Presidente do Banco da França e dirigente do Banco Central Europeu (BCE), François Villeroy de Galhau disse que os números mais recentes de inflação na zona do euro confirmam a necessidade por um “processo gradual e resoluto de normalização monetária”. Segundo ele afirmou durante discurso à Autoridade de Controle e Resolução Prudencial (ACPR, na sigla em francês), uma decisão será tomada na próxima reunião monetária do BCE, em linha com o que já antecipou a presidente da entidade, Christine Lagarde.

Segundo ele, bancos na zona do euro estão expressando preocupação pela iminente alta do juro, algo surpreendente, dadas as reclamações “por anos” sobre o nível baixo das taxas. “Precisamos ser claros: a elevação dos juros, se conduzida de forma ordenada e bem administrada, será favorável ao setor financeiro”, tranquilizou Villeroy.

O banqueiro central avaliou que o ambiente macroeconômico e financeiro mudou muito desde o ano passado, e a guerra na Ucrânia “exacerbou as pressões inflacionárias que já eram visíveis no final de 2021”. A alta anual do índice de preços ao consumidor (CPI, na sigla em inglês) da zona do euro atingiu novo recorde em maio, segundo dados preliminares divulgados hoje.

Juros negativos

Integrante do Conselho do BCE, Ignazio Visco argumentou, nesta terça-feira, 31, que a instituição pode deixar para trás a política monetária marcada por juros negativos, em meio ao avanço da inflação na zona do euro.

“Um aumento destas taxas, que o Conselho do BCE pode decidir começar no verão europeu, deve proceder tendo em conta a evolução incerta das perspectivas econômicas”, defendeu, em evento do Banco da Itália, do qual é presidente.

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A taxa de depósito do BC europeu está estacionada em -0,50% desde 2019, enquanto a de refinanciamento segue em 0% e a de empréstimo marginal, em 0,25%. Para Visco, o processo de aperto deve acontecer de maneira “gradual”. “A situação econômica, que mudou profundamente no espaço de alguns meses, torna adequado ultrapassar a política de principais taxas de juro negativas”, destacou.

O dirigente ressaltou que o BCE deve trabalhar para que a normalização monetária ocorra de maneira “ordenada”, com objetivo de evitar uma fragmentação dos mercados que não seja justificada por fundamentos econômicos.

Visco acrescentou que os gargalos na cadeia produtiva e a escalada dos preços de energia explicam a recente tendência inflacionária na região. Na visão dele, a guerra decorrente da invasão russa da Ucrânia ampliou as pressões nos preços. “Nós não devemos ignorar o risco de um aumento das expectativas de inflação acima do objetivo de médio prazo e o início de uma espiral salários/preços”, disse.


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