Por Isabel Versiani

BRASÍLIA (Reuters) – A meta de inflação é missão do Banco Central e será cumprida, disse nesta terça-feira o presidente da autarquia, Roberto Campos Neto, acrescentando que a linguagem de “normalização parcial” da política monetária adotada na comunicação do BC pode ser alterada em caso de mudança de cenário.

“A gente está dizendo que, com os instrumentos que a gente tem hoje, a modelagem que nós temos, o correto era começar mais rápido e usar a linguagem parcial. Se em algum momento for entendido que precisa ser diferente, a linguagem parcial não mais será usada e a gente irá em direção a (juro) neutro. O que vai fazer isso acontecer? Mudança de cenário”, disse Campos Neto durante evento virtual do banco BTG Pactual.

Ele destacou que o momento é de grandes incertezas, com dúvidas em torno da trajetória dos preços das commodities e também da inflação de serviços no momento de reabertura das economias. No caso das commodities, ele ressaltou que o preço do milho caiu depois de ter atingido um pico e que os preços da soja em reais e do petróleo estão parados “há um tempinho”.

“É importante esclarecer que a nossa meta de inflação, ela vai ser cumprida, essa é a missão do Banco central que nós vamos fazer. Por isso fizemos mais do que o mercado entendia anteriormente e vamos seguir nesse caminho”, acrescentou o presidente do BC.

O BC promoveu duas altas da taxa básica de juros de 0,75 ponto percentual desde março e já indicou a intenção de fazer um novo aperto da mesma magnitude em junho. O BC comunicou que o ciclo de alta visa uma normalização parcial da política de juros, ou seja, a intenção seria manter a Selic ainda em terrenos estimulativo, abaixo do nível considerado neutro (que é hoje em torno de 6,5%, segundo o BC). A taxa básica de juros está atualmente em 3,5%.

Diante das fortes pressões inflacionárias correntes e do aumento das expectativas de inflação para o próximo ano, muitos economistas têm defendido que o aperto monetário deveria mirar o fim do estímulo à atividade.

Ao defender a ação do BC, destacando que a autarquia deixou claro que suas projeções mostram que um aperto maior levaria a uma inflação abaixo da meta, Campos Neto afirmou que a estratégia de adotar mais transparência na comunicação com o mercado por vezes gera ruído, mas que a intenção não é recuar.

“Às vezes os ruídos que a transparência causa eles são curados com mais transparência, não com menos”, disse, acrescentando que a experiência internacional mostra que países que voltaram atrás na estratégia de transparência acabaram atrapalhando “esse canal na potência da política monetária”.

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