A baixa renda e a informalidade no Brasil são os principais vetores da fome no País. As informações são da PNAD (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios) Contínua: Segurança Alimentar (2024) divulgada pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) nesta sexta-feira, dia 10.
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O estudo mostra que a insegurança alimentar atinge 71,9% dos lares brasileiros com renda de até um salário mínimo per capita no grau moderado ou grave de insegurança alimentar. A insegurança alimentar grave é considerada a forma mais severa de baixo acesso domiciliar aos alimentos. Com base nos resultados da PNAD, é possível afirmar que cerca de 2,5 milhões de domicílios passaram por privação quantitativa de alimentos. Segundo o estudo, essa privação atingiu os adultos, as crianças e os adolescentes das famílias.
O levantamento mostra como a insegurança alimentar no Brasil se concentrou nas classes de rendimento mais baixas no período pesquisado. Os casos de insegurança alimentar moderada ou grave se concentraram nas três primeiras classes de rendimento delimitadas por um quarto, meio e um salário mínimo. As três classes cobrem juntas 41,0% dos domicílios do País. No entanto, elas respondem por 71,9% quando se trata de casos de insegurança moderada ou grave. Já a classe com os maiores rendimentos, com renda per capita de mais de dois salários mínimos, responde apenas por 3,9% dos casos de insegurança alimentar moderada ou grave, mesmo contendo mais de um quinto do total de domicílios (24,4%).
O estudo também observou diferenças na situação de segurança alimentar de acordo com a posição da ocupação do responsável pelo domicílio. As casas em segurança alimentar, cujo responsável estava ocupado como trabalhador doméstico, representavam 3,4%. Sendo assim, o levantamento conclui que a formalização da ocupação tem impacto significativo na capacidade de garantir a aquisição de alimentos nos domicílios. 23,4% dos domicílios encontravam-se em situação de segurança alimentar quando o responsável estava empregado no setor privado com carteira de trabalho assinada, o maior percentual entre todas as categorias. Os que não tinham carteira de trabalho assinada eram apenas 6,6%.
Dentre os domicílios em insegurança alimentar, das ocupações estudadas, chama atenção os responsáveis por conta própria (17,0%); empregados do setor privado sem carteira de trabalho assinada (8,6%); trabalhador doméstico (6,5%); e outros casos (47,5% – que englobam os responsáveis sem emprego e outros casos). Juntos, estes quatro grupos respondem por 79,6% dos casos de insegurança alimentar. Nos casos de domicílios em insegurança alimentar grave, 15,5% tinham responsáveis ocupados por conta própria; 8,3% como empregado do setor privado com carteira de trabalho assinada; e 6,7% como trabalhador doméstico.
Entenda a classificação dos níveis de insegurança alimentar
- Insegurança alimentar leve: preocupação ou incerteza quanto ao acesso a alimentos e redução da qualidade para não afetar a quantidade;
- Insegurança alimentar moderada: falta de qualidade e redução na quantidade de alimentos entre adultos;
- Insegurança alimentar grave: falta de qualidade e redução na quantidade de alimentos também entre menores de 18 anos. Nessa situação, a fome passa a ser uma experiência vivida no domicílio.