O laudo de necropsia do papiloscopista Renato Couto aponta que ele teria sobrevivido caso tivesse sido socorrido antes de ser arremessado por militares do 1º Distrito Naval no Rio Guandu, em Japeri (RJ). Conforme os peritos do Instituto Médico-Legal (IML), antes de ser jogado no rio, Renato foi atingido por três tiros nas duas pernas e na barriga. As informações são do G1.

O lauda aponta que a lesão da coxa esquerda foi a mais grave, mas o sangramento acabou contido por tecidos do entorno, formando coágulos e diminuindo a hemorragia externa. Isso significa que a vítima poderia ter recebido o “atendimento emergencial necessário”.

De acordo com o documento, o corpo da vítima apresenta “vestígios de putrefação” e da “maceração da pele” em razão da submersão no rio e também de “asfixia mecânica pelo afogamento”, inclusive contendo areia e lama nas vias aéreas.

“Os vestígios apontam para uma vítima na água, ainda viva, em anemia aguda. A morte ocorreu devido ferimentos do abdome e membros inferiores por projéteis de arma de fogo, com subsequente asfixia mecânica pelo afogamento”, concluiu o perito Cláudio Amorim Simões.

“Chama atenção o tempo de agonia e sofrimento e a falta de socorro médico, que lhe garantiria uma grande chance de ter a vida salva”, afirmou ao O Globo o professor titular Medicina Legal da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), o perito Nelson Massini.

Relembre o caso

O perito papiloscopista da Polícia Civil Renato Couto de Mendonça, de 41 anos, foi sequestrado e baleado na sexta-feira (13) por ao menos três militares da Marinha. Depois, ele foi jogado no Rio Guandu, na altura de Japeri, Baixada Fluminense (RJ).

O corpo estava preso à vegetação do rio e foi localizado nesta segunda-feira (16) pelo Corpo de Bombeiros.

Conforme as investigações da 18ª Delegacia de Polícia (Praça da Bandeira), o perito teria tido uma discussão com Lourival Ferreira de Lima, que é dono de um ferro-velho na região, depois de perceber que materiais da obra da sua casa haviam sido furtados por usuários de drogas e vendidos ao estabelecimento.

Em seu depoimento, o primeiro-sargento da Marinha Bruno Santos de Lima afirmou que recebeu uma ligação do pai, Lourival, na quarta-feira (11) em que foi informado que um homem havia procurado o ferro-velho e exigido dinheiro pelo material supostamente furtado.

Na sexta-feira, Bruno recebeu outra ligação de Lourival na qual afirmava que o homem tinha retornado, ameaçado e ordenado uma transferência de R$ 10 mil. Então, ele acionou dois subordinados, o terceiro sargento Manoel Vitor Silva Soares e o cabo Daris Fidelis Motta, para irem até o ferro-velho.

Quando chegou ao local, segundo ele, o seu pai estava cabisbaixo ao lado de Renato. Na sequência, Bruno se identificou como militar e revistou o perito. Nesse momento, percebeu que o agente estava com uma arma na cintura.

Os outros dois militares e o seu pai teriam tentado apartar a briga. Bruno afirmou que só se recorda de ter “conseguido desferir um tiro em uma das pernas” de Renato.

O primeiro-sargento ressaltou que, durante a confusão, Renato gritou: “Polícia! Polícia!”. Mas não conseguiu entender se ele estava se identificando ou pedindo por ajuda. Por esse motivo, Bruno efetuou mais um disparo, que atingiu a barriga do perito.

Ele afirmou que colocou Renato na viatura do 1° Distrito Naval com a ajuda de Daris.

Ainda segundo o seu depoimento, Bruno contou que não se recorda se ele e os demais militares cogitaram de levar Renato para um hospital.

Ele apenas se lembra de ter “avistado um grande rio”, o Guandu, e sugeriu que o perito fosse jogado por cima da mureta do viaduto. O primeiro-sargento disse que não sabia se Renato apresentava sinais vitais.

Ao ser questionado sobre a pistola de Renato, ele afirmou que a jogou no rio.

Depois, os militares voltaram para a base do 1° Distrito Naval, na Praça Mauá, e cumpriram os seus serviços.

Bruno Santos de Lima, Manoel Vitor da Silva Soares, Daris Fidelis Motta e Lourival Ferreira de Lima foram presos em flagrante pelos crimes de homicídio triplamente qualificado e ocultação de cadáver.

O que diz a Marinha

A Marinha do Brasil lamentou, por meio de nota, a morte de Renato e ressaltou que repudia o comportamento dos militares envolvidos.

A corporação afirmou que abriu um inquérito policial militar para investigar o caso e está colaborando com as autoridades policiais.