Bebidas contaminadas: mortes em SP ecoam caso Backer, que completa 5 anos sem justiça

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Cerveja Belorizontina, da fabricante Backer, causou morte de dez pessoas Foto: divulgação

Em São Paulo, as recentes ocorrências de intoxicação por bebidas modificadas com metanol remeteram a um outro caso de adulteração alcóolica – o das cervejas Backer contaminadas em Belo Horizonte, que completa cinco anos em 2025.

Em janeiro de 2020, a Polícia Civil de Minas Gerais começou a investigar o que estaria causando mortes e internações de moradores da capital e Região Metropolitana do estado. Já no mesmo mês, as apurações acusaram uma ligação entre as vítimas e o consumo de cervejas da fabricante Backer. 

O episódio causou 10 mortes e deixou quase 20 pessoas com sequelas permanentes. Meia década depois, tanto a responsabilização dos culpados quanto a reparação dos afetados não foi concluída.

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O que aconteceu?

Moradores de BH começaram a dar entrada nos hospitais com sintomas de intoxicação, incluindo registro de múltiplas mortes. As investigações policiais perceberam relação causal entre a ingestão da cerveja Belorizontina, que pertencia à Backer, e as internações por contaminação.

Logo, foi divulgado que a fabricante foi responsável pela adulteração de bebidas com substâncias tóxicas utilizadas na indústria como anticongelantes – dietilenoglicol e monoetilenoglicol. A contaminação dos lotes teria acontecido, segundo as autoridades, devido a um vazamento na fábrica.

Potencializado pelas comemorações de fim de ano da época, o consumo de álcool causou nas vítimas efeitos como insuficiência renal, alterações neurológicas, comprometimento da visão, paralisia cerebral e até câncer.

A denúncia apresentada à Justiça aponta que a cervejaria Backer deu início à comercialização de produtos contaminados em 2018, ano em que ao menos duas pessoas teriam sido intoxicadas.

A acusação formalizada pelo MP revela que a empresa, em busca por lucro, adquiriu de forma excessiva as substâncias empregadas no processo de refrigeração. Ao longo de quase dois anos, a prática resultou na contaminação de 36 lotes de diversas marcas produzidas pela cervejaria com monoetilenoglicol e dietilenoglicol, segundo investigações do Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa).

Culpados sem sentença, vítimas sem indenização

Ainda em setembro de 2020, o Ministério Público de Minas Gerais (MPMG) denunciou 11 pessoas, incluindo sócios da Backer. Eles foram acusados de lesão corporal, homicídio culposo e contaminação de produto alimentício.

Os réus foram ouvidos em 2023, sendo que um deles – Paulo Luiz Lopes – morreu antes ser julgado. O Ministério Público entendeu que, ao adquirir substâncias tóxicas de forma irresponsável, a fabricante assumiu o risco de produzir bebidas adulteradas.

Neste ano, o processo entrou em fase de alegações finais. A Justiça de Minas Gerais enviou, no dia 26 de setembro, o documento ao juiz do caso para tomada de decisão – mas o caso ainda permanece sem veredito.

Os culpados não foram sentenciados e todas as vítimas que ficaram com sequelas permanentes seguem sem nenhuma indenização. Em 2022, a Cervejaria Três Lobos, responsável pela marca Backer, obteve aprovação para a retomada da produção em seu parque industrial, em Belo Horizonte.