ROMA, 3 DEZ (ANSA) – O Banco Central Europeu (BCE) enviou uma carta ao governo italiano solicitando a reconsideração de uma medida que afirma que as reservas de ouro do Banco da Itália são de propriedade do Estado.
Uma emenda à proposta orçamentária para 2026 apresentada pelo partido Irmãos da Itália (FdI), da primeira-ministra Giorgia Meloni, declara que os estoques auríferos do banco central do país “pertencem ao Estado, em nome do povo italiano”, apesar de seu papel para garantir a estabilidade financeira da zona do euro.
O texto não explica o motivo dessa especificação, e a medida gerou especulações de que poderia abrir caminho para o uso das reservas de ouro pelo governo, talvez com a venda de parte delas para reduzir a enorme dívida pública italiana, superior a 3 trilhões de euros (R$ 18,5 bilhões).
“Não está claro para o BCE qual o propósito concreto da proposta”, afirmou a instituição em um parecer enviado ao Ministério da Economia e das Finanças da Itália. “Por esta razão, e na ausência de qualquer explicação quanto à finalidade da proposta, as autoridades italianas são convidadas a reconsiderá-la, também com vistas a preservar o desempenho independente das tarefas básicas do Banco da Itália relacionadas ao Sebc [Sistema Europeu de Bancos Centrais]”, acrescentou o BCE.
O banco central italiano afirmou em seu balanço que possui cerca de 2.452 toneladas de reservas de ouro, que, no fim de 2024, valiam cerca de 200 bilhões de euros (R$ 1,2 bilhão).
Porém o preço do minério no mercado internacional aumentou significativamente neste ano, então o valor monetário atual pode ser ainda maior.
“Não é uma questão banal, porque a Itália é a terceira maior detentora de ouro entre os bancos centrais [atrás apenas de EUA e Alemanha]”, declarou a presidente do BCE, Christine Lagarde, acrescentando que a gestão das reservas auríferas do país é responsabilidade do Banco da Itália, uma instituição independente do governo, ainda que pública. (ANSA).