Já deve ter passado na sua tela principal (timeline) do TikTok um vídeo do barbeiro Kadu Noah dos Santos, de 32 anos, atendendo crianças autistas, em Itajaí (SC). Uma das imagens que mais repercutiu na plataforma foi a do Miguel, que tem grau severo de Transtorno do Espectro Autista (TEA), “dançando” de um lado para outro enquanto o profissional cortava os seus cabelos. A cena emocionante do pequeno se vendo no espelho com as madeixas menores já conta com 2,1 milhões de visualizações e mais de 167 mil curtidas.

Em entrevista à IstoÉ, Kadu informou que trabalha como barbeiro há quatro anos e não fez nenhum curso preparatório para atender crianças atípicas, apenas corta os cabelos delas sem distinção. “Eu amo demais cortar cabelo, é o dom que Deus me deu. Não atendo crianças atípicas por conta de algum projeto, é apenas o meu jeito de trabalhar”, relatou.

“Depois que o meu vídeo com o Miguel viralizou, virou uma chave. Recebi muitas mensagens de pessoas dizendo que nunca tinham visto nada disso antes e precisavam de mais profissionais assim. Então iniciei um movimento de inclusão que se baseia na divulgação dos atendimentos, para que mais barbeiros vejam que é possível trabalhar com crianças atípicas”, completou.

Isso fez com que Kadu ficasse conhecido tanto na rede social quanto fora dela. Ana Paula dos Santos, de 35 anos, conheceu o profissional quando ele atuava em um estabelecimento próximo da sua casa. Ela contou à IstoÉ que o seu filho Cauã, 14, foi diagnosticado com TEA aos 5 anos.

Um dia Ana Paula viu um conhecido cortando o cabelo com Kadu e ela ficou admirada com o atendimento do profissional. “O Cauã precisava mudar de visual para o seu aniversário deste ano. Então levei ele para o Kadu, que foi extremamente atencioso. Desde então, ele criou laços com o meu filho, conversa com ele e entra no ‘mundo’ dele. O meu filho se sente à vontade para conversar com o Kadu sobre os assuntos dele.”

Antes de conhecê-lo, ela passou por  dificuldades com o filho em algumas barbearias. “Eu levava o Cauã em alguns estabelecimentos, mas os profissionais não tinham experiência nem paciência. Então, por algum tempo, passei a cortar o cabelo dele em casa. Depois, conhecemos uma barbearia que conseguia atendê-lo, mas eu sentia que os profissionais não eram tão atenciosos. Tudo mudou depois que passei o Cauã com o Kadu”, relatou.

“Logo no primeiro atendimento eu senti o carinho, a atenção dele e os cuidados fora do comum. Desde então, o Cauã volta super feliz para casa. Também senti que o meu filho conquistou mais uma independência. Nós mães atípicas somos cheias de inseguranças e dúvidas, mas, quando vi meu filho feliz depois de ter cortado o cabelo, meu coração se encheu de alegria”, completou.

E essa felicidade dos pais também serve de combustível para o barbeiro continuar. “O olhar dos pais é o que mais me motiva para continuar trabalhando dessa forma. É maravilhoso ver a felicidade deles pelo fato de que dessa vez ninguém teve que segurar ou apertar os seus filhos e não teve tanto choro da criança”, afirmou.

Porém ele ressalta que ainda há uma carência de profissionais especializados nos espaços de beleza em geral para atender esse público. Por conta disso, Kadu resolveu oferecer um treinamento humanizado para que os demais barbeiros saibam que é possível cortar o cabelo de crianças atípicas sem fazer com que elas sofram.

“Eu acho que todos os barbeiros do mundo deveriam aprender sobre esse tipo de atendimento, pois eles precisam perceber que crianças com necessidades especiais precisam de um atendimento diferenciado”, concluiu Ana Paula.