A Polícia Civil investiga um tumulto generalizado após a partida entre Santos e Fortaleza na noite de quarta-feira que decretou o primeiro rebaixamento da história do time paulista. A queda da equipe foi sucedida de cenário de guerra nos arredores da Vila Belmiro, com parte da estrutura do estádio destruída, além de veículos queimados.

Policiais militares foram acionados para conter os episódios de violência de torcedores revoltados com o resultado da partida nas ruas que cercam a Vila Belmiro. Segundo a Secretaria de Segurança de São Paulo (SSP), durante a ação, 11 policiais foram feridos e duas viaturas, danificadas.

De acordo com a SSP, seis ônibus e quatro automóveis foram incendiados pelos torcedores, que também avançaram contra os policiais, arremessando garrafas, pedras e fogos de artifício. Ninguém foi preso até o momento.

Os agentes usaram bombas de efeito moral e gás de pimenta para dispersar o tumulto, o que deixou jogadores, comissão técnica, funcionários e imprensa com dificuldade para respirar dentro do estádio, nos minutos seguintes ao apito final. A cavalaria da Polícia Militar também foi acionada para reforçar a segurança e um helicóptero da PM sobrevoou o estádio durante quase uma hora.

O caso foi registrado como dano, lesão corporal e incêndio no Centro de Polícia Judiciária (CPJ) em Santos. O órgão solicitou perícia ao local e aos veículos.

CENÁRIO DE GUERRA

Antes mesmo de Leandro Pedro Vuaden apitar o final do jogo entre Santos e Fortaleza, que rebaixou o time paulista pela primeira vez à Série B do Brasileirão, o clima na Vila Belmiro já dava indícios de como seria a noite na cidade litorânea. O gol de Lucero, que sacramentou a queda santista, foi acompanhado de morteiros, choros e xingamentos de torcedores nas arquibancadas. Ao lado de fora, carros queimados e destruição nas ruas que dão acesso ao estádio.

Os carros incendiados, com uso de bombas e objetos inflamáveis, foram escolhidos aleatoriamente pelos torcedores, segundo apurou o Estadão. A reportagem flagrou três veículos completamente queimados nos arredores do estádio e outros dois depredados. Um dos automóveis pertencia a familiaraes do atacante colombiano Stiven Mendoza. O jogador não entrou em campo nesta quarta-feira e viu do banco de reservas o primeiro rebaixamento da história do Santos.

Outro carro queimado era do delegado da partida, Wilson Roberto Santoro. Segundo relatório da escala de delegados da CBF, Santoro não atuava em uma partida na Vila Belmiro desde junho deste ano. Os veículos estavam parados na Rua Tiradentes, perto de fica estacionado o ônibus que leva a delegação ao estádio. Também houve um ônibus queimado na Praça da Bíblia, próxima ao local da partida.

No gramado da Vila Belmiro, percorrido pela reportagem do Estadão ao término do jogo, foi possível observar uma série de objetos atirados por torcedores. Quem pisou no campo teve de desviar de cadeiras arrancadas das arquibancadas, garrafas, latas, copos plásticos, calçados e até chinelos. Além disso, o vidro de um dos guichês do estádio foi totalmente destruído.

“TIME SEM-VERGONHA”

Depois que a queda foi consumada, “time sem-vergonha” foi a ofensa mais leve que os atletas ouviram enquanto ainda estavam sentados no círculo central do gramado, antes de serem escoltados até o vestiário por seguranças e policiais. “Time sem-vergonha” foi também a frase pichada no muro do Centro de Treinamento dos Meninos da Vila, usado pelos atletas das categorias de base, na Avenida Martins Fontes, no bairro Sabó.

O fogo ateado em ônibus e carros afetaram a fiação de uma rede de internet por fibra na cidade e deixou residências sem energia elétrica em pontos do município. Equipes de empresas de internet iniciaram o conserto dos estragos no Canal 1 na manhã desta quinta.

Procurada pelo Estadão, a Prefeitura de Santos não se manifestou sobre a destruição de alguns pontos da cidade até o momento. Caso se manifeste, a reportagem será atualizada.