BC tem que entender que país mudou de governo, diz líder governista na Câmara

BC tem que entender que país mudou de governo, diz líder governista na Câmara

Por Eduardo Simões

(Reuters) – O líder do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva na Câmara dos Deputados, José Guimarães (PT-CE), disse nesta quinta-feira que o Banco Central precisa entender que o Brasil tem uma nova gestão e que há uma nova política econômica em curso no país.

Em entrevista à CNN Brasil, Guimarães fez coro às críticas de Lula ao atual patamar da taxa de juros, de 13,75% ao ano, e disse considerar uma “boa ideia” chamar o presidente do BC, Roberto Campos Neto, para debater o tema no Congresso. Ao mesmo tempo, o líder disse que a independência formal do Banco Central, prevista em lei, não está em discussão.

“A política econômica é que deve orientar os agentes econômicos e a autoridade monetária há que considerar isso, ela não está acima da lei, não é uma coisa apartada da realidade econômica do país, da realidade social”, disse o líder à emissora.

“A autoridade monetária tem que conviver e saber mesclar, compreender que o Brasil tem outro governo, é outro programa que foi eleito, são outras diretrizes, não é o modelo anterior”, acrescentou.

Campos Neto foi indicado para a presidência do BC pelo então ministro da Economia, Paulo Guedes, na gestão do ex-presidente Jair Bolsonaro, derrotado por Lula na eleição presidencial de outubro. Com a aprovação da independência formal do Banco Central pelo Congresso, Campos Neto assumiu mandato que termina no final de 2024.

Guimarães negou que o governo Lula esteja buscando a revogação da autonomia do BC e também rejeitou a ideia de que a proximidade de Campos Neto com Bolsonaro e seus apoiadores seja a motivação das críticas do atual governo à atuação do BC.

“O que nos incomoda é a taxa de juros na estratosfera. Isso incomoda. Não é se o presidente do Banco Central, que tem mandato, foi em uma reunião ou apoia A ou B”, disse.

“Não está em discussão a autonomia ou não autonomia do Banco Central, intervenção no Banco Central. Não, o debate que nós precisamos fazer é qual é a política de juros compatível com a realidade econômica do país.”

O líder disse ainda que a reforma tributária será fundamental para estabilizar a economia e reiterou fala do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, de que pretende apresentar ao Congresso Nacional em abril uma proposta de novo arcabouço fiscal para o país.

INEXEQUÍVEL

Na mesma linha do líder governista, a presidente nacional do PT, deputada Gleisi Hoffmann, disse à CNN na tarde desta quinta não ver uma justificativa razoável para o atual patamar da taxa de juros, além de considerar a atual meta de inflação “inexequível”.

Ponderou, ainda que o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, tem publicamente declarado sua intenção de enviar o novo arcabouço fiscal neste semestre e tem colocado a reforma tributária como uma prioridade.

“Por que que não há um aceno para que a gente possa fazer com que o país recupere? Aí o Banco Central resolve manter a taxa de juro de 13,75% e diz que vai deixar até o final do ano. Isso é um crime contra o Brasil, não leva em consideração nada, nem os esforços que vão ser feitos pelo governo”, disse a presidente petista à emissora.

“Temos um mês de governo, já querem que apresente todos os projetos possíveis. Acabamos de ter que recompor o orçamento do Bolsonaro, que não tinha como continuar pagando o Bolsa Família, continuar pagando vacina”, argumentou.

(Reportagem adicional de Maria Carolina Marcello)

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