O Banco do Brasil está no caminho certo para alcançar rentabilidade “compatível” com o seu potencial, segundo o presidente do banco, Paulo Caffarelli. “O primeiro passo já foi dado. Nossas ações subiram 100%”, destacou ele, em coletiva de imprensa para comentar os resultados do banco, na manhã desta quinta-feira, 16. O retorno sobre o patrimônio líquido médio ajustado (RSPL) ficou em 7,2% ao final de dezembro, contra 12,0% e 9,9%, respectivamente. Em 2016, a rentabilidade foi de 7,5%, contra 13,0% em 2015. De acordo com Caffarelli, 2016 foi um ano “difícil”, mas há sinais claros de que a melhora da situação macroeconômica está endereçada. Esse cenário de retomada, conforme ele, tende a contribuir para os resultados do BB, bem como o conjunto de medidas para reorganização institucional da instituição e que serão implementadas ao longo de 2017. Além do plano de aposentadoria, chamado Plano Extraordinário de Aposentadoria Incentivada (PEAI), que teve 9.409 adesões em 2016, dentre as medidas estão a revisão e o redimensionamento da estrutura organizacional e da rede de atendimento. “Rentabilidade é mais importante que market share para banco. Reafirmamos nosso compromisso com rentabilidade, eficiência, capital e atendimento”, destacou Caffarelli, reafirmando que o banco não precisará de aporte do Tesouro Nacional. Segundo ele, o banco está incrementando sua rentabilidade com clientes digitais. Afirmou ainda que vê grandes oportunidades no mercado de capitais brasileiro, tanto em ofertas de ações como em emissões de dívidas. Sobre o crédito, destacou que o banco prevê melhora gradual da demanda. O Banco do Brasil encerrou nesta quinta a temporada de balanços dos grandes bancos ao reportar lucro líquido ajustado de R$ 1,747 bilhão no quarto trimestre de 2016, cifra 34,0% menor que a registrada um ano antes, de R$ 2,648 bilhões. O resultado ficou abaixo da projeção de analistas. Entretanto, alguns não incluíram a revisão de guidances que a instituição anunciou no final do ano passado, comprometendo o comparativo. Em 2016, o lucro líquido ajustado do BB alcançou R$ 7,171 bilhões, retração de 38,2% em relação a 2015. Para este ano, o banco incluiu em seus guidances uma projeção para o lucro, de entre R$ 9,5 bilhões e R$ 12,5 bilhões. No piso do guidance, representará aumento de 31,94% e, no teto, de 73,61%. Core business O Banco do Brasil não pretende vender ativos que são core business e geradores de receitas, reafirmou Caffarelli. “A tendência é que as receitas com tarifas e serviços ocupem mais espaço hoje pertencente ao crédito. Por isso, não pretendemos vender ativos do core business do banco”, destacou o executivo. Na semana passada, o BB anunciou a venda de sua participação de 17,45% no capital da fabricante de silos Kepler Weber para a AGCO do Brasil. O valor da transação foi de R$ 22 por ação. O BB, via o BB-BI, possui 4.592.650 ações ON da companhia, o que resulta num valor total de pouco mais de R$ 100 milhões. Caffarelli disse que outras discussões de venda de ativos que não são core business do banco estão em andamento, mas não mencionou quais seriam esses negócios. Inadimplência O Banco do Brasil espera que seu índice de inadimplência, considerando os atrasos acima de 90 dias, alcance estabilidade no segundo semestre deste ano, de acordo Caffarelli. “Tivemos questões pontuais em inadimplência no ano passado em grandes empresas e em micro e pequenas empresas”, destacou ele. Caffarelli lembrou que a crise atual já motivou mais de 4 mil pedidos de recuperação judicial para as empresas, enquanto que, na crise de 2009, esse número ficou ao redor de 400 solicitações. A inadimplência do Banco do Brasil, considerando os atrasos acima de 90 dias, melhorou no final do ano passado, após trimestres consecutivos de alta. O indicador foi a 3,29% ao final de dezembro, contra 3,50% em setembro. Em relação a um ano antes, porém, quando estava em 2,23%, houve piora de 1,06 ponto porcentual. O presidente do BB reforçou que o banco foi “extremamente conversador” ao final do ano passado em termos de constituição de provisões para devedores duvidosos, as chamadas PDDs. As despesas com provisões para devedores duvidosos (PCLD) do Banco do Brasil totalizaram R$ 7,486 bilhões no quarto trimestre, aumento de 7,1% em relação ao mesmo período do ano passado, de R$ 6,991 bilhões. Em relação ao terceiro trimestre, quando alcançaram R$ 6,644 bilhões, esses gastos aumentaram 12,7%. O saldo de PDDs no quarto trimestre foi a R$ 31,552 bilhões, cifra 33,3% maior antes os R$ 23,671 bilhões vistos um ano antes. Já na comparação com os três meses anteriores, quando o saldo era de R$ 31,056 bilhões, foi visto incremento de 1,6%. O índice de inadimplência de curto prazo, que considera atrasos acima de 15 dias e no máximo até 60 dias, ficou em 5,67% ao final de dezembro, menor que o de 5,94% de setembro, mas acima do visto um ano antes, de 3,90%. Banco Votorantim O presidente do Banco do Brasil afirmou que o foco para o banco Votorantim é apenas aumentar a rentabilidade da instituição. No passado, fontes comentaram sobre a possibilidade de o BB se desfazer da sua fatia no âmbito da reorganização que desenhou para ser mais rentável.”Vamos fazer todos os nossos esforços juntamente com nosso sócio no Votorantim para melhorar a rentabilidade do banco”, afirmou. O retorno (ROE, na sigla em inglês) do Votorantim ficou em 5,8% no quarto trimestre ante 5,5% no terceiro e 4,1% em um ano. No fechamento de 2016, a rentabilidade alcançou 5,2%, redução de 1,1 ponto porcentual em relação ao ano de 2015, de 6,3% De acordo com Caffarelli, o Votorantim pode gerar uma maior sinergia com o BB. Destacou ainda que o banco está focado no segmento de varejo e também opera em operações de forma sindicalizada com a instituição. O Votorantim registrou lucro líquido de R$ 119 milhões no quarto trimestre, cifra 54,5% maior do que a registrada em um ano, de R$ 77 milhões. Na comparação com os três meses anteriores, a alta ficou em 6,5%. No ano de 2016, o lucro líquido do Votorantim encolheu 11,6%, para R$ 426 milhões ante R$ 482 milhões em 2015. A carteira de crédito ampliada do banco foi a R$ 60,880 bilhões ao final de dezembro, aumento de 1,4% frente a setembro e queda de 7,1% em um ano. Brasilcap O presidente do Banco do Brasil afirmou que a Operação da Lava Jato deflagrada nesta quinta incluiu busca e apreensão na Brasilcap, empresa de títulos de capitalização do conglomerado. “A Brasilcap está à disposição das autoridades e não coaduna com qualquer tipo de prática ilícita”, destacou ele. Caffarelli disse que o Banco do Brasil está levantando informações sobre a operação que envolveu o presidente da Brasilcap, Márcio Lobão. Explicou, contudo, que ainda não era possível informar eventuais medidas do banco, uma vez que a instituição não possui dados detalhados. “Não temos conhecimento do assunto. Aguardamos o desfecho da operação”, acrescentou. A Polícia Federal cumpriu na manhã desta quinta-feira mandados de busca e apreensão expedidos pelo ministro Edson Fachin, novo relator da Lava Jato no Supremo Tribunal Federal. Batizada de Leviatã, a operação tem como alvo o filho do senador Edison Lobão (PMDB), Márcio Lobão e Luiz Otavio Campos, ex-senador apadrinhado do senador Jader Barbalho (PMDB). O nome escolhido pela PF se inspira na obra do filósofo político Thomas Hobbes. Nela ele afirmou que o “homem é o lobo do homem”, comparando o Estado a um ser humano artificial criado para sua própria defesa e proteção, pois se continuasse vivendo em Estado de Natureza, guiado apenas por seus instintos, não alcançaria a paz social.