LONDRES, 23 JUL (ANSA) – O pequeno corpo reduzido a um esqueleto, a boca aberta como se clamasse por ar e comida, os olhos escuros iluminados por um vislumbre residual de vida que parece perguntar “por quê”.
A vergonha do mundo se reflete na imagem do pequeno Muhammad Zakariya Ayyoub al-Matouq, nos braços de sua mãe, em meio aos escombros de uma Faixa de Gaza agora prostrada pela fome, como denuncia as Nações Unidas (ONU), todas as principais organizações humanitárias do mundo e inúmeros depoimentos de pessoas de dentro.
Isto vai muito além dos números da primeira dúzia de mortes atribuídas à “fome” pelo que resta da administração do enclave palestino, ligada ao movimento fundamentalista islâmico Hamas.
É uma imagem que ajuda a abrir os olhos de muitos para um cenário cada vez mais atroz, mesmo entre aqueles que não viam ou queriam ver há meses, começando pelo Reino Unido, um país tradicionalmente aliado de Israel, onde a indignação com a escalada de violência na Faixa de Gaza, os massacres de civis palestinos em filas por ajuda e os crescentes relatos de fome entre a população estão começando a transbordar.
Tanto que os que se rebelam não são mais apenas ativistas pró-Israel, a esquerda pacifista ou a imprensa liberal, mas também vozes conservadoras, figuras políticas ou comentaristas pró-Israel de longa data e tabloides de direita que não foram insensíveis no passado à retórica islamofóbica, como o Daily Express.
Foi justamente este último que publicou nesta quarta-feira (23), em um manifesto de primeira página, a chocante foto ? pele e osso ? do bebê Muhammad, que tem um ano e meio e pesa apenas seis quilos.
“Por favor, parem com isso agora”, diz a manchete do jornal, acrescentando que “o sofrimento do pequeno Muhammad, agarrado à vida no inferno de Gaza, envergonha a todos nós”.
O menor é uma das milhares de pessoas que sofrem de má nutrição em Gaza. Sem leite nem qualquer outro alimento, Muhammad luta pela vida.
Um sentimento de horror e vergonha foi reacendido no Parlamento de Westminster antes do recesso de verão por várias vozes bipartidárias. Entre elas está Kit Malthouse, ex-ministro conservador e membro do grupo “Amigos de Israel”, que não hesitou em levantar suspeitas de “genocídio” em Gaza, descartando as recentes condenações verbais do governo trabalhista moderado de Keir Starmer como tardias e insuficientes, na ausência de sanções reais contra os líderes do governo de Benjamin Netanyahu ou consequências para o fornecimento militar britânico letal ao Estado judeu.
O britânico então alertou o ministro das Relações Exteriores, David Lammy, sobre o risco de ser julgado em Haia no futuro ? quem sabe, se suas palavras não forem seguidas de ações concretas: “Cúmplice dos crimes” atribuídos a Israel. (ANSA).