Portas é a afirmação do sistema Marisa Monte de composição. São baladas belas, doces, todas aprovadas no que Paul McCartney chama do teste do violão (se não fica bom só ao violão, não é uma grande canção) e com uma intimidade imediata. O bom disso é que não tem erro. Marisa sabe o que cantar para agradar à sua audiência e consegue fazer isso em 16 canções de forma sublime. O mau é que, ao recolocar a voz com a mesma intenção em cada faixa e contar com as mesmas intenções de ideias, ela pode se tornar linear por todo o álbum e soar envernizada mesmo diante de belas melodias.

Não há fórmula certa. Os fãs de Marisa vão amar o álbum, já que, sonoramente, ele não propõe transformações nem mudanças de rota. Ou seja, é lindo e gostoso de ouvir, como quase tudo o que essa cantora faz desde o início de sua carreira. A Marisa, no entanto, será o melhor? Onde está o arraso neste ponto de sua carreira, onde podemos sentir o arrebatamento? Quem sabe na voz mais crua sob direção de outras turmas? Ou em projetos novos, como o do canto ibérico ao qual a canção Vagalumes ameaça levá-la?

A linearidade de Marisa persiste por chegar sobre uma base tão bem resolvida e de um canto tão saboroso que parece não precisar de mais nada. É verdade, ela pode cantar assim por toda a vida sem mudar um compasso que o jogo estará ganho. Mas, de repente, ouvindo e sentindo que Praia Vermelha, Totalmente Seu, Medo do Perigo, Calma e todas as canções trazem as mesmas brisas, vem uma vontade de ser realmente, um dia, surpreendido por Marisa Monte.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.