O soldado Wagner Renato dos Santos viu o casal surgir do nada. Ainda tentou fechar a porta do carro, mas o homem já estava ao seu lado. “Aí, boy, se você tentar ir embora, a gente vai arrebentar você na bala.” Era domingo, 5 de fevereiro de 2007. Instantes depois parou o Uno. Havia mais quatro bandidos. Fizeram uma meia-lua em torno de Santos. “Dá o dinheiro, dá o dinheiro”, gritavam. “Não tenho”, respondeu o soldado. “Tem que eu ‘tô’ ligado. Se eu revistar você e achar, eu vou te matar”, disse um dos ladrões.

Santos apanhou a chave do carro e os R$ 400 em um bolso. Entregou tudo com a carteira, os papéis do carro e documentos pessoais, como a identificação funcional. “Tem mais que eu sei. Põe a mão na cabeça, senão eu vou te arrebentar.” Santos obedeceu, enquanto três dos bandidos voltavam para o Uno e outros entravam em seu carro. O ladrão apalpou, apalpou e só parou quando um dos comparsas chamou: “Ô, Joe, tira a mão do cara, deixa ele em paz, ele já deu tudo o que tem. ‘Vamo’ embora”. No carro, um dos assaltantes vasculhou a carteira. “Fica a pé aí seu vacilão, seu otário”, gritou a mulher do grupo. Foi quando acharam o documento de PM de Santos.

O desfecho foi rápido. “Ele é polícia!” E o primeiro disparo acertou a cabeça da vítima. O soldado caiu, sacou, revidou e com a perna tentou impedir os bandidos de abrirem a porta do carro. Choveu bala de todo lado. Sem perceber que fora atingido, o soldado atravessou a rua atrás de socorro. Os bandidos fugiram.

Alguns metros adiante, um homem apareceu em um portão. “Senhor, em nome de Jesus, chama a polícia para mim, sou policial.” O homem respondeu: “Calma, filho, minha mulher já foi chamar a polícia, calma que você tomou quatro, cinco tiros na cabeça.” Santos não acreditou e se olhou no retrovisor de um carro.

“Meu cérebro estava saindo para fora. Sentei atrás desse carro, e fiquei chorando. Meu osso da cabeça estava todo esfacelado.” Levado a um hospital, foi operado duas vezes. Perdeu 33% da massa encefálica. Os médicos lhe davam poucas chances de sobreviver. Um dia, levantou e voltou a ver e falar. Depois disso ficou conhecido como Milagre. Afastado do serviço, acabou reformado.

Atropelado. Milagre não teve a sorte do sargento Wagner Leite da Silva, que foi atropelado por um caminhão em cima da ponte de acesso à Rodovia Dutra, na Marginal do Tietê. Em 14 de março de 2013, ele e o policial Edivanil Bispo dos Santos vigiavam o local quando ouviram um barulho. Era um caminhão biarticulado subindo o viaduto. Parecia descontrolado. Silva subiu na mureta da ponte. Bispo correu.

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“O caminhão bateu no lado da viatura, que levantou do chão. Ela veio raspando a mureta e bateu na minha perna. Não acreditei que estava caindo e abri os braços: ‘Meu Deus, estou caindo’. De repente, já estava no chão.” Silva caiu de 17 metros de altura, com a espingarda nas costas, em cima de entulhos. O caminhão prosseguiu até colher Bispo, que também foi atirado do alto da ponte.

Silva quebrou três costelas, o ombro, o pulso, o fêmur esquerdo, deslocou a bacia e torceu duas vértebras da coluna. Conseguiu ficar em pé em janeiro de 2014. Fazia fisioterapia e hidroginástica. Em 2015, voltou para a corporação. Hoje, trabalha no 27.ª Batalhão, na zona sul. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.


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