O Baluchistão é uma conflituosa região fronteiriça compartilhada por Irã e Paquistão, onde as forças de segurança há anos enfrentam grupos insurgentes e onde existe agora um risco de escalada com os ataques cruzados de Teerã e Islamabad.

– Quem são os baluchis? –

A província do Sistão-Baluquistão, no sudeste do Irã, e a província do Baluchistão, no oeste do Paquistão, são as regiões pobres de seus respectivos países. Historicamente, essa região árida tem sido assolada pela seca e pelo desemprego.

Ali reside o povo baluchi, cuja população é estimada em 10 milhões de pessoas. A maioria delas vive no Paquistão, alguns vários milhões no Irã, e uma pequena minoria no Afeganistão.

Irã e Paquistão compartilham uma fronteira de cerca de 1.000 quilômetros ao longo dessas províncias, com grande atividade de contrabando, especialmente de combustível, devido à porosidade desta zona limítrofe.

Os baluchis são muçulmanos sunitas, o que os torna uma minoria étnica e religiosa no Irão, em um país predominantemente xiita.

– Quais são as ameaças à segurança do Irã? –

A tensão tem sido comum em ambos os lados da fronteira, mas poucas vezes no patamar dos últimos dias, em que Irã e Paquistão atacaram o que chamam de alvos “terroristas” nas províncias vizinhas.

Nove pessoas morreram em bombardeios paquistaneses nesta quinta-feira (18), de acordo com a imprensa estatal iraniana, dois dias depois de o Irã ter lançado ataques aéreos contra alvos “terroristas” no Paquistão. Pelo menos duas crianças morreram.

No Irã, foram relatados nos últimos meses ataques do grupo armado separatista sunita Jaish al Adl (Exército da Justiça), classificado pelo governo iraniano e por seu arqui-inimigo Estados Unidos como uma “organização terrorista”.

Em dezembro, 11 policiais morreram em um ataque reivindicado pelo grupo na cidade de Rask.

O Jaish al Adl foi fundado em 2012, após a desintegração de um grupo similar, o Jundallah, que durante anos lançou ataques contra as forças de segurança iranianas, mas perdeu força com a captura e posterior execução de seu líder Abdolmalek Rigi em 2010.

Segundo informes da imprensa oficial iraniana, Rigi foi preso em circunstâncias excepcionais em fevereiro de 2010, quando aviões de combate iranianos forçaram o pouso no Irã de um avião de passageiros que viajava para o Quirguistão. Foi enforcado em junho desse mesmo ano.

– Qual é a situação no Paquistão? –

Do outro lado da fronteira, as forças paquistanesas lutaram durante duas décadas contra uma nova versão de um grupo insurgente separatista baluchi, que matou centenas de pessoas em ataques contra forças de segurança, funcionários do governo e civis não baluchis.

Separatistas baluchis e grupos de direitos humanos afirmam que a repressão militar à insurgência causou desaparecimentos generalizados e mortes extrajudiciais.

Desde 2014, os separatistas atacam projetos relacionados com o Corredor Econômico China-Paquistão (CPEC). O projeto faz parte da Nova Rota da Seda Chinesa (BRI), e boa parte dele é realizada no Baluchistão, um território rico em minerais.

Os separatistas baluchis não são os únicos que usam a região, grande parte da qual não está sob controle governamental, como base. No passado, os governos ocidentais acusaram o Paquistão de fornecer aos líderes talibãs um refúgio seguro. Também houve relatos de atividades de um braço aliado ao grupo “jihadista” Estado Islâmico.

– Quais são as reclamações dos baluchis? –

A província iraniana do Sistão-Baluchistão está desestabilizada desde 2022, quando os residentes participaram dos grandes protestos nacionais no Irã na esteira da morte da jovem Mahsa Amini, sob custódia policial.

Em 30 de setembro de 2022, cerca de 80 pessoas morreram, segundo a Anistia, quando as forças de segurança atiraram contra uma marcha em Zahedan, a principal cidade do Sistão-Baluchistão.

Os militantes se queixam de que a região é vítima de discriminação econômica e política por parte da liderança xiita iraniana. Eles denunciam um número desproporcional de execuções de baluchis por enforcamento, acusados, em particular, de tráfico de droga.

Nos últimos anos, dezenas de baluchis também morreram em ataques das forças de segurança iranianas, segundo grupos ativistas.

Muitos baluchis também estão envolvidos no contrabando de combustível através da fronteira.

De acordo com a ONG Anistia Internacional, em 2021, pelo menos 19% de todas as execuções no Irã foram de membros da minoria baluchi.

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