Diversas vezes aproveitei desse espaço para alertar sobre três graves problemas brasileiros envolvendo a saúde pública. Hoje, nesse mesmo espaço, posso dizer que pelo menos um deles parece que está começando a ser resolvido. Quais foram as questões anteriormente abordadas?

Uma delas diz respeito ao crescimento do índice de doenças sexualmente transmissíveis, sejam elas virais ou bacterianas – os números mais alarmantes se referem ao HIV, à sífilis, ao HPV e à blenorragia. Com o desenvolvimento do coquetel antirretroviral e a implantação da profilaxia de pré-exposição (PrEP), sem a existência de amplas campanhas de esclarecimento, considerável parcela da juventude passou a considerar que o preservativo não mais é necessário para evitar a contaminação pelo HIV (em São Paulo, por exemplo, um a cada quatro homens que fazem sexo com homens é soropositivo). Sem o preservativo, não apenas o HIV voltou a ser altamente preocupante, como também se disseminam as demais DSTs. A segunda questão se refere ao altíssimo consumo de bebida alcoólica no País, sobretudo por jovens.

Finalmente, o terceiro problema é justamente o cruzamento dos dois anteriores: simplificando extremamente o tema, quanto mais se bebe, menos se lembra (devido à ação do álcool em neurotransmissores) de fazer sexo protegido. Resumo da triste ópera: estar alcoolizado e se relacionar sexualmente é fator de risco de contrair doenças sexuais.

Como foi dito no início desse artigo, dessa vez há, no entanto, uma boa notícia a ser informada. Trata-se do segundo tema aqui citado — o consumo de álcool. O mais recente relatório de Estatísticas Mundias de Saúde (estudo feito pela OMS) mostra que no Brasil houve uma redução de 10% na ingestão per capita de bebida alcoólica nos últimos seis anos. Isso siginifica que o consumo per capita, que em 2010 foi de 8,7 litros, caiu para 7,8 litros em 2016. É um excelente sinal. Ainda faltam campanhas claras das autoridades sobre o uso nocivo do álcool, sobretudo no que diz respeito ao que é mais perigoso: o consumo pesado ocasional (episódico) que leva à intoxicação aguda (beber cinco ou mais doses, por exemplo, numa festa). No campo da propaganda, continuamos a ler e a ouvir, ao final de longos comerciais, uma curta e tímida sinalização: “beba com moderação”. Isso teria de aparecer em letras enormes e soar alto.

Creio que contribuiu para a queda na ingestão de bebida a tolerância zero na Lei Seca, as multas e as punições. Com certeza, se essa tendência se confirmar, também teremos, em pouco tempo, outra boa notícia para dar: a do refluxo nos índices de DSTs, uma vez que, como já ficou registrado, o consumo demasiado de bebida alcoólica, em determinadas ocasiões, faz com que a pessoa se sinta impermeável a toda e qualquer doença, desprezando assim o sexo seguro.