A obesidade é uma pandemia de proporções assustadoras e crescentes que vem, cada vez mais, atingindo pessoas, desencadeando doenças crônicas como diabetes, hipertensão, dislipidemias, além de doenças autoimunes e outras de ordem mental, como ansiedade e depressão. Paralelo a isso, surgem de estratégias medicamentosas como, o medicamento do momento, o Ozempic ® (semagalutida).

A razão pela qual os dados estão cada vez maiores é muito complexa e, por isso,  o tratamento deve ser feito com seriedade e acompanhamento. Falo isso porque sei que se deparam diariamente com dicas de fórmulas mágicas, que nos conduzem de maneira tentadora e irresistível. Quando optamos por um caminho mais rápido e fácil, cruzamos uma linha tênue e perigosa entre a busca pela saúde, por meio do emagrecimento, e o desenvolvimento da doença, pela prática de estratégias feitas por conta própria e por vezes, sem comprovação científica. 

A indicação das receitas milagrosas por falsos especialistas da internet ou daquela amiga que te indicou (porque para ela, foi um sucesso), o uso de suplementos e produtos que não têm efeitos comprovados e seguros cientificamentme, ou ainda os medicamentos off label, que são usados com uma indicação diferente da qual foram desenvolvidos e testados, são os maiores representantes dessa linha muito perigosa e que muitos cruzam. 

A nova onda vem por conta do medicamento a base de semagalutida conhecido para o tratamento de diabetes e que vem sendo utilizado para o emagrecimento e, nessa tendência, caminha um fitoterápico chamado berberina. Talvez você já tenha lido algo a respeito, já que essa planta mágica está sendo chamada de Ozempic ® natural. 

Ozempic ® natural: será que funciona? 

A ação da planta é principalmente no metabolismo dos carboidratos, melhorando a sensibilidade de receptores de insulina e garantindo um melhor trabalho pancreático. Como consequência, teremos melhor controle da inflamação e dos níveis de colesterol. Muitos são os trabalhos científicos sobre a berberina o que, de certa forma, a transforma em uma planta relativamente segura quando utilizada em um contexto também controlado, monitorado, individualizado e de mudança no estilo de vida. 

O meu papel aqui é mostrar para você o que as pesquisas científicas relatam sobre a berberina, mas sempre fazendo um contraponto para te convidar a uma reflexão, com imparcialidade. Então, vamos aos fatos! Mais trabalhos, bastante estruturados, mostram efeitos positivos com relação a essa planta e também aos seus benefícios na microbiota intestinal, demonstrando conexão com a regulação da saúde, os níveis de açúcar, o controle de apetite, a redução no risco de câncer colorretal e a manutenção do bom peso corporal. 

Sabe qual é o grande ponto de atenção? A maior parte dos estudos foram feitos em ratos ou em ambientes super controlados chamados  de in vitro, sem dosagem ou tempo de uso padronizado, tampouco estudos toxicológicos; portanto, será que ao utilizarmos em humanos, teremos os mesmos resultados a médio e longo prazo, com um bom nível de segurança? Essas são as perguntas mais importantes antes de entrar de cabeça num tratamento sem indicação de um médico ou nutricionista especializado em fitoterapia. 

O cuidado com a quantidade e o tempo de uso são essenciais para que não ocorram efeitos adversos ou tóxicos, uma vez que as pesquisas controladas começaram a ocorrer somente a partir de 2013, e mesmo assim modestamente, este período para a área de investigação clínica não configura tempo suficiente para conhecermos se há efeitos adversos realmente ou se trata de um produto ou compostos seguros. 

Além disso, a perda de peso é uma consequência lógica quando melhoramos nossos níveis de açúcar, de colesterol, de pressão arterial, da inflamação, do controle do apetite e da microbiota intestinal, o que certamente é possível com mudanças em sua atitude frente aos alimentos e a sua saúde, introduzindo exercícios regulares, boa noite de sono e dieta de qualidade. Logo te pergunto, o que vale mais a pena? Mudar em definitivo seus hábitos de vida ou utilizar algo temporário e que talvez não saibamos os efeitos a médio e longo prazo? A resposta vem com a sua atitude!

*O conteúdo dessa matéria tem caráter informativo e não substitui a avaliação de Profissionais da Saúde.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do IstoÉ.

Referências Bibliográficas

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