-Ai, você jura? — perguntou-me dia desses uma grande amiga, entre aflita e esperançosa, quando dei a minha opinião sobre o destino de Jair Bolsonaro em outubro próximo: “Sequer chega ao segundo turno”. Ela não está sozinha. Obviamente deixando de lado os seguidores do “mito”, a maioria dos brasileiros arqueja só de imaginá-lo posando com a faixa presidencial.

Convenhamos, levando-se em conta as barbaridades que o pré-candidato e seus filhos propalam quando se manifestam — sem falar no fato de o deputado ser despreparado como poucos para comandar o País —, tal reação não pode ser considerada descabida. Bem ao contrário, trata-se de um reflexo alvissareiro, mas que também explicita a nossa ignorância quando se trata de entender o panorama eleitoral e o seu funcionamento.

A minha descrença em relação ao projeto de Bolsonaro não se apoia em premissas exatamente novas. É sabida, por exemplo, a importância de um partido ou uma coligação em condições de proporcionar ao candidato um bom tempo de televisão durante a campanha. Não só isso, mas também de oferecer caminhos por onde essa máquina possa fazer chegar a sua imagem e plataforma de governo. E ele não poderá contar com nenhuma dessas duas.

Acima de tudo, porém, o candidato que já foi eleitor de Ciro Gomes e Lula não tem capacidade de travar um debate em alto nível sobre o Brasil. Histriônico, o máximo que conseguirá, quando a eleição de fato tiver início, será a pouco difícil tarefa de excitar sua aguerrida militância nas redes socais. Contudo, o debate abrange muito mais que a falsa dicotomia usada até aqui para catapultar a sua popularidade.

O candidato que já foi eleitor de Ciro Gomes e Lula não tem capacidade de travar um debate em alto nível sobre o Brasil. O máximo que conseguirá será excitar a militância nas redes sociais

É esse o grande erro tanto de seus apoiadores quanto de quem se assusta em demasia: imaginar que o brasileiro comum, historicamente decisivo para o resultado das eleições, passa a sua existência confinado no mundo virtual, e não apertado nos trens, faxinando residências ou servindo mesas País afora. Sem falar nos rincões mais afastados, onde conexões de internet decentes ainda estão longe de dar as caras.

Assine nossa newsletter:

Inscreva-se nas nossas newsletters e receba as principais notícias do dia em seu e-mail

– Espero que você tenha razão! —, disse ela ao final, ainda incerta em me dar crédito. E quem pode culpá-la? Um balão aceso nunca deixa de impressionar e o japonês em especial costuma subir rápido. Até que a bucha se apague. Então começa a cair bem depressa.

 


Siga a IstoÉ no Google News e receba alertas sobre as principais notícias