A tríade composta por treinamento, recuperação e alimentação desempenha um papel fundamental tanto para atletas profissionais quanto para amadores. Entre os três pilares, a recuperação do organismo, conhecida como recovery, assume um destaque especial. Ela permite que o atleta mantenha uma rotina diária de treinamentos, reduzindo o risco de lesões e evitando eventos indesejados que possam prejudicar seu desempenho.

Nesta semana, tive a oportunidade de conversar com o Dr. Gustavo Arliani, médico ortopedista, doutor em Ciências pela UNIFESP/EPM, para tirar dúvidas sobre recovery, bem como entender as principais novidades no tema.

Perguntas e respostas sobre tecnologias para recuperação pós-treino

Dr. Fabrício Machado (FM). Quais são os principais dispositivos e técnicas de recuperação no campo da ortopedia esportiva?

Dr. Gustavo Arliani (GA). Nos últimos anos, diversos dispositivos e tecnologias vêm sendo testados nesta área de recuperação de atletas profissionais e amadores, tais como: massageadores para liberação miofascial, botas pneumáticas, equipamentos de crioterapia (gelo) com compressão, câmaras hiperbáricas, wearables de monitoramento do sono, dispositivos para monitoramento da glicemia, câmeras de termografia e fotobiomodulação. Muitas dessas opções ainda não possuem consenso na literatura médica sobre seus benefícios, porém, são consideradas promissoras na tentativa da melhor e da mais rápida recuperação dos atletas.

FM. O uso do gelo no recovery (crioterapia) tem sido muito divulgado nas redes sociais por diversos atletas, amadores e profissionais. Como a crioterapia é utilizada na recuperação de atletas? Quais os benefícios e riscos desse tipo de tratamento?

GA. A crioterapia –-terapia com uso de gelo –  é utilizada há muitos anos no tratamento de lesões esportivas e na recuperação após atividades físicas intensas. A baixa temperatura promove a diminuição do calibre dos vasos sanguíneos (vasoconstrição), gerando redução de dor, fadiga, edema e inflamação local, podendo essa técnica ser realizada localmente ou em todo o corpo, com variação de temperatura e tempo de exposição. Na crioterapia de corpo total, por exemplo, o atleta pode ser exposto a temperaturas extremas de até 60 graus Celsius negativos em salas ou cabines especiais por 1 a 4 minutos. A diminuição térmica também pode ser feita em banheiras entre 8 e 10 graus Celsius por cerca de 10 minutos, ou então, com uso de equipamentos específicos de crioterapia associada a compressão local (Game Ready). A crioterapia, dentre as técnicas de recuperação de atletas, é uma das que mais apresenta consenso e respaldo na literatura médica.

FM. Qual a eficácia das botas de compressão para a recuperação muscular pós-treino? Como elas funcionam e quais são as suas vantagens e desvantagens?

GA. A massagem e as técnicas de compressão estática e dinâmica estão entre as mais conhecidas e utilizadas pelos atletas. O uso das botas de compressão após exercícios de longa duração tem como objetivo a diminuição da dor causada pela inflamação da musculatura, bem como a diminuição do edema local. Alguns estudos recentes demonstraram melhora imediata da dor muscular com uso de botas pneumáticas por 20 a 60 minutos após atividades físicas prolongadas. No entanto, os equipamentos de compressão dinâmica dos membros têm como desvantagens seu alto custo e ausência de permanência dos efeitos em análise de longa duração. Uma excelente alternativa seria a utilização de meias de compressão estática que, além de eficientes, apresentam menor custo.

FM. Algumas pessoas usam fitas cinesiológicas para ajudar na recuperação e prevenção de lesões. Quão eficazes são essas fitas e como devem ser utilizadas?

GA. As fitas elásticas, como a famosa kinesio tape, foram desenvolvidas na década de 70 por um quiropraxista japonês chamado Dr. Kenzo Kase, com o objetivo de melhorar a dor e a fadiga. No entanto, estas bandagens se popularizaram a partir das Olimpíadas de 2008, na China, quando foram usadas por diversos atletas de renome mundial. Contudo, ainda não existe evidência suficiente que suporte seu uso rotineiro no esporte de alta performance, embora existam relatos de casos de sucesso em atletas de ponta.

FM. Qual o  papel da terapia com laser na recuperação de lesões esportivas? Ela tem vantagens significativas em comparação com outras técnicas?

GA. A Terapia de Fotobiomodulação (TFBM) é frequentemente usada no manejo da dor em pacientes com distúrbios musculoesqueléticos, sendo uma modalidade de tratamento segura e não invasiva. Em estudos prévios, a TFBM customizada (fotocêuticos) já demonstrou amenizar os sintomas a curto e longo prazos, melhora da qualidade de vida e redução de uso de anti-inflamatórios e analgésicos. Outros estudos mostraram alívio da dor e da fadiga, além da diminuição de biomarcadores de lesão muscular após uso da técnica como recuperação após exercícios físicos de alta intensidade. Alguns trabalhos citam esta alternativa como superior a crioterapia no recovery de atletas.

*Colaboração do Dr. Gustavo Arliani, médico ortopedista, Doutor em Ciências pela UNIFESP/EPM. (CRM SP 124736 RQE Nº: 31856)

**O conteúdo dessa matéria tem caráter informativo e não substitui a avaliação de Profissionais da Saúde.

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