Belém sofre com ausência de turistas, mas moradores resistem

BELÉM, 14 OUT (ANSA) – Por Nina Fabrizio – Em sua loja, há fotos de todos os pontífices recentes e de suas visitas à Basílica da Natividade, localizada do outro lado da rua ? o local onde Jesus nasceu. Em algumas delas, o falecido papa Francisco aparece sorrindo e rezando, com a mão apoiada no muro de separação com Belém, durante sua histórica visita em 2013.   

Há também fotos do ex-presidente da Autoridade Nacional Palestina (ANP) Yasser Arafat e do atual, Mahmoud Abbas, e dos frades franciscanos que estiveram presentes em 2002, durante o cerco israelense à basílica, quando militantes se refugiaram no local.   

A loja de presépios de Rony Tabash, agora sob a administração da quarta geração da família, é um verdadeiro pedaço da história de Belém. Antes dele, estiveram à frente do negócio seu pai ? atualmente doente e internado ? e seu avô.   

Fundada em 1927, inicialmente como uma loja de souvenirs, o local acabou se especializando em presépios esculpidos em madeira, tornando-se referência na cidade. Rony tem um filho de apenas 16 anos, a quem pretende, um dia, passar o negócio.   

“Família e trabalho são tudo para nós, porque o que nos dá sentido é viver onde Jesus nasceu”, disse ele à ANSA.   

“Estes últimos dois anos, no entanto, foram os mais difíceis e sombrios da nossa história quase centenária. As coisas continuam sem grandes mudanças, mas devemos resistir ? e vamos resistir.   

Talvez agora tenhamos visto uma luz, com o acordo de paz”, acrescentou, referindo-se à guerra iniciada em Gaza após o dia 7 de outubro.   

Enquanto Rony fala, a Basílica da Natividade está excepcionalmente vazia, visitada apenas por um punhado de peregrinos que percorrem, com tranquilidade, os cômodos geralmente lotados. Para entrar, é preciso passar pela estreita Porta da Humildade ? com menos de um metro de altura ? que obriga os visitantes a se abaixarem.   

O batente de madeira da porta ainda carrega marcas de balas das Forças de Defesa de Israel (IDF), vestígios do cerco que entrou para os livros de história. Os confrontos entre milicianos e as IDF duraram pouco mais de um mês. Ainda assim, segundo Rony, aqueles tempos parecem menos graves do que a situação atual.   

“Esta é a pior crise de todos os tempos, até mesmo pior do que na época da Covid. Cerca de 85% da população de Belém depende do turismo. Quando não há peregrinos, não há trabalho para ninguém”, afirma.   

Ele conta que bares, cafés, supermercados estão praticamente vazios, e a maioria das lojas fechou as portas. Muitas famílias que conseguiram emigrar foram para os Estados Unidos; outras, para países da América do Sul. “Mesmo assim, muitos ainda me ligam e perguntam: ‘Rony, como vai? Poderemos voltar?’. Acho que precisamos manter a esperança ? não apenas pelos negócios, mas pela nossa fé. Temos que resistir e seguir em frente”, observa.   

O comerciante relata ainda que, do hospital, seu pai continua incentivando-o: “Rony, vá e abra a loja”. “Quando eu disse: ‘Pai, não tem ninguém aqui’, ele respondeu: ‘Vá assim mesmo.   

Nossa esperança está em estar perto da Manjedoura’.” No outro dia, Rony pôde finalmente dizer ao pai: “Pai, há um acordo de paz. Acho que agora haverá uma recuperação”. E conclui: “Nestes últimos dois anos, só estávamos esperando por essa luz que agora começa a surgir. Quero acreditar que haverá um futuro ? não para mim, mas para nossos filhos. Aqui, tudo é feito de pedra ? a Gruta, a Basílica ? mas as pedras vivas somos nós, que vivemos aqui, e os peregrinos que voltarão.” (ANSA).