Por baixo da decoração do bairro paulistano, símbolo da maior diáspora japonesa no mundo, se esconde um passado negro e indígena.

A Prefeitura de São Paulo elegeu o projeto arquitetônico que vai dar materialidade ao Memorial dos Aflitos, no bairro da Liberdade, região central da capital paulista. A edificação foi desenhada por uma equipe de arquitetos, professores e estudantes de arquitetura da Fundação Armando Alvares Penteado (Faap), que foi a vencedora do concurso promovido pela própria administração pública, no final do ano passado, para definir o modelo do monumento.

A edificação vai ser erguida em um lote estreito e longo, entre a Rua Galvão Bueno e a Rua dos Aflitos. A diferença de altura entre as extremidades é de 4,5 metros, e o Memorial funcionará como um caminho contínuo que ligará as duas vias. O projeto prevê que o espaço tenha três andares conectados por escada e uma plataforma hidráulica, duas praças – uma em cada entrada do Memorial -, e que o piso superior, na altura da Galvão Bueno, sirva de mirante para a Capela dos Aflitos, que também foi valorizada no projeto.

A Capela dos Aflitos é tombada pelo Conselho Municipal de Preservação do Patrimônio Histórico, Cultural e Ambiental da Cidade de São Paulo (Conpresp) e pelo Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico do Estado de São Paulo (Condephaat).

O monumento será construído estrategicamente no Sítio Arqueológico Cemitério dos Aflitos, nas adjacências da Capela, como forma de fazer uma reparação histórica a grupos de populações negras e indígenas que viveram na região, mas que, segundo historiadores e movimentos sociais, tiveram essa ocupação excluída dos registros oficiais da cidade.

“Poucos sabem que a Liberdade era um bairro negro”, diz Marcio Coelho, arquiteto e professor da FAAP, um dos responsáveis por coordenar a equipe vencedora do concurso. “O projeto que desenvolvemos pretende dar o devido reconhecimento a grupos sociais, no caso a população negra e indígena, que não eram contemplados por essa história oficial, pois não eram entendidos como dignos de serem incluídos”, explicou o docente.

Para o historiador Wesley Vieira, pesquisador da Universidade de São Paulo (USP) e membro da Fundação União dos Amigos da Capela dos Aflitos (Unamca), o memorial é uma forma de materializar a narrativa de povos ancestrais que viveram na região e também são importantes para a história da capital paulista.