‘Bella Ciao’, um hino à liberdade do Irã à Ucrânia

Da Ucrânia ao Chile, de Hong Kong ao Irã, manifestantes de todo o mundo se unem ao ritmo de “Bella Ciao”, o hino da resistência ao fascismo na Itália que se transformou em chamado à liberdade.

Mulheres curdas na Turquia e expatriadas iranianas em Paris marcharam e cantaram a célebre canção em solidariedade aos iranianos e protesto pela morte da jovem Mahsa Amini, detida por não respeitar o código de vestuário imposto pela República Islâmica.

A música se tornou um símbolo dos protestos atuais desde foi cantada por uma iraniana com o rosto descoberto em um vídeo que rodou o mundo. Mas a popular canção, de autor desconhecido, tem sido utilizada em manifestações deste a década de 70 de Nova York a Hong Kong.

Também é considerada um hino do movimento partigiano italiano que lutava contra o fascismo e a ocupação nazista durante a Segunda Guerra Mundial.

Muitos especialistas, no entanto, sustentam que os partigianos italianos nunca a cantaram, como Carlo Pestelli, autor do livo “Bella Ciao: La canzone della libertà” (A Canção da Liberdade).

Na realidade, eles cantavam “Bandiera rossa” (Bandeira vermelha) e “Fischia vento” (Sopra o Vento), escritas em 1943 para incentivar a resistência. “Bella Ciao” remonta a muitos anos antes, às canções do norte italiano no século XIX, inspiradas em histórias tristes de amor.

“É difícil estabelecer a origem com precisão”, garante Pestelli.

A letra, que fala de um invasor e da honra de morrer pela liberdade, se tornou emblema de muitas causas.

“Não era uma canção comunista, mas um manifesto pela liberdade(…) com valores apolíticos que todos podem entender e compartilhar”, sustenta Pestelli.

– A ressonância mundial –

“Bella Ciao”, que significa “Adeus linda”, se popularizou nas últimas décadas graças também a figuras da música como o cantor francês de origem italiana Yves Montand. O recente sucesso internacional da série espanhola “La casa de papel” contribuiu ainda mais para que a música chegasse ao jovens.

Os ucranianos a cantaram diante das forças russas que invadiram seu país, também foi a trilha sonora das manifestações no Chile, de estádios de futebol na Inglaterra e um chamado à ação contra a mudança climática em Bruxelas.

Na Itália atual, “Bella Ciao” ressoou nas sacadas dos edifícios durante o confinamento pela pandemia de coronavírus em 2020.

Traduzida, adaptada ou reelaborada, o refrão permanece cantado em italiano.

Em Jerusalém, opositores do então primeiro-ministro Benjamin Netanyahu, apelidado “Bibi Netanyahu”, cantaram “Bibi Ciao” no ritmo da canção, para exigir sua partida.

Em 2019, os manifestantes da oposição no Iraque se reuniram para cantar “Blaya Chara”, que significa “não há saída” em dialeto iraquiano, com a mesma melodia de “Bella Ciao”.

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