A pandemia COVID-19 teve um grande impacto em nossas vidas e estilo de vida —que, para muitos, continua até hoje. Milhões ficaram doentes com o vírus e centenas de milhares perderam familiares. 

Agora que a poeira baixou conseguimos ter mais clareza e calma para analisar os dados, sermos críticos, mostrar o que erramos (não farão isso, mas deveria ser obrigatório) e, também, entender a importância do que precisamos fazer para evitar a gravidade desta e de qualquer infecção viral.

Para relembrar sobre COVID-19 e COVID longa

De acordo com o Ministério da Saúde, “a COVID-19 é uma infecção respiratória causada pelo novo coronavírus SARS-CoV-2. Há pessoas que não apresentam sintomas, outras têm sintomas leves, como febre, cansaço, tosse seca”.

Já a covid longa é quando você tem sintomas que duram semanas a meses após a primeira infecção. Os sintomas de covid prolongados podem incluir fadiga, dor de cabeça, falta de ar, batimento cardíaco acelerado, tontura, depressão e ansiedade. Esses sintomas podem afetar seu retorno à atividade física.

Estudos mostram que o vírus é capaz de afetar vários sistemas, incluindo os sistemas respiratório, cardiovascular, renal, digestório, neuroendócrino, músculo-esquelético e órgãos sensoriais. Além disso, a COVID longa foi identificada como uma condição pós-infecção por COVID-19 que afeta pelo menos 65 milhões de indivíduos em todo o mundo. Esta doença crônica afeta o coração, pulmão, pâncreas, rim, baço, fígado, vasos sanguíneos e os sistemas neurológico, gastrointestinal, imunológico e reprodutivo com uma ampla variedade de patologias. 

Por que o exercício, desde sempre, foi tão importante para COVID-19? 

Apesar de uns não quererem enxergar, sempre soubemos que a prática regular de exercícios É condição sine qua nom para qualquer condição de saúde, inclusive para a COVID-19 —melhor que isso é que agora temos até uma PL em aprovação que prevê dedução de imposto para a prática de atividade física mediante atestado médico. 

Sabemos que os benefícios do exercício para a saúde são bem conhecidos e observados em vários sistemas orgânicos, aumentando a resiliência geral, a saúde e a longevidade. 

Desde a descoberta, em 2000, de que as contrações musculares liberam IL-6 (é uma interleucina que atua como uma citocina pró-inflamatória e uma miocina anti-inflamatória), o número de moléculas sinalizadoras associadas ao exercício que foram identificadas se multiplicou. Assim, quando realizamos exercícios, liberamos exercinas (ou exerkines), definidas como porções de sinalização liberadas em resposta ao exercício agudo e/ou crônico, que exercem seus efeitos através de vias endócrinas, parácrinas e/ou autócrinas. 

Uma infinidade de órgãos, células e tecidos liberam esses fatores, incluindo o músculo esquelético (miocinas), o coração (cardiocinas), o fígado (hepatocinas), o tecido adiposo branco (adipocinas), o tecido adiposo marrom (baptocinas) e os neurônios (neurocinas). 

Dessa forma, as exercinas têm papéis potenciais na melhoria da saúde cardiovascular, metabólica, imunológica e neurológica, além de melhorar e/ou atenuar os efeitos da COVID-19 e da COVID longa nos sistemas orgânicos. Isto irá destacar como e por que o exercício é o medicamento mais importante e um tratamento eficaz para a COVID-19, e especialmente para a COVID longa.

Foi o que mostrou uma revisão de Torres e colaboradores (2023), que descreve a evidência de como exerkines podem mitigar os efeitos de COVID-19 em cada sistema de órgão que o vírus afeta. As evidências apresentadas na revisão sugerem que o exercício deve ser considerado uma estratégia de primeira linha na prevenção e tratamento da infecção por COVID-19 e da doença COVID longa. 

A figura (adaptada abaixo) apresentada no estudo compara os efeitos da COVID-19 com os efeitos “opostos” do exercício a este vírus e reforça a importância de incluí-lo no “tratamento e redução do risco de COVID-19 e COVID longo” e, na lista de benefícios à saúde relacionados à atividade física, o “exercício é um remédio”. 

COVID E EXERCÍCIO
Infecção por COVID-19 versus efeitos do exercício. Fonte: Torres G, et al (2023). (Crédito:Imagem adaptada por Paola Machado.)

O cumprimento consistente das diretrizes de atividade física tem sido associado à redução do risco de resultados graves de infecção por COVID-19, ou seja:

  • hospitalização com redução de 22% a 42%; 
  • admissão na UTI com redução de 34% a 38%; 
  • deterioração e morte redução de 43 a 83%;
  • risco de infecção 11% a 22% menor. 

O maior benefício é obtido ao atingir pelo menos 500 equivalentes metabólicos de tarefa (MET)-min por semana de atividade física, o que equivale a 150 minutos de atividade física de intensidade moderada ou 75 minutos de atividade física de intensidade vigorosa por semana, além da prática de musculação, que é indispensável. Estudos também descobriram que a aptidão cardiorrespiratória (ACR) é um preditor de progressão da doença e mortalidade por COVID-19. 

Em 2022, o CREF4/SP e a ACAD Brasil lançaram o livro digital “Diretriz de prescrição de exercício em pacientes acometidos pelo SARS-COV-2: posicionamento do Conselho Regional de Educação Física da 4ª Região”. Clique aqui, caso queira baixar o e-book!

 

*O conteúdo dessa matéria tem caráter informativo e não substitui a avaliação de Profissionais da Saúde.

**Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do IstoÉ.

Referências Bibliográficas

Ministério da Saúde. Covid-19. Disponível em: https://bvsms.saude.gov.br/covid-19-2/ 
Chow, L.S., Gerszten, R.E., Taylor, J.M. et al. Exerkines in health, resilience and disease. Nat Rev Endocrinol 18, 273–289 (2022). https://doi.org/10.1038/s41574-022-00641-2
Torres, G., Constantinou, D., Gradidge, P., Patel, D, et al. Exercise is the Most Important Medicine for COVID-19. Current Sports Medicine Reports 22(8):p 284-289, August 2023. | DOI: 10.1249/JSR.0000000000001092