de Netanyahu o consideram autocrático, ambicioso e dissimulado. Eles o acusam de não querer a paz com os palestinos e que seu discurso antiárabe mina os fundamentos da democracia israelense.

Casado e pai de três filhos, Benjamin Netanyahu enfrenta a justiça por receber presentes caros de milionários, trocar favores com executivos de grandes empresas e tentativas de conluio com a imprensa.

Para Gideon Rahat, professor de Ciência Política da Universidade Hebraica de Jerusalém, Netanyahu alterna entre “extremismo” e “moderação”.

Após sua acusação formal, a mídia israelense declarou “o fim da era Netanyahu”. Uma previsão que, por enquanto, não se concretizou.