MILÃO, 15 MAR (ANSA) – O italiano Cesare Battisti alegou, em depoimento, que a Polícia Federal brasileira o conduziu para o avião que o extraditou da Bolívia. Ele tenta fazer com que sua pena na Itália, que é perpétua, seja reduzida a 30 anos devido ao acordo de extradição com o Brasil.   

Battisti foi ouvido ontem (14), pela primeira vez desde que chegou à Itália, em janeiro. Ele prestou depoimento na penitenciária de Oristano, onde cumpre pena perpétua por quatro assassinatos cometidos na década de 1970, quando era membro do grupo Proletários Armados pelo Comunismo (PAC). Após 40 anos de fuga, e com a extradição autorizada pelo Brasil, Battisti foi preso em 12 de janeiro, na Bolívia.   

No depoimento, Battisti, que é considerado “terrorista”, contou que estava “subindo a escada” de um avião da “Polícia Federal brasileira”, conduzido por “sete agentes” brasileiros, quando “houve uma espécie de reunião secreta” entre os agentes brasileiros e bolivianos. “Ao fim, o avião brasileiro partiu sem mim e, depois, chegaram os policiais italianos”, afirmou. Segundo seu advogado, Davide Steccanella, “as modalidades referidas pelo detento, transferido praticamente na pista do aeroporto [de Santa Cruz de la Sierra], de um avião brasileiro para um italiano, confirmam que se tratou de uma mera entrega direta à polícia italiana de um sujeito extraditado pelo Brasil”. “Dessa forma, deve ser aplicada a pena da extradição”, pediu Steccanella, que defende Battisti junto com o advogado Gianfranco Sollai.   

No depoimento, Battisti também disse que viajou à Bolívia em dezembro de 2018 para encontrar “colegas para o projeto de um livro”. “Fiquei na Bolívia no Natal e no Ano Novo. Fui preso em 12 de janeiro”, relatou.   

“Eu residia no Brasil com documentos legais. Trabalhava e tinha uma família (esposa e filho). Trabalhava no ambiente editorial, como escritor e tradutor. Escrevia artigos jornalísticos sobre eventos culturais. Os meus documentos me permitiam sair do Brasil e isso aconteceu várias vezes. Estive na Argentina, no Uruguai e na Bolívia”, defendeu-se.   

Battisti foi interrogado devido ao pedido da defesa para comutar sua sentença de prisão perpétua para 30 anos de cadeia. A decisão da Corte de Apelação de Milão deve ser anunciada na próxima segunda-feira (18), mas caberá recurso. O pedido da defesa de Battisti se baseia em um acordo de extradição entre Brasil e Itália, que prevê que pessoas entregues para a nação europeia cumpram pena máxima de acordo com a legislação brasileira, que é de 30 anos. A defesa tenta provar que Battisti foi extraditado pelo Brasil, enquanto as autoridades italianas alegam que ele foi expulso da Bolívia.   

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Steccanella afirma que, devido à ausência de documentos relativos à entrega de Battisti à Itália, o único acordo de extradição válido seria aquele com o Brasil. (ANSA)


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