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Quando filmou “Ben-Hur” em 1959, o diretor William Wyler não ousou mostrar o rosto de Jesus. Naquele tempo, exibir a face de Cristo nas telas poderia ser interpretado como uma provocação, era algo politicamente incorreto que não convinha àquela superprodução rodada com o maior orçamento do cinema até então e que acabaria premiada com 11 Oscars. Se no filme original Jesus só é visto de costas, de lado ou de longe (a ponto de o nome do ator, Claude Heater, sequer figurar nos créditos), passados quase 60 anos a história é outra. A refilmagem de “Ben-Hur” que estreia no Brasil na quinta-feira 18 explora as emoções do Messias em profundidade, num desempenho excelente do ator Rodrigo Santoro. “Mesmo ele sendo o Salvador, o Redentor, o Ungido, nós o vemos como um marceneiro. Nem pregação ele faz”, diz Santoro, lembrando que a preocupação do diretor Timur Bekmambetov era fugir da aura mística.

Isso explica a abordagem de Jesus como homem comum, que apenas dava um exemplo de bondade por onde passava. “Para humanizá-lo, buscamos até um coloquialismo em sua maneira de falar”, diz o ator.

Código Hays
A trama é fiel ao livro de Lew Wallace que se passa no século I. O nobre Judah Ben-Hur (vivido por Jack Huston) é escravizado pelo comandante romano Messala Severus (Toby Kebbell) e acusado injustamente de traição. Seu desejo de se vingar do algoz se realiza em uma corrida de biga no Circo Romano – agora filmada de maneira ainda mais eletrizante. A presença de Jesus também segue o roteiro da primeira produção, embora com diferenças importantes nessa refilmagem: o momento da crucificação, por exemplo, mostra a figura de Cristo em detalhes. No “Ben-Hur” original, estrelado por Charlton Heston, a câmera é posicionada atrás da cruz, registrando apenas os rostos das pessoas diante do crucificado. Exibir o sofrimento de Jesus seria polêmico na ocasião, quando imperava o Código Hays. Criado por Hollywood, esse conjunto de regras pregava que Jesus tinha de ser tratado com reverência, o que levava cineastas e atores a se autocensurarem e ser pouco criativos.

Na nova versão de “Ben-Hur”, Santoro enfrenta a difícil missão de expressar a dor de Jesus crucificado. “Dois dias antes de rodar a cena, entrei em crise. Como poderia externalizar todo o sentimento do mundo?”, questiona o ator, que passou por uma sessão de maquiagem de seis horas e um “frio desesperador” na locação – na noite anterior à filmagem nevou na cidade italiana de Matera. “Foi um momento inesquecível. Eu estava no topo de uma montanha, com o sol caindo e todo o vale lá embaixo. Não consigo descrever a sensação de estar pregado na cruz’’, diz Rodrigo Santoro.