Frederico Cursino, da Agência Einstein

Um estudo norte-americano coloca em questão um dos principais benefícios do óleo de peixe. O alimento, vendido principalmente como suplementos em formas de cápsulas, tornou-se bastante popular nos últimos anos por, entre outros fatores, supostamente ajudar a prevenir doenças cardíacas, devido à sua composição rica em Ômega 3. Porém, pesquisadores da Universidade da Geórgia descobriram que esta substância nem sempre é uma aliada do coração. Dependendo da genética da pessoa que consome, o óleo de peixe pode ter até mesmo um efeito contrário.

O estudo publicado no jornal científico PLOS Genetics constatou que variações no gene GJB2 podem alterar o comportamento do ácido graxo Ômega 3 na regulação dos triglicerídeos, um tipo de gordura no sangue que, em alto nível, pode agravar o risco de doença cardíacas. Atualmente, alguns especialistas indicam a substância justamente pelo motivo inverso: ela ajudaria a diminuir os triglicerídeos em excesso:

“O que descobrimos é que a suplementação com óleo de peixe não é boa para todos; depende do seu genótipo. Se você tem um histórico genético específico, a suplementação com óleo de peixe ajudará a reduzir seus triglicerídeos. Mas se você não tiver o genótipo certo, tomar um suplemento de óleo de peixe, na verdade, aumenta seus triglicerídeos”, afirma Kaixiong Ye, professor de genética da Universidade da Geórgia e um dos coordenadores do estudo.

Para chegar a esta conclusão, a equipe de Ye examinou quatro lipídios (gorduras) do sangue de amostras de cerca de 70 mil indivíduos. Além dos triglicerídeos, também foram analisados a lipoproteína de alta densidade, a lipoproteína de baixa densidade e o colesterol total.

As amostras foram divididas em dois grupos, aqueles que tomaram suplementos de óleo de peixe (cerca de 11 mil) e aqueles que não consumiram o alimento. Em seguida, os pesquisadores fizeram uma varredura de todo o genoma para cada grupo, testando 8 milhões de variantes genéticas para comparar. Após executar mais de 64 milhões de testes, os resultados revelaram uma variante genética significativa no gene GJB2. Indivíduos com o genótipo AG que tomaram óleo de peixe diminuíram seus triglicerídeos. Por outro lado, aqueles com o genótipo AA aumentaram ligeiramente seus triglicerídeos ao consumir esse alimento. (Um terceiro genótipo possível, GG, não era evidente em voluntários do estudo suficientemente para tirar conclusões).

As descobertas da pesquisa também podem lançar luz sobre ensaios anteriores, a maioria dos quais constatando que o óleo de peixe não oferece nenhum benefício na prevenção de doenças cardiovasculares.

“Uma possível explicação é que esses ensaios clínicos não consideraram os genótipos dos participantes”, disse Ye. “Alguns participantes podem se beneficiar, outros não, então, se você os misturar e fizer a análise, não verá o impacto”.

O próximo passo agora será testar diretamente os efeitos do óleo de peixe nas doenças cardiovasculares. “Personalizar e otimizar as recomendações de suplementação de óleo de peixe com base na composição genética única de uma pessoa pode melhorar nossa compreensão da nutrição e levar a melhorias significativas na saúde e no bem-estar humanos”, afirma o pesquisador.

Para aqueles que quiserem constatar se possuem o genótipo certo para os benefícios do óleo de peixe, Ye diz que é possível encontrar essa informação em meio aos dados brutos do teste de DNA. Para isso, é preciso olhar para a posição específica para descobrir o genótipo. De acordo com o pesquisador, a identificação desta variante é rs112803755 (A> G).

(Fonte: Agência Einstein)

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