O governador do Pará, Helder Barbalho, defendeu a exploração de petróleo na Foz do Amazonas, no Amapá, e disse ser necessário o bom senso nas discussões sobre a exploração de combustíveis fósseis. Em entrevista à ISTOÉ, o paraense reforçou a dependência do país à exploração petrolífera, mas afirmou ser necessário avançar no diálogo sobre a transição energética.
O tema é um dos principais pontos de impasse entre a política brasileira e ambientalistas, que criticam a exploração na Margem Equatorial, próximo da costa amapaense. Especialistas afirmam que o avanço da retirada de petróleo na região poderá causar danos à fauna e à flora, além de impactar o ecossistema.
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Para Helder, o Brasil ainda não consegue abrir mão da exploração de combustíveis fósseis, mas defendeu uma pesquisa mais aprofundada sobre a exploração na região Amazônica. Ele ainda criticou os questionamentos de especialistas na região Norte do país, mas o esquecimento de debates sobre a exploração de petróleo na praia de Copacabana, no Rio de Janeiro.
“Essa discussão precisa ser pautada de forma serena. Nós podemos ou não podemos abrir mão deste ativo de riqueza no dia de hoje? Ou nós vamos fazer uma transição para conseguir garantir outras matrizes de energia de tal maneira que nós possamos, aí sim, ser capazes de dizer, ‘eu abro mão do combustível fóssil porque eu tenho outras alternativas energéticas’. Essa não é a realidade de hoje”, afirmou.
“Acho que são coisas que precisam ser colocadas de maneira clara. Se for a exploração em si, pressupõe, primeiro, capacidade da Petrobras de mostrar que deseja pesquisar e que tem capacidade de demonstrar que essa pesquisa é ambientalmente correta. Apresentado isto, se deve autorizar que seja feito. Agora, se a discussão é se sou contra ou sou a favor do combustível fóssil, acho que nós precisamos aprofundar este debate para compreender que, neste momento, o Brasil ainda precisa de combustível fóssil para que o país possa continuar se desenvolvendo”, completou.
O tema voltou à tona após o Senado aprovar o projeto que afrouxa regras para a obtenção do licenciamento ambiental. O texto prevê a criação de um licenciamento especial, com validade de 12 meses, que seria destinado para obras estratégicas para o governo federal. É o caso da exploração de petróleo na margem equatorial.
Enquanto o Ministério do Meio Ambiente tem se esforçado nos bastidores para segurar o avanço da medida, o Palácio do Planalto, pressionado pelo presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União Brasil-AP), já deu o aval para a exploração. Além de defender a medida, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) chegou a cobrar publicamente o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) para liberar a proposta enviada pela Petrobras, o que aconteceu no começo deste ano.
Mesmo com o avanço nos debates, Helder Barbalho pede maior diálogo e equilíbrio entre a proposta do governo federal e as críticas de ambientalistas, que apontam a sinalização contrária do país às iniciativas previstas para a COP30. Na visão dele, há uma contaminação ideológica em torno do tema, prejudicando as conversas e afastando questões técnicas.
“Acho que nós precisamos ter bom senso e diálogo. Nós não podemos, por um lado, deixar passar a boiada, fazendo um libera-geral a pretexto da busca do desenvolvimento, e precisamos, ao mesmo tempo, ter bom senso de entender que aquilo que se demonstre dentro dos parâmetros ambientais possa desenvolver as regiões. Portanto, eu defendo que possamos ter o equilíbrio entre as partes, para que aquilo que possa conciliar os interesses, possa ser implementado na Amazônia e no Brasil”, ressaltou.
O paraense minimizou as possibilidades de pressão internacional sobre o tema e citou que países como França e Noruega também financiam medidas climáticas com a exploração de combustíveis fósseis.
“O Brasil deve ter autonomia. A Noruega não tem autoridade para cobrar o Brasil de não fazer exploração de combustível fóssil. A Noruega explora combustível fóssil, inclusive a indústria petrolífera da Noruega hoje é o que financia o fundo Amazônia. A França não tem autoridade para cobrar do Brasil que abra mão de combustível fóssil porque ela tem, inclusive, operações na Guiana e também na região das suas colônias que relacionam-se com a Amazônia que, da mesma forma, também não se pode analisar dessa maneira”, rebateu.
Leia a entrevista completa com Helder Barbalho
ISTOÉ: Belém vai receber o maior evento climático realizado pela ONU e claro que já está tendo os efeitos lá em Belém. Eu queria saber como está essa reta final para receber a COP30.
Helder Barbalho: Primeiro nós estamos na fase de conclusão das obras de infraestrutura para preparar a cidade, fazendo com que a oportunidade do evento possa trazer para Belém obras de mobilidade urbana, novas avenidas, equipamentos de qualidade de transporte coletivo, investimentos em saneamento, macrodrenagem, novos parques urbanos que permitem com que a cidade possa ter um ambiente de equipamentos turísticos que criem uma nova vocação econômica a partir do ecoturismo e nesta reta final garantindo também que as estratégias de hospitalidade possam garantir leitos, hotelaria, soluções de hospitalidade para a população que irá nos visitar em novembro. Portanto, muito determinado, muita energia, muito trabalho e muita mobilização de toda a sociedade paraense envolvida nesse momento extraordinário em que Belém será a capital da Amazônia, a capital do mundo nas discussões do meio ambiente.
Eu fui para lá em agosto, inclusive acompanhei o início dessas obras, mas claro que sempre houve aquelas preocupações, ah, vai atrasar, principalmente ali naquela região do Mercado Ver O’Peso e na Estação das Docas, que são dois dos principais pontos turísticos da capital paraense. Como está a situação dessas obras, vão ser entregues no prazo mesmo?
Dentro do planejado, obras já na fase final de execução, dentro daquilo que nós estabelecemos como desafio, uma demonstração da capacidade de gestão, do foco e da capacidade de entrega para que nós possamos, no calendário estabelecido, portanto, antes de novembro, nós possamos estar com estes equipamentos que certamente saltam Belém a um nível de cidade com soluções para problemas históricos e que, a partir da oportunidade de sediar a COP, estas soluções estão asseguradas, o que deixará um legado de melhor cidade, de infraestrutura, de qualidade de vida para a população.
Belém ainda enfrenta desafios na oferta de hospedagem para a COP30, com altos preços e soluções improvisadas como containers e navios. O que o governo está fazendo para controlar esses preços e garantir hospedagem adequada para as delegações? Há outras alternativas em discussão?
O primeiro passo era identificar qual a demanda de um evento desta grandeza. Nós estamos falando de um evento que deve girar em torno de 50 mil visitantes em 12 dias de evento. Tendo como referência a última COP no Azerbaijão, o dia de maior visitação foram 24 mil pessoas que passaram pelo pavilhão, tanto da Zona Azul quanto da Zona Verde.
Dito isto, nós consolidamos uma estratégia que pudesse ter, em média, cerca de 50 mil leitos disponíveis e partimos para as soluções. Primeiro, modernizar as operações já existentes. Segundo, estimular novos hotéis.
Só nesse momento, são oito novos hotéis que chegam para incrementar a oferta de leitos. Terceiro, socializar a estratégia de hospitalidade, incentivando com que os aluguéis por temporada, através de aplicativos, pudesse ser uma fórmula importante. E esta, certamente, será das mais relevantes.
Para você ter uma ideia, só em plataforma de aluguéis por temporada, nós saltamos, olha esse número, de 700 leitos para 19 mil leitos. Portanto, uma ampla adesão da sociedade local dispondo dos seus imóveis para esta solução de hospitalidade. Além disso, nós estamos construindo uma vila de líderes com 410 leitos que estarão sendo ofertados com todas as exigências para as delegações.
Estamos com 17 escolas sendo adaptadas para serem ambientes de hospitalidade. Dois grandes navios com cerca de 5 mil leitos estarão incrementando esta oferta. Portanto, essa carteira de soluções permite com que nós possamos aumentar a oferta, chegar até a oferta necessária e, com isto, inclusive, impactando diretamente no que hoje reputo ser o maior gargalo, que são os preços.
Com excesso de oferta, com ampliação desta oferta, inevitavelmente, haverá uma acomodação para que os preços estejam dentro daquilo que é praticado de forma absolutamente adequada, semelhante às COP’s nos outros países.

Helder Barbalho (MDB), governador do Pará, em entrevista à ISTOÉ
Quais compromissos concretos seu governo assumiu para conciliar desenvolvimento econômico e preservação da Amazônia?
Para nós, não basta ser sede da COP30. Nós queremos ser um exemplo de sustentabilidade para o Brasil e para o mundo. A partir desta tomada de decisão, nós temos trabalhado, primeiro, para reduzir o desmatamento e os resultados têm sido muito eficazes.
Para você ter uma ideia, em 2018, no ano anterior à minha chegada ao governo, o Pará teve 4 mil quilômetros quadrados de área desmatada. Nós estamos fechando agora, em agosto, o ano de verificação de desmatamento, o PRODES, que é do governo federal, e chegando, neste momento, faltando dois meses para a conclusão desse calendário, a 1.164 quilômetros quadrados. Portanto, são de 4 mil para 1.164, o que mostra, claramente, a redução continuada e a assertividade desta iniciativa. Mas não basta comando e controle, nós precisamos implementar uma nova Agenda de Desenvolvimento Sustentável. E aí vai, desde o melhor uso do solo, estimulando atividades produtivas de baixas emissões, é pecuária com rastreabilidade, é produção rural estimulando atividades e novas culturas, como o cacau, como o açaí, que geram muito emprego, que demandam à sociedade produtiva, que tem um grande valor hoje de mercado, e, além disso, são atividades que restauram áreas e capturam carbono. Portanto, você concilia essa estratégia de produção com o restauro de áreas produtivas.
Além disso, concessão de restauro, concessão de floresta, atraindo a iniciativa privada para fazer gestão de territórios no nosso Estado, e o mercado de carbono, para que, com isto, nós possamos fazer pagamento por serviços ambientais para os guardiões da floresta. A captura do carbono, a redução do desmatamento, gera um crédito para o Estado, que faz disso uma moeda para que aqueles que emitem e precisam reduzir as suas emissões possam usar desse crédito e, com isso, nós possamos monetizar, gerar recursos advindos da redução do desmatamento e, com estes recursos, distribuir de que forma? Para povos indígenas, para quilombolas, para extrativistas, para produtores rurais e também financiar o Estado como poder público para continuar tendo capacidade de enfrentar as ações de redução de desmatamento.
E, conjugado a estas ações, nós agora demos um salto mais elevado. De que forma? Criamos a primeira lei de responsabilidade ambiental do Brasil.
O que significa? É que o financiamento para a agenda da sustentabilidade passa a estar garantido. De que maneira?
Atrelando royalties que o Estado tem direito a receber, percentual da taxa minerária, percentual da taxa hídrica, atrelado legalmente e institucionalizado para o financiamento da agenda da sustentabilidade. Isso representa só em número, para que você possa ter uma ideia. Neste ano de 2025, nós temos para a agenda de sustentabilidade no orçamento do Estado R$ 100 milhões.
Com esta lei que sancionei no Dia Mundial do Meio Ambiente, nós vamos alçar para R$ 1 bilhão. E aí, este recurso pode ser utilizado de que forma? Desde fiscalização, combate à ilegalidade ambiental, mas vai muito mais adiante.
Vai para estímulo à produção sustentável, pecuária sustentável, agricultura sustentável, bioeconomia a partir de pesquisa da nossa biodiversidade, criando uma nova vocação econômica, estímulos diversos a economias verdes e monetizar as pessoas que colaboram com a agenda da sustentabilidade. E certamente, com isto, nós avançamos com uma meta. Floresta viva tem que valer mais do que floresta morta.
E com isto a gente avança para que o Pará seja certamente um exemplo de virada de página de um Estado que apenas verificava o desmatamento da Amazônia para um Estado que concilia produção de alimento, preservação florestal e cuidar das pessoas que vivem na Amazônia.
O Brasil conseguirá evitar um fracasso nas negociações climáticas durante a COP30, como vimos em edições anteriores? O senhor acredita que o fundo de preservação da floresta e os acordos para reduzir emissões serão fechados em Belém?
Eu entendo que a COP em Belém será certamente uma grande oportunidade de nós podermos fazer a implementação das agendas que estão prometidas pelos países desenvolvidos para ampliar o financiamento climático. Acho que essa tem que ser a grande missão para deixar como legado da COP 30. É fato de que nós temos uma urgência ambiental por um lado e um questionamento do que efetivamente os países signatários do Acordo de Paris e também partícipes da Conferência das Partes, o que eles estão fazendo de fato.
Inclusive Belém será Paris mais 10, portanto 10 anos após o Acordo de Paris, o que será a oportunidade de checar aquilo que se assinou há 10 anos atrás e aquilo que se entregou efetivamente. Portanto, eu acredito que a liderança do Brasil, o fato de fazer na Amazônia, diante das urgências climáticas, nós devemos ser otimistas de que temos a capacidade de ser a locomotiva desse processo e fazer um grande chamamento global para que o financiamento ambiental que permitirá, por um lado, investimentos em valorização da floresta em estratégias de uso do solo, por outro lado, soluções de transição energética e investimentos em tecnologia para que nós possamos reduzir as emissões e garantir com que, com isto, a temperatura possa estar contida dentro das margens que os estudos científicos estabelecem como sustentável para a vida humana.
O que o governo do Pará planeja fazer no pós-COP30 para manter os investimentos e garantir um legado concreto para a cidade e para o estado?
Nós buscamos o protagonismo da Agenda Amazônia, a partir da cidade de Belém como capital da floresta, como capital da Amazônia, o que assegura a referência para a cidade, o que assegura com que o posicionamento de Belém para o ecoturismo também seja um importante ativo para que nós possamos ser um hub de negócios sustentáveis, de negócios verdes, por exemplo, nós estaremos entregando o Parque de Bioeconomia da Amazônia para que em Belém nós possamos ter o ambiente, seja do pensar a bioeconomia, do estudar a biodiversidade, como também da industrialização, da verticalização, seja nos fármacos, nos cosméticos, seja na agregação às produções sustentáveis, seja na gastronomia e tantos incrementos em ingredientes advindos da nossa riqueza de biodiversidade.
E claro, nós queremos deixar um legado ambiental. Que legado ambiental é este? Mostrar o desafio da transição de modelo do Estado e mobilizar apoiadores que possam enxergar na qualidade dos projetos apresentados pelo Pará, na integridade das estratégias que nós estamos consolidando para que com financiamento nós possamos dar escala a estas ações de tal maneira que a repercussão disto efetivamente possa transformar a realidade do Pará e consequentemente contribuir com os desafios do Brasil e do mundo.
Como o senhor avalia o risco de retrocessos ambientais em projetos em debate no Congresso, como o novo marco do licenciamento ambiental? Como evitar que decisões como essas comprometam a imagem do Brasil na COP30?
Acho que nós precisamos ter bom senso, diálogo. Nós não podemos, por um lado, deixar passar a boiada, fazendo um libera-geral a pretexto da busca do desenvolvimento, e precisamos, ao mesmo tempo, ter bom senso de entender que aquilo que se demonstre dentro da condição de planos de contingência, de cumprimento das licenças ambientais, possa se transformar em projetos a serem implementados na nossa região. Portanto, eu defendo que possamos ter o equilíbrio entre as partes, para que aquilo que possa conciliar os interesses, possa ser implementado na Amazônia e no Brasil.
E acho que o bom senso é o caminho. Me parece que falta diálogo neste momento, o que acaba acirrando os ânimos e contaminando a partir do viés ideológico. Acho que este é um tema que deve ser pautado menos por ideologia e mais por decisões técnicas.
E decisões técnicas pressupõem pesquisa, pressupõem ciência e pressupõem legislação.

Helder Barbalho (MDB), governador do Pará, em entrevista à ISOTÉ
O senhor acredita que a exploração de petróleo na Foz do Amazonas deveria ser melhor debatida antes de avançar? Qual sua posição sobre os riscos e benefícios dessa exploração?
Acho que são coisas que precisam ser colocadas de maneira clara. Nós estamos discutindo usar ou não usar combustível fóssil, nós estamos discutindo a exploração exclusivamente a 540 quilômetros em mar aberto da foz do rio Amazonas, o que nós estamos a discutir? Se for a exploração em si, pressupõe, primeiro, capacidade da Petrobras de mostrar que deseja pesquisar e que tem capacidade de demonstrar que essa pesquisa é ambientalmente correta. Apresentado isto, se deve autorizar que seja feito.
Agora, se a discussão é sou contra ou sou a favor combustível fóssil, aí acho que nós precisamos aprofundar este debate para compreender que, neste momento, o Brasil ainda precisa de combustível fóssil para que o país possa continuar se desenvolvendo, para que a sociedade possa continuar se desenvolvendo e estimular, aí sim, que a própria Petrobras e riquezas nacionais possam fomentar o avanço e a aceleração da matriz, seja eólica, seja a matriz solar, outras matrizes energéticas que façam com que o país possa definitivamente ser capaz de abrir mão do petróleo e do combustível fóssil como fonte de energia e de combustível.
Mas essa sinalização, por exemplo, do combustível fóssil da exploração, não pode dar um entendimento meio errado para outros países, porque o Brasil é cobrado, ele foi cobrado pela França já em relação ao desmatamento, foi cobrado pela Noruega.
O Brasil deve ter, me perdoe, o Brasil deve ter autonomia. A Noruega não tem autoridade para cobrar o Brasil de não fazer exploração de combustível fóssil. A Noruega explora combustível fóssil, inclusive a indústria petrolífera da Noruega hoje é o que financia o fundo Amazônia.
A França não tem autoridade para cobrar do Brasil que abra mão de combustível fóssil porque ela tem, inclusive, operações na Guiana e também na região das suas colônias que relacionam-se com a Amazônia que, da mesma forma, também não se pode analisar dessa maneira. Acho que nós não podemos, volto a dizer, ideologizar esse tema. Nós precisamos agir de forma técnica.
É possível fazer a exploração com sustentabilidade? É possível comprovar que está mitigado os riscos ambientais? Se isso for possível, aí nós passamos para uma outra discussão.
O Brasil quer ou não quer? Aí é uma discussão de Estado e não de quem é da direita ou quem é da esquerda. É do Estado brasileiro que tem que discutir.
E aí essa discussão precisa, inclusive, ser pautada de forma serena no sentido, nós podemos ou não podemos abrir mão deste ativo de riqueza no dia de hoje. Ou nós vamos fazer uma transição para conseguir garantir outras matrizes de energia de tal maneira que nós possamos, aí sim, ser capazes de dizer, eu abro mão do combustível fóssil porque eu tenho outras alternativas energéticas. Essa não é a realidade de hoje.
Portanto, nós temos que tratar no sentido de financiar esta transição, sob o aspecto desta decisão, inclusive, para que nós possamos fazer uma avaliação nacional e não apenas para a Amazônia. Por exemplo, tem gente que diz, ‘ah, mas não pode fazer na Amazônia’. Mas por que não pode fazer, primeiro que não é na Amazônia, é a 540 quilômetros em mar aberto, no oceano, onde está sendo feito.
Nessa mesma região, a Guiana já está fazendo exploração, na mesma bacia. Portanto, eles estão fazendo e nós estamos aqui discutindo se faremos ou não faremos. Terceiro, por que que no oceano, na região norte do Brasil, há essa discussão e a 200 quilômetros da Praia de Copacabana, na bacia de Campos, não há essa mesma discussão.
Portanto, eu acho que é uma discussão que a gente precisa ser mais profunda a respeito da estratégia nacional.
O senhor vê o Sistema Único de Segurança Pública (SUSP) como um caminho viável para enfrentar a criminalidade no Brasil? Como garantir que o projeto seja efetivo, considerando problemas como conivência de policiais com o crime organizado em alguns estados?
Primeiro que a iniciativa do Sistema Único de Segurança Pública, vem desde 2018, o que nós estamos discutindo agora é a constitucionalização deste sistema, portanto não tem grande mudança nesta realidade, o que se faz é constitucionalizar, o que é um ato importante, mas que na ponta não muda nas ruas a realidade em si da abordagem da segurança pública. Sob o aspecto da autonomia, eu acho que isso já está exaurido, acho que está muito claro de que não há sobreposição, não há fragilização da autoridade das polícias militares, o que há na verdade é um fortalecimento a partir de uma ampliação de atribuições da Polícia Rodoviária Federal, que passará a ser Polícia Viária Federal, porque além das rodovias estará cuidando de hidrovias e de outras formas de circulação, o que já destaco, só é possível que seja efetivo se aumentar o número de policiais, porque hoje a Polícia Rodoviária Federal, com o seu efetivo, ela mal dá conta das rodovias, se ela for cuidar de outros territórios, ela precisa fortemente ampliar o seu efetivo.
O que eu recomendo como sugestão, primeiro, nós precisamos garantir recursos para a pauta do financiamento da segurança pública. Nós temos um Fundo de Segurança Pública no Brasil, apenas como meio de comparação, sem querer estabelecer o mesmo nível de responsabilidades e o mesmo nível de prioridade. Nós temos o Fundo Nacional de Educação, está previsto 280 bilhões de reais para o ano de 2025.
O Fundo Nacional de Saúde está previsto 110 bilhões de reais para a agenda do Fundo Nacional de Saúde. Para o Fundo Nacional de Segurança Pública, no ano de 2025, está previsto 1 bilhão de reais. Portanto, nós precisamos aumentar este valor e eu proponho que nós possamos não apenas aumentar, que nós possamos estabelecer na Constituição um percentual específico para a segurança pública, da mesma forma que existe para o financiamento da educação e para o financiamento da saúde, já que estes são os três temas que a sociedade mais clama por respostas.
Em paralelo a isto, nós precisamos entender, hoje, a cabeça, a cúpula da criminalidade no Brasil, ela está refugiada no Rio de Janeiro. Se eu não dou conta de cuidar de todo o território, eu tenho que ser assertivo e tenho que ir no alvo daqueles que pensam o crime, daqueles que lideram o crime no Brasil, daqueles que hoje fazem as comunidades do Rio de Janeiro reféns e impedem, inclusive, que o Estado do Brasileiro adentre a estas comunidades, e são aqueles que ordenam o crime a partir do Rio de Janeiro, desestabilizando todo o sistema institucional de segurança em todo o Brasil. Das 27 unidades da Federação, 23 têm a coordenação do crime a partir do tráfico, a partir de facções criminosas, no Rio de Janeiro, e eu defendo que nós façamos uma grande mobilização, uma grande coalizão nacional para enfrentar o crime no Brasil, tendo como primeiro passo fazer uma grande imersão de apoio, de institucionalidade, de força, de combate ao crime, de combate ao acesso financeiro e também acesso ao armamento dentro do Rio de Janeiro, com repercussão certamente para todo o Brasil, e, consequentemente, avançar sobre as estratégias nacionais.
Mas como fazer esse projeto ser efetivo exatamente nesse ponto que eu te falei? Porque o senhor citou o Rio de Janeiro, mas a gente sabe que tem uma participação ali muito forte da milícia, que são ex-policiais militares, ou seja, a polícia militar entrando no crime organizado, e nós temos situações em outros estados em que a polícia é abusiva, ela ultrapassa o limite dela e passa também a agir de forma violenta.
Polícia é para agir dentro da lei e a lei serve para ser cumprida, seja contra um policial, seja contra um delinquente que não tenha patente. Nós precisamos agir dentro da lei e, inclusive, uma das coisas que deve se discutir nesta PEC é que não é possível continuar audiência de custódia liberando reincidentes de 10, de 15, de 20 audiências imaginando que é possível a polícia prende e aí o bandido é solto de forma reincidente. Portanto, são medidas para endurecer o Código Penal de tal maneira que se demonstre claramente de que há uma decisão que é do Legislativo, do Executivo e do Judiciário, com o apoio do Ministério Público, para ter mão dura, pulso firme contra a criminalidade.
O senhor pretende disputar um cargo nacional em 2026? Há possibilidade real de o senhor ser candidato a vice-presidente na chapa de Lula ou de concorrer ao Senado no lugar de seu pai?
Neste momento, primeiro, não há qualquer discussão, seja por parte do presidente Lula, seja por parte do MDB, a respeito da participação do partido na chapa de recondução do presidente. Até mesmo a sua própria candidatura, mesmo que hajam informações informais, é algo que deve ainda ser confirmado pelo presidente e pelo seu partido. Segundo, eu estou focado na agenda COP e, acima de tudo, retribuir ao meu Estado a confiança de ter sido o governador majoritário do Brasil.
Eu tenho um mandato a exercer, até o início de abril do próximo ano, que eu não tenho o direito de perder a minha energia com outras discussões que não seja devolver essa generosidade da população do Pará, fazendo o melhor governo que posso fazer em favor do meu Estado. E, claro, tem um calendário, que é a COP30, que é uma responsabilidade direta com o Brasil, com os brasileiros e com o mundo. Portanto, as minhas energias estão voltadas a isso.
Pós-COP, até abril de 2026, terei a oportunidade de dialogar com aqueles que estão próximos, debatendo o futuro político, para que nós possamos avançar a respeito de qual projeto devemos cumprir. É claro que, no âmbito da política local do Pará, o meu nome está colocado como pré-candidato ao Senado da República, para colaborar com o Brasil e com o Estado, podendo estar no exercício do mandato de senador.