Como enfrentar os cartéis de drogas em um Equador cada vez mais violento? O candidato presidencial de direita Daniel Noboa propôs nesta terça-feira (22) criar um sistema de prisões em barcos em alto mar para afastar os detentos dos “não violentos” e desconectá-los de suas redes criminosas.

As chamadas “barcas penitenciárias” teriam capacidade para “300 ou 400 presos” e seriam localizadas “em águas equatorianas”, a 80 milhas da costa. Contariam com “assistência das Forças Armadas para protegê-las”, explicou o empresário milionário à imprensa estrangeira na cidade portuária de Guayaquil.

Noboa, de 35 anos, alcançou um surpreendente segundo lugar nas eleições gerais antecipadas no domingo, com 23% dos votos. Disputará o segundo turno em 15 de outubro contra a candidata de esquerda Luisa González (34%), apoiada pelo ex-presidente socialista Rafael Correa (2007-2017).

Em um país mergulhado na violência e encurralado pelos cartéis de tráfico de drogas que usam as prisões como centros de operações, Noboa levanta a bandeira da segurança pública como a principal necessidade do Equador.

“Temos um problema que é o tempo. Construir uma prisão leva muito tempo, pelo menos dois anos para fazê-la. Já consertar adequadamente as que temos e incorporá-las a um sistema de prisões em barcos pode ajudar a isolar os criminosos mais violentos”, explicou Noboa anteriormente em uma entrevista para o canal de televisão Ecuavisa.

Dessa forma, “protegemos a integridade física dos não violentos e isolamos os violentos, muitos dos quais cometem crimes a partir das prisões”, acrescentou.

Segundo os cálculos de Noboa, o aluguel das barcas prisionais custaria 8 milhões de dólares (cerca de 40 milhões de reais na cotação atual) por ano cada uma, se adquiridas por contratos de 8 a 10 anos. “Para comprá-las, neste momento, o Equador não tem dinheiro”, afirmou.

Noboa chegou de surpresa ao segundo turno, uma semana após o assassinato do candidato Fernando Villavicencio, que estava em segundo lugar nas pesquisas. Ele é apoiado por forças de direita que pedem uma mão de ferro contra as organizações criminosas, embora insista em se apresentar como um “empresário com coração” e um “social-democrata moderado”.

O outrora pacífico país sul-americano se transformou nos últimos anos no teatro de guerra de cartéis, que impõem um regime de terror com matanças, sequestros e extorsões.

Grupos ligados a cartéis mexicanos e colombianos disputam o controle do negócio de drogas e usam para suas operações as prisões, onde ocorreram massacres que resultaram em mais de 430 detentos mortos desde 2021.

No ano passado, o Equador alcançou um recorde de 26 homicídios por cada 100.000 habitantes, quase o dobro de 2021, e espera-se que a taxa suba para 40 neste ano.

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