Híbrido entre teatro e experimento visual, adaptação do livro de Aline Bei (mais de 20 mil exemplares vendidos e na lista dos best-sellers da Nielsen PublishNews) terá sessões online. Trata de perdas na vida de uma mulher dos 8 aos 52 anos. Com idealização e atuação de Helena Cerello, direção de Nelson Baskerville e música original de Daniel Maia, a peça virtual terá edição de cenas ao vivo. Sustentada por um cabo invisível, Helena Cerello utiliza a técnica de dança aérea para ensaiar uma cena da peça O PESO DO PÁSSARO MORTO, pendurada em uma árvore do jardim de um sítio em Itirapina, interior de São Paulo, onde passa a quarentena. A quilômetros de distância, em São Paulo, Nelson Baskerville dirige a atriz pela tela do computador.

 

Adaptação teatral de O Peso do Pássaro Morto, de Aline Bei, obra vencedora do Prêmio São Paulo de Literatura de 2018, a nova criação era para ser encenada ao vivo, no palco de um teatro. Com a pandemia, atriz e diretor tomaram a atitude arrojada de desafiar novas formas estéticas e experimentar criar para a internet. Assim, a peça estreia dia 22 de agosto, sábado, e fará sessões virtuais aos sábados e domingos às 16h, na plataforma digital Sympla, através do aplicativo Zoom.  O romance de estreia da autora trata da vida de uma mulher dos 8 aos 52, desde as singelezas cotidianas até as tragédias que persistem, uma geração após a outra. Um texto denso e leve, violento e poético, onde acompanhamos uma mulher que, com todas as forças, tenta não coincidir apenas com a dor de que é feita. A história leva o leitor a acompanhar como a criança lida com a morte, uma adolescente com a violência sexual e a maternidade solo, e como uma adulta encara as perdas e a solidão.

 

Helena e Nelson optaram por dar voz à menina da infância à idade adulta e conceberam a montagem com cenas ao vivo e pré-filmadas. No primeiro caso das cenas ao vivo, elas são interpretadas e filmadas pela própria atriz, retratando a personagem narradora na adolescência. As cenas pré-filmadas contam com a luz natural do ambiente externo do sítio, e abordam diferentes períodos da vida da protagonista. Esta escolha se deu em função da tecnologia e das possibilidades de sinal do Wi-Fi e celular no local. Com duração de 1 hora, a criação conta com o trabalho do músico e autor da trilha sonora original Daniel Maia, atuando também como sonoplasta e editor de imagens, responsável pelos cortes ao vivo diretamente de seu estúdio em casa, como se estivesse numa ilha de edição ao vivo.

 

Ensaio ao pôr do sol e desafio do teatro na internet

 

Atriz e diretor não se veem há quase dois anos e têm passado as tardes juntos como se estivessem no mesmo ambiente. Desde o trabalho de mesa, têm se encontrado assim.

 

“Helena, você me ouve? Se você deixar o maquinário aparente do aparelho aéreo vai ficar lindo. A personagem Carla é quase como a Beatriz, uma atriz de circo, sugere o encenador.”

 

Com uma capa de veludo azul, Helena conta que quando sobe na corda, na altura certa em que vai filmar com seu celular, não consegue sair sozinha. “Um dia fiquei presa uma hora embaixo da árvore, pois não conseguia me soltar sozinha”, conta. “Às vezes o cachorro entra e Helena fala com o cachorro. Os filhos vêm pedir comida, paramos o ensaio pra ela fazer o lanche pra eles”, acha graça Nelson, “parece um filme de Fellini”.

 

O desafio de fazer teatro na internet move a dupla. “Tem gente correndo para aprender como se mexe nisso, fazendo cursos; outros estão parados, esperando o teatro voltar. Talvez não volte mais do jeito que era. Isso não é cinema, nem televisão, nem teatro, e é fascinante descobrir novas formas de se comunicar”, empolga-se Baskerville. Helena também testa o novo meio e sente estranhamento ao falar a palavra “espetáculo”, tem usado mais o termo “experimento teatral”. “É inusitado, sou eu me filmando pelo celular, é como se eu fosse o câmera, o iluminador e a atriz ao mesmo tempo, é preciso muita concentração, sinto que é importante seguir a intuição e a direção do olhar do Nelson, ele me traz com sensibilidade o olho do espectador”, revela, mostrando como vai manipular a câmara ao vivo. “É um trabalho de criação muito forte entre nós”, comenta o diretor.

 

Experimento cênico-visual

 

A companhia VADABORDO assina a realização da peça. Formada por Helena Cerello e pelo ator e palhaço Raul Barretto (marido da atriz e responsável pela coordenação de produção do atual trabalho), a companhia cria obras híbridas. O solo “O Peso do Pássaro Morto” segue esse conceito de mistura de linguagens. O romance de Aline Bei também contém traços de hibridismo ao transitar pela prosa e a poesia, com forte vocação para uma adaptação dramatúrgica. “Assim como o livro, o espetáculo também se caracteriza como algo inevitavelmente híbrido, uma experiência cênica visual. Será visto algo ao vivo e pré-filmado, feito via streaming, com características teatrais e audiovisuais”, diz Helena.

 

Algumas técnicas do universo circense, como o ilusionismo, a mágica, precisaram ser adaptadas para o ambiente virtual. “São as cerejas do bolo, usamos estes recursos na narrativa para evocar imagens de leveza, voo e transposição da gravidade, presentes no livro”, conta a atriz. Ela espera contar com a presença do manipulador das técnicas de ilusionismo assim que o espetáculo ganhar o palco. Também foi necessário simplificar o figurino, a cargo com sensibilidade de Claudia Schapira, concebido também à distância.

 

Adaptação e colaboradores

 

Helena aproveitou os intervalos de uma filmagem no Pantanal, em setembro do ano passado, onde passou 40 dias, para começar a adaptação dramatúrgica do livro, com a colaboração, nesta primeira versão, da atriz Cristiana Britto. As duas estudaram parágrafo por parágrafo, durante um mês, procurando as melhores combinações. “Foi extremamente doloroso fazer os cortes porque o livro é maravilhoso. Nosso maior trunfo é a palavra, o livro.”

 

Na volta para São Paulo, logo no início do processo os ensaios foram interrompidos pela pandemia. Nelson Baskerville, o segundo colaborador na adaptação, entrou no projeto em meados de abril para encarar a tarefa de organizar as ideias e dar uma identidade ao espetáculo. Helena destaca a sensibilidade, objetividade e o senso de humor do diretor, que aceitou prontamente o convite. “Depois de dois dias, a gente já estava ensaiando duas horas por dia. Nelson é muito parceiro. Um dia mostrei tudo e ele foi receptivo, enxergou o potencial da história, principalmente neste momento em que vivemos.”

 

A autora Aline Bei acompanha o processo como ouvinte presente e silenciosa. As duas são amigas desde o tempo do curso de teatro no Célia Helena, onde foram alunas de Nelson Baskerville. A autora recebeu com emoção a ideia da adaptação. “Ainda mais tendo a Helena e mais tarde o Nelson no processo. Como fui atriz e sempre amei o teatro, ter o livro adaptado era um sonho. Estou muito ansiosa pra ver.” Helena teve liberdade no trabalho. “Ela me deu carta branca para fazer a adaptação. Sempre generosa, logo no início teve uma reação de encantamento com a possibilidade de o livro virar um espetáculo teatral. Gosto de dizer que Aline é uma evidência e um mistério. O talento dela é impactante, mas não tente desvendá-la. Ela vai pousar na sua mão, leve, te olhar profundamente e escapar antes de você conseguir elaborar todas as respostas.”

 

Sobre perdas e dores

 

Sobre a história, Helena comenta que ela faz o espectador olhar para suas dores. “Tem uma alquimia, uma poesia nas palavras da autora que convida o leitor a mergulhar fundo nelas, e ficar ali um tempo, a tempo de se sentir.” Livro disseca a história de uma menina que vira mulher e todas as perdas pelas quais essa personagem passa e nos convida a olhar para este momento de pandemia como uma possibilidade de ressignificação da vida. “É como se estivéssemos todos reaprendendo a viver.” Helena Cerello ficou impactada pela leitura do livro, vislumbrando as imagens. “O livro me tocou muito, principalmente na questão da oralidade, parecia que a voz da personagem chegava direto na minha alma. A teatralidade se materializou principalmente na voz de uma criança sofrendo uma perda e não encontrando a escuta necessária para lidar com ela.”

 

O desenrolar dos acontecimentos, até a idade adulta da personagem, seguiu envolvendo Helena. “Aline Bei encontra as palavras certas ao falar sobre perdas, o que nesse momento pandêmico se torna necessário e urgente. A leitura do livro nos abre, como se fôssemos um livro também e nos convida a olhar para as nossas dores e às dores dos outros com escuta, num exercício de empatia. Por mais cortantes que sejam as situações do livro, a sensação que dá é que, ao tocarmos nas dores, elas respiram. Como se elas dissessem obrigado por me verem, eu estou aqui, e por alguns segundos elas se tornam mais leves.”

 

ALINE BEI – autora

 

Escritora brasileira. Depois de ganhar o Prêmio Toca, criado pelo escritor Marcelino Freire, escreveu em 2017 seu primeiro romance, O Peso do Pássaro Morto, pela Editora Nós. Com ele, foi a vencedora do Prêmio São Paulo de Literatura de 2018 na categoria Melhor Romance de Autor com Menos de 40 anos.

 

HELENA CERELLO – atriz

 

No teatro concebeu a peça “Il Viaggio (di G. Mastorna)”, inspirada em roteiro inédito de Federico Fellini e trabalhou como atriz com os grupos Cemitério de Automóveis (Mario Bortolotto), Parlapatões, Pia Fraus, entre outros. Integra a Cia Le Plat du Jour (companhia teatral conhecida pela capacidade de reinventar clássicos da literatura infantil com humor como atriz, coreógrafa e colaboradora na criação dos espetáculos, sendo eles “ALICE no País das Maravilhas” (espetáculo indicado para o Premio Coca-Cola FEMSA de 2009 na categoria inovação do teatro e as artes circenses) e CINDERELA LÁ LÁ LÁ (Prêmio APCA de melhor espetáculo adaptado de conto clássico; São Paulo de melhor texto adaptado – 2015; Indicação ao Prêmio de Melhor atriz no Prêmio Zilka Salaberry). espetácu lo adapt ado de conto clássico e Prêmio São Paulo de melhor texto adaptado – 2015).

 

Indicação ao Prêmio de Melhor atriz no Prêmio Zilka Salaberry. Foi indicada ao rêmio APCA juntamente com Raul Barretto por ter levado ao teatro as obras de Hundertwasser. No cinema, como atriz, atuou em diversos curtas e no filme “My Hindu Friend” de Hector Babenco e em “Erotic Man” de Jorgen Leth, produção Lars Von Trier. Na televisão esteve no elenco das séries “O Negócio” de direção de Michel Tikhomiroff (HBO), “Família Imperial” direção de Teo Poppovic (Canal Futura), em “Como Aproveitar o Fim do Mundo” direção de José Alvarenga (Rede Globo), “Trago Comigo” de Tata Amaral (TV Cultura), “No Estranho Planeta dos Seres Audiovisuais” direção Cao Hemburguer (Canal Futura), “Alice” direção de Karin Ainouz (HBO) e “Descolados” direção de Luis Pinheiro (MTV). Publicou o romance “Ninguém abandona o paraíso pela porta da frente”pela editora Quelonio.2018.

 

NELSON BASKERVILLE – diretor  

 

Santista, é ator, diretor e autor teatral, além de artista plástico. Tem quatro indicações ao Prêmio Shell de melhor diretor por “As Estrelas Cadentes do Meu Céu são feitas de Bombas do Inimigo”, em 2013; por “Eigengrau”, em 2015, e por “Os 3 Mundos”, em 2018. Ganhador do Shell de 2011 por  “Luis Antonio-Gabriela”, além do Prêmio APCA 2011 de melhor espetáculo, o de melhor espetáculo pelo júri popular do Prêmio Governador do Estado e Prêmio CPT de melhor diretor e melhor conjunto, pelo mesmo espetáculo. Baskerville ainda recebeu indicações ao Shell por melhor texto, cenário e luz em 2011 e por melhor iluminação em 2013 por “As Estrelas Cadentes do Meu Céu são feitas de Bombas do Inimigo”.

 

Como artista plástico teve exposições de suas obras em Guimarães, Portugal, e na Galeria PoP e Dicromatopsia em São Paulo. Atualmente é representado pela Smith Galeria na Nova Zelândia e Galeria Tribo, em São Paulo. Em televisão, atuou na minissérie “Maysa” e nas novelas “Viver a Vida”  e “Em Família”, todas de Manoel Carlos, com direção de Jayme Monjardim. Atuou também nas séries “O Negócio” da HBO; “Carcereiros”, de Eduardo Belmonte, para a Rede Globo, e “Coisa Mais Linda”, na Netflix. Em cinema atuou em “Hebe”, de Mauricio Farias; “O Vendedor de Sonhos”, de Jayme Monjardim, e “Divaldo Franco”, de Clovis Melo.

 

Ficha técnica 

 

O PESO DO PÁSSARO MORTO de Aline Bei.

Idealização e Atuação – Helena Cerello. Direção – Nelson Baskerville. Adaptação Dramatúrgica – Cristiana Britto, Helena Cerello, Nelson Baskerville. Música Original e Edição de Cenas – Daniel Maia. Figurino – Claudia Schapira. Assessoria de ilusionismo – Henry Vargas e Klauss Durães. Participação especial – Aline Bei e Aurora Cerello. Assessoria de imprensa – Fernanda Teixeira – Arteplural. Captação de Imagens – Helena Cerello. Fotos – Aurora Cerello. Assistência de produção – Janayna Oliveira. Participação especial canina – Caramelo e Borges. Arte do flyer – Voctor Grizzo. Redes sociais – Kevin Kachvartanian. Coordenação de Produção – Raul Barretto e Helena Cerello. Realização – Cia. VADABORDO.

 

Serviço

 

Espetáculo O PESO DO PÁSSARO MORTO – Adaptação teatral de “O peso do pássaro morto”, romance de Aline Bei, vencedor do Prêmio São Paulo de literatura 2018. Estreia dia 22 de agosto, sábado, às 16 horas. Ensaios abertos – a partir de 14 de agosto. Temporada – Sábados e domingos às 16h, até 27 de setembro. Duração – 50 minutos. Classificação indicativa – 16 anos. Horário – sábado e domingo às 16h. Ingressos – 1. Sinal (valor gratuito, quantidade limitada), demais valores (R$ 20, R$ 30, R$ 50). Duração – 50 minutos. Sessões virtuais – aos sábados e domingos às 16h, na plataforma digital Sympla, através do aplicativo Zoom. Para comprar – https://www.sympla.com.br/opesodopassaromorto

 

Parte da arrecadação será destinada a CEDECA Casa Renascer (ONG que luta pelos direitos de crianças e adolescentes em situação de risco, em especial vítimas de violência sexual).

 

IMPORTANTE

1) Baixar o aplicativo Zoom https://zoom.us

2) Fazer um cadastro e logar no site https://www.sympla.com.br

3) Acessar a área Meus ingressos e clicar em ACESSAR TRANSMISSÃO (disponível 15 minutos antes do horário de início do evento).