Vamos lá! Pegue o papel e uma caneta e responda às seguintes perguntas:

  • Qual dieta você já fez?

  • Você perdeu peso com ela?

  • Se sim, quantos quilos e em quanto tempo?

Depois de ter respondido às perguntas, quero que reflita se funcionou. A maioria das pessoas tende a responder que essas dietas da moda e restritivas “funcionaram muito”, afinal, a pessoa perdeu 10 quilos em um mês.

Agora, eu gostaria de saber como está hoje após essa dieta que fez: você conseguiu perder mais quilos e manter uma rotina? A resposta costuma ser: “a dieta X foi ótima, mas eu cansei, resolvi deixar de lado e engordei tudo de novo!”

Acreditem que já atendi pessoas que relataram que perderam peso só consumindo macarrão instantâneo —com aquele temperinho recheado de glutamato monossódico — todos os dias. Foram muitos quilos e, ainda melhor, em um espaço curtíssimo de tempo; afinal, quem não quer um resultado rápido assim? Entretanto, quando cansou e voltou à rotina anterior, ganhou os mesmos quilos de antes e, adicionalmente, alguns outros dígitos, desnutrição, problemas metabólicos, alterações bioquímicas e novas “companheiras joviais”, as células de gordura (adipócitos).

Valeu o sacrifício?

Bom, alguns não enxergam a realidade dos fatos. Contudo, se você começar a analisar cada uma dessas decisões passadas que já tomou e onde está hoje, pode ter certeza de que mudará seu ponto de vista.

Uma das primeiras histórias que são apresentadas na nossa infância é a da “Chapeuzinho Vermelho” e parece que não assimilamos uma das morais do conto. Escolher o caminho mais curto pode até parecer esperteza e agilidade, porém, há consequências dessas decisões e de pular as etapas do aprendizado. Com as facilidades do dia a dia, optar pela rapidez do processo, pula uma etapa essencial: que é mudar o seu comportamento e treinar a sua mente para o seu novo estilo de vida.

E isso é só a ponta do iceberg, pois, dependendo de qual maluquice optou, pode ter certeza de que você levará de “bônus” (na verdade, ônus) uma quantidade relevante de danos que podem comprometer sua saúde.

Por isso,  o primeiro passo deve ser mudar sua forma de pensar e ter consciência do processo pela sua saúde. Perder peso de forma errada não te trará saúde, pelo contrário. É necessário emagrecer, reduzir o excesso de gordura corporal, adotando comportamentos que tragam benefícios para sua saúde, com a inclusão de nutrientes e exercício físico. Vai muito além do número que você vê —ou foca — na balança.

Estudo mostra o que é preciso para um emagrecimento duradouro e efetivo

Um estudo¹ realizado por cientistas da Universidade de Stanford aponta um caminho realista para auxiliar em um processo de emagrecimento saudável, constante e que lhe traga resultados; reforçando a importância de colocar a razão em primeiro lugar, trazer para consciência suas atitudes imediatistas e ter paciência no processo.

Foram avaliadas mais de duzentas mulheres com obesidade, distribuídas em dois grupos de forma aleatória. Metade delas começou um processo de perda de peso logo no início da pesquisa; já a outra metade passou por um protocolo de mudança de estilo de vida, com aprendizado e aperfeiçoamento de decisões do dia a dia.

Os dois grupos perderam 17 kg —cerca de 9% do peso corporal do início da pesquisa. E esse é o grande ponto. Se parássemos por aqui, você pensaria: “vamos começar com tudo, como o primeiro grupo. Bem mais rápido e mais fácil! Pra que perder tempo?” O nosso “zoião” nos faz optar pelo cômodo e as consequências deixamos para depois. Contudo: é aqui que você começa a errar.

Quando realizamos um estudo científico sério, fazemos o fup ou follow-up, em que acompanhamos os participantes para entender como ficaram após aquela intervenção. Nesse estudo, os pesquisadores analisaram as voluntárias ao longo do ano seguinte e, como era de se esperar, as mulheres que participaram do protocolo de mudança de estilo de vida de oito semanas, ganharam somente 3 quilos e continuaram colocando em prática todo o aprendizado do processo. Já as mulheres que focaram na perda de peso rápida ganharam 7 quilos.

O que esse estudo nos ensina?

Na verdade, ele só reforça o que já sabemos e não queremos enxergar. As voluntárias do estudo que participavam de rodas de conversa, atualizavam-se sobre conteúdos direcionados ao bem-estar, estabeleciam uma rotina com a inclusão de exercícios e realizavam uma alimentação rica em nutrientes; ou seja, tiveram resultados e conseguiram levar os ensinamentos adiante. Alguma novidade para vocês? Nada além do que sabemos, não é mesmo?

O problema maior de todo o processo é que focamos no fim e não nas etapas do processo. Somos ansiosos. Queremos tudo muito rápido e cada vez mais rápido. Então, aprender a controlar o peso, analisar de forma crítica o prato e entender o tamanho das suas porções, alimentar-se saboreando com calma sua refeição, realizar escolhas mais saudáveis na hora da fome, fazer exercícios mesmo não estando motivado para levantar do sofá… não é fácil. É custoso e vamos nos autossabotar o tempo todo.

Durante muitos anos, realizei pesquisas no Centro de Estudos em Psicobiologia e Exercício. Grande parte do meu aprendizado de vida vem de lá. Foram mais de 10 anos avaliando diversos casos e a multifatoriedade que influencia no processo de mudança. Um dos grupos que analisei, tanto em pesquisas que colaborei quanto no meu doutorado, foi com mulheres que tinham obesidade — só no meu doutorado, foram mais de 500 mulheres.

Vale reforçar que a obesidade é uma doença crônica, que não tem cura, porém pode haver controle. A pessoa com obesidade pode emagrecer, mas as células de gordura estarão ali, esperando qualquer desestabilização emocional para recuperar aqueles quilos perdidos.

Por isso, as intervenções que ocorriam sempre eram multi e interdisciplinares. Entendíamos o gatilho do que fez aquela voluntária chegar à obesidade e, dessa forma, realizávamos intervenções psicológicas, nutricionais, avaliações médicas e fisioterapêuticas, e inclusão de exercício físico, pelo menos, 3 vezes por semana. E o resultado não foi para menos: emagrecimento saudável, educação mental e efetividade. O meu estudo de doutorado encerrou em 2020 e, ontem, em uma publicação que fiz nos meus stories, do meu Instagram, recebo o seguinte relato:

“Bateu uma saudade de ouvir você nos ensinando sobre a vida saudável. Quando pude participar do projeto, foi a melhor decisão da minha vida!!! Iniciei o projeto com um pouco mais de 80 kg, pré-diabética e sedentária. Perdi 10 kg ao fim do projeto, mas o ganho maior foi o aprendizado da alimentação saudável e do exercício físico. Orgulho do quanto você é competente e solidária em compartilhar com todas as pessoas a melhor forma de perder peso e ganhar saúde! (sem receitas milagrosas, hahaha)”, Pâmela Diez –que permitiu que eu liberasse aqui seu nome e Instagram para partilhar da sua conquista.

É sobre isso que quero falar: sobre saber o que tem que ser feito, ter consciência das suas escolhas, ser crítico e até acolhedor quando toma uma decisão equivocada. O mais importante é estar aberto a aprender e ter paciência para que sua mente assimile o processo de mudança. Foque na consciência do saber. Busque aprender e exercite a paciência de todo o processo.

*O conteúdo dessa matéria tem caráter informativo e não substitui a avaliação de Profissionais da Saúde.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do IstoÉ.

Referências Bibliográficas

¹Kiernan M, Brown SD, Schoffman DE, Lee K, King AC, Taylor CB, Schleicher NC, Perri MG. Promoting healthy weight with "stability skills first": a randomized trial. J Consult Clin Psychol. 2013 Apr;81(2):336-46. doi: 10.1037/a0030544. Epub 2012 Oct 29. PMID: 23106759; PMCID: PMC4428307.
Para leitura:
Machado PP, RHEIN SO, CAMPOS RS, OYAMA LM et al. Uso de tecnologia digital interativa como coadjuvante à terapia interdisciplinar no controle de risco cardiometabólico e inflamação em mulheres com obesidade. Brazilian Journal of Health Review, v. 3, p. 4116-4134, 2020.