Por Gabriel Ponte

BRASÍLIA (Reuters) – O presidente do Banco Central (BC), Roberto Campos Neto, disse nesta terça-feira estar vigilante com respeito ao impacto da desvalorização do câmbio sobre a inflação de curto prazo e expectativas, e que a autoridade monetária agirá se necessário, mas ressaltou que as condições atuais estão em linha com seu cenário-base.

Em entrevista em inglês à Bloomberg TV, Campos Neto afirmou que nas últimas semanas, apesar de volatilidade, a trajetória do real tem estado estável.

“Para nós, o importante não é o real, trabalhamos sob um sistema de câmbio flutuante. O importante é como o real contamina o canal de inflação para a inflação de curto prazo e para elevar expectativas. Estamos vigilantes quanto a isso e agiremos se necessário”, afirmou.

Ele também disse que as atuais condições de mercado estão em linha com o cenário-base da autoridade monetária e afirmou não ver “nada diferente” de uma alta de 75 pontos-base da Selic para a próxima reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) de maio, conforme já indicado na última ata do colegiado.

“Mas nada está escrito em pedra, podemos enfrentar condições muito diferentes de agora em diante. Não achamos que isso é o cenário mais provável, mas temos cenários alternativos e temos sido transparentes quanto a isso.”

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Ao comentar intervenções do BC no mercado de câmbio, Campos Neto disse que a autoridade “nunca fez vendas regulares” da divisa norte-americana, mas que, quando avalia que há disfunções no mercado, calcula o volume necessário de intervenção.

Questionado, ele disse que o BC não considera “instrumentos extras” para estabilizar o mercado de câmbio.

“De novo, no mercado de câmbio, nós pensamos que a taxa é flutuante. Então, intervimos quando achamos que há uma disfunção de modo que afeta seu trading. Mas nós não miramos um nível, nós não temos um nível à mente”, disse.

Ao ser questionado sobre a taxa neutra de juros, o presidente do BC afirmou que o país ainda demanda condições estimulativas em razão do enfrentamento à pandemia da Covid-19, mas que a questão gira em torno de “quão estimulativo” os juros precisam ser.

“Não é ajustar a inflação para o que nós achamos que deveria ser em comparação aos juros neutros. É reconhecer que as taxas de juros que nós temos agora foram elevadas por condições que nunca se materializaram e que nós precisamos alterar as taxas, mas ainda ser em campo estimulativo”, explicou Campos Neto, justificando o processo de normalização parcial da política monetária.

FISCAL

Ao comentar o risco fiscal do país, o presidente do BC disse ser “muito importante” emitir uma mensagem de disciplina fiscal. “Nós acreditamos que o fiscal está impondo um prêmio na curva e esse prêmio contamina expectativas que, ao fim, acaba contaminando a inflação”, disse, fazendo a ressalva de que o país não está em cenário de “dominância fiscal”.

“Nós achamos que, em razão de termos tido gastos muito expressivos enfrentando a pandemia, é importante passar uma mensagem de que tivemos um ano extraordinário, que precisou de medidas extraordinárias, mas nós vamos voltar a convergir para a trajetória fiscal.”

Comentando o processo de vacinação contra a Covid-19 da população, ele disse que, com base na trajetória de imunização projetada pela autoridade monetária em cima das doses já compradas, é possível estimar condições de reabertura da economia no segundo semestre do ano no país.

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