Se existe um momento na vida em que as mulheres deveriam se preocupar e cuidar da saúde, esse momento é a gestação, afinal, tudo que é feito durante esse período pode afetar positiva ou negativamente a saúde delas e principalmente a de seus filhos –com consequências que podem durar por toda a vida.

Por isso, consultas de pré-natal, exames, uma alimentação saudável e vitaminas são a parte mais óbvia quando pensamos em cuidados com a saúde durante a gestação. Mas quando falamos em exercícios físicos, muitas pessoas e até profissionais da saúde, ainda acreditam que pode ser prejudicial na gravidez, pois tem em mente que deve ser evitada em determinada fase ou que a gestante só pode fazer caminhadas e hidroginástica.

Pior é que quando se trata de gestação e parto, talvez por ser algo que muitas pessoas já vivenciaram ou acompanharam de perto, é muito comum ouvir palpites ou mesmo orientações técnicas vindo de pessoas totalmente leigas. Qual a grávida que nunca ouviu algum comentário sobre o formato de sua barriga ou alguma história impressionante sobre o parto de outra pessoa? E a confiança das pessoas em relação a esses conceitos é tanta que já sobrou até para mim. Certa vez, estava treinando musculação na mesma sala em que minha esposa, grávida de umas 30 semanas, quando um outro aluno, que me conhecia e sabia que eu era especialista em Obstetrícia e em Medicina do Esporte, tentou me convencer de que aquilo não era bom pra ela, que ela tinha que descansar e não ficar pegando peso.

E por isso eu te trago a seguinte questão: quais são os benefícios de praticar exercícios físicos regularmente durante a gestação?

Segundo revisão publicada pelo American College of Obstetricians and Gynecologists, os benefícios são muitos e incluem: 

  • Um menor ganho de peso durante a gestação;
  • redução da incidência de diabetes gestacional;
  • redução da incidência de hipertensão e pré-eclâmpsia;
  • redução de partos prematuros;
  • redução da incidência de baixo peso ao nascimento;
  • rumento da incidência de partos normais;
  • redução das queixas de dores lombares.

Isso sem falar nos benefícios para a saúde geral, como a saúde mental, o bem-estar e até estética, além da maior facilidade de retornar ao peso de antes da gravidez. Lembrando também que a principal causa de mortalidade materna, ou seja, aquela que ocorre durante a gestação, no parto ou no puerpério, no Brasil e no mundo está relacionada à hipertensão na gestação.

E quais atividades são mais indicadas durante a gestação?

Diferente do que você imagina, não é só caminhada e hidroginástica! Principalmente quando a gestante já realiza treinamentos anteriores, muitas atividades são indicadas. São elas:

  • Caminhadas;
  • bicicleta ergométrica;
  • atividades aeróbicas em geral;
  • dança;
  • musculação;
  • pilates;
  • atividades aquáticas, como natação e hidroginástica;
  • e exercícios de alongamento;

Diversas outras modalidades também são indicadas durante a gestação, mas as citadas são as que apresentam mais evidências científicas quanto à segurança. Devem ser evitados esportes de contato pelo risco de traumas e outros com risco de perda de equilíbrio e quedas, como esqui na neve, esqui aquático ou equitação. O ideal e o  que traria maiores benefícios seria uma combinação de alguma atividade aeróbica com exercícios resistidos, como musculação ou pilates, pois são muito eficazes na prevenção das dores lombares relatadas por mais de 60% das gestantes.

Para iniciar uma atividade física, a gestante precisa de uma avaliação inicial com liberação de seu médico obstetra, sendo as contraindicações bem específicas e não muito comuns. Com relação à frequência, segundo as diretrizes do American College of Obstetricians and Gynecologists, a gestante deveria se exercitar no mínimo de 3 a 5 vezes por semana, com sessões de, pelo menos, 20 a 30 minutos.

Quanto à intensidade, o ideal para a gestante e para o feto é que não seja nada exaustivo. Recomenda-se atividade de moderada intensidade, e isso deve ser medido de forma subjetiva, utilizando a própria percepção da gestante ou o chamado “talking test”, traduzido como o teste da fala. Se a grávida é capaz de falar durante o exercício, significa que não está tão intenso, mas se ela está tão ofegante a ponto de não conseguir conversar, deve diminuir a intensidade.

Já que a gravidez e o parto são eventos tão impactantes na vida de algumas mulheres, por que não aproveitar essa mudança para incorporar novos hábitos, que serão importantes não só no processo de nascimento, mas também no futuro dessa criança, já que pais fisicamente ativos têm filhos mais ativos? Mas isso é tema para outro texto…

*O conteúdo dessa matéria tem caráter informativo e não substitui a avaliação de Profissionais da Saúde.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do IstoÉ.

Referências Bibliográficas

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