Me encontro fora do País, ufa!, para uma longa temporada no exterior, onde o governo – sim, imperfeito como todos – não tenta matar os cidadãos disseminando coronavírus em ‘motociatas’ assassinas.

Por aqui, o presidente da República – sim, imperfeito como todos – não conspira de forma clara e contumaz com a morte; não estimula transgressões sanitárias e não arranca a máscara do rosto de uma criança.

A sociedade onde estou – sim, imperfeita como todas – não segue bovinamente o comando homicida e suicida de trastes como o verdugo do Planalto, Jair Bolsonaro, travestidos de presidente da República.

No máximo, de vez em quando, admite um lunático desequilibrado como o bufão Donald Trump, mas tão logo fique claro de quem se trata, não perde um segundo antes de enviá-lo para a profundeza do quinto dos infernos.

Em Nova York, uma das cidades mais ricas e cosmopolitas do mundo – sim, imperfeita como todas – dentre outras virtudes, a tolerância com a intolerância não é aceitável. É vigiada. É combatida com vigor.

PARADA GAY

Neste fim de semana celebra-se o que chamamos de ‘orgulho gay’ no Brasil. Por aqui, ‘Gay Pride’. Ou melhor, ‘LGBTQ (e sei lá mais quantas letras) Pride’. Uma das maiores festas do mundo não irá ocorrer como de costume.

Mas não por causa de um Silas Malafaia ou Jair Bolsonaro da vida. Não por causa de um Adolf Hitler ou um aiatolá iraniano qualquer. Não por causa de um babaca supremacista de merda escondido na multidão.

Não irá ocorrer, como de costume, porque ao contrário de irresponsáveis, a despeito da situação favorável em relação à pandemia do novo coronavírus, os ‘new yorkers’ não querem o mal do próximo.

Por causa da Covid-19, uma série de eventos com público reduzido e no formato ‘híbrido’ terá lugar por toda a cidade. Além disso, a tradicional parada contará com menos gente e apenas com quem já foi vacinado.

CIVILIZAÇÃO

Não há janela, vitrine, carro ou ônibus que não estampem um belo arco-íris, símbolo do movimento NYC PRIDE, que desde os anos 1970 luta, não apenas pelos direitos dos ‘gays’, mas contra toda forma de preconceito.

Os maiores bancos, as maiores empresas de tecnologia, os ícones do capitalismo mundial – leia-se: quem gera riqueza, desenvolvimento e progresso – apoiam, financiam e participam do movimento.

Eu pergunto: quem contribui para um mundo e uma vida melhores? Tesla, Facebook, Microsoft, Citi, Amazon, Pfizer!!, ou um bando de sedizentes ‘homens de Deus’ que surrupiam o dinheiro dos fiéis?

Quem gera empregos, distribui renda, paga impostos (algo que os templos religiosos desconhecem), fabrica carros, computadores, celulares, vacinas, e remédios? Silas Malafaia? Bolsonaro?

BASTA DE IGNORÂNCIA

Exemplos de brutalidade e selvageria, em maior ou menor grau, advindos de falsos moralistas ou mercadores da fé, que seduzem a manada carente, raivosa e recalcada, não podem mais ser ignorados ou tolerados.

Não é mais possível que um pastor evangélico, ou um padre católico, ou ainda, um rabino ultraconservador, em nome de Deus (Deus?) estimulem o ódio e o preconceito gratuito contra quem quer que seja.

Não dá para fingir não ver um fortão tatuado assediar uma moça que passa em frente à sua mesa do bar. Com que direito este babaca assobia, faz gracejos ou mesmo toca em quem nem sequer o conhece?

Como também não dá mais para admitir piadas com pretos, homossexuais, nordestinos, pobres e tantos outros grupos, simplesmente por serem – que, aí sim, piada! – diferentes de nós. Diferentes em quê, cara pálida?

Na cor da pele? Na estatura? No jeito de se relacionar afetiva e sexualmente? Ora, vão te catar, primatas que não conheceram a evolução da espécie. Enfurnem-se nas cavernas e chafurdem na lama do pântano.

REVOLUÇÃO FRANCESA, JÁ

Liberté, Egalité, Fraternité! Liberdade, igualdade, fraternidade! Tô me lixando para o resultado, seja em curto, médio e longo prazos da Revolução Francesa. Que queimem no colo do capeta os jacobinos e Torquemadas. O papo aqui é outro!

O lema é perfeito e traduz os sentimentos de quem preza pela vida, prima pelo respeito e, verdadeiramente, e não no discurso apenas, quer o bem do próximo. E não. Não sou monge budista ou padre franciscano.

Estou muito mais para, no âmbito geral, um Malafaia. Obviamente que me refiro à questões, digamos, de comportamento. Porém, ao contrário do vigarista bolsonarista, servo da cloroquina, não sou um conservador de araque.

Não prego honestidade e depois tomo dinheiro de fiel. Não prego o amor e depois ataco dois homens se beijando. Não me digo ao lado do povo e mamo nas tetas do Estado. E, de novo!, eu pago impostos.

Quem, verdadeiramente devoto de uma religião, pode pregar o que pregam esses imorais da fé? Se eu fosse ditador supremo do Brasil, faria obrigatória a prática da oração de São Francisco de Assis. E repito: estou longe de ser franciscano!!

BURGER KING

‘Taqueopariu, Ricardo. Tudo isso para falar da campanha da lanchonete?’. Sim, meus bravos leitores que chegaram até aqui. E não. Pois não se trata somente da bela mensagem da propaganda em oposição ao maldito discurso do falso pastor.

O Burger King, para quem não sabe, é uma das maiores cadeias de Fast Food do mundo. E é de brasileiros! É do trio da 3G (uma das maiores multinacionais do ramo de bebidas e alimentos): Jorge Paulo Lemann, Beto Sicupira e Marcel Telles.

Além do BK, os caras são donos da Heinz – sim! O ketchup. Da Lojas Americanas. De uma penca de cervejas que bebemos no Brasil e no mundo. Gente que conquistou o planeta sem tirar um tostão da fé das pessoas ou de seus impostos.

O trio, como as empresas que citei no início deste ‘livro’, é o que leva o mundo adiante, à evolução constante. Daí, refaço a pergunta: quem é mais importante para a humanidade? Telles, Lemann e Sicupira ou Silas Malafaia?

CRIANÇAS

A campanha do BK, que causou a indignação do trombadinha de altar, mostra crianças dizendo o que pensam sobre relacionamentos homoafetivos. É maravilhosa, pois mostra a essência do ser humano.

Para o servo do capeta, que se diz servo de Deus, isso de certa forma ‘aliciaria’ as crianças. ‘O Burger King é nojento! Nada mais que inescrupuloso é deturpar a sexualidade das crianças. Deixa as crianças serem crianças’. Argh!

Deixe de ser cretino! Ou vagabundo! O que deturpa a sexualidade de uma criança é ser exposta a um pedaço de escória como você. Deixar crianças serem crianças significa justamente não entupir suas cabecinhas com nossas crenças e valores.

Você, Silas Malafaia, e boa parte dos achacadores de sua estirpe, ao lado de outra maldita seita que se formou, após a ascensão ao Poder do homicida do Planalto, é que emporcalham mentes e corações inocentes.

São vocês, em outra época, os responsáveis pelo holocausto, pela escravidão, por uma mulher não poder votar ou mesmo trabalhar, pelo genocídio de crianças com necessidades especiais, pelo apedrejamento, até a morte, de uma adúltera.

POR FIM, MAS NÃO MENOS IMPORTANTE

Já escrevi anteriormente, que tenho amigos íntimos e queridos gays. Que tenho um sócio gay. Que a filha de um outro sócio – uma advogada já espetacular, apesar da idade – é lésbica. Que tenho um primo gay. Sim, mas e daí?

Daí, que ‘vivo na pele’ essa opressão – desculpem!!! – escrota, que gente ordinária como Silas Malafaia e Jair Bolsonaro, dentre tantos outros ícones da selvageria, fazem questão de manter ardente no Brasil.

Por quê? Porque ganham votos e centenas de milhões de reais. Unicamente por isso! Ou vocês acham mesmo que Malafaia está preocupado com as crianças? Ou o pai do senador das rachadinhas e da mansão de seis milhões de reais?

O lema da Pride Parade deste ano é: ‘The fight continues’. ‘A luta continua’. É isso, meus caros e minhas caras. A civilização precisa combater a peste do preconceito como estamos combatendo o vírus. Aliás, ‘estamos’ é muita gente.

Coincidentemente – ou não – a mesma espécie de selvagens que demoniza vacinas, defende ervas milagrosas, promove e incentiva aglomerações e expõe crianças à doença, retirando-lhes as máscaras, é a que ataca o Burger King.

‘I wish you were here’. ‘Gostaria que estivessem aqui’. Eita, David Gilmour! O pôr do sol está espetacularmente especial. Hoje é sexta-feira. Shabat Shalom! E bom final de semana a quem merece. Fui. NYC está aberta, linda e cheia de vida.