14/11/2024 - 11:55
O Azerbaijão, anfitrião da COP29, tentou acalmar a atmosfera diplomática em Baku nesta quinta-feira (14), depois que uma ministra francesa cancelou sua viagem às negociações climáticas da ONU e a Argentina retirou sua delegação.
Enquanto os negociadores trabalham a portas fechadas na COP29 para chegar a um acordo de financiamento climático, o foco foi em grande parte roubado pela turbulência diplomática.
A ministra do Meio Ambiente da França, Agnès Pannier-Runacher, anunciou na quarta-feira que não viajaria a Baku depois que o presidente do Azerbaijão, Ilham Aliyev, acusou Paris de “crimes coloniais” e “violações de direitos humanos” em seus territórios ultramarinos.
Pannier-Runacher chamou seu discurso de “inaceitável… e abaixo da dignidade da presidência da COP”.
Foi também uma “violação flagrante do código de conduta” para liderar as negociações climáticas da ONU, acrescentou.
Na tentativa de acalmar os ânimos nesta quinta-feira, o negociador-chefe da COP29, Yalchin Rafiyev, insistiu que o Azerbaijão havia promovido “um processo inclusivo”.
“Abrimos nossas portas para que todos possam participar de discussões muito construtivas e produtivas”, disse ele aos repórteres.
“Nossas portas ainda estão abertas”, garantiu.
As relações entre Paris e Baku estão tensas há anos por causa do apoio da França à Armênia, arquirrival do Azerbaijão.
O Azerbaijão derrotou a Armênia em uma ofensiva de blitzkrieg no ano passado, quando retomou a região separatista de Nagorno-Karabakh, povoada por armênios, provocando o êxodo de mais de 100.000 armênios.
Aliev elogiou a vitória militar em seus comentários aos delegados e também surpreendeu ao insistir que os recursos naturais, incluindo os combustíveis fósseis emissores de carbono, são um “presente de Deus”.
O comissário do clima da UE disse que as negociações sobre o clima “devem ser um espaço onde todas as partes se sintam livres para vir e negociar”.
“A presidência da COP tem uma responsabilidade especial de facilitar e melhorar isso”, disse Wopke Hoekstra no X.
Para agravar a turbulência diplomática, a delegação argentina se retirou abruptamente das negociações.
Uma fonte oficial argentina confirmou a saída, mas se recusou a dar mais detalhes.
O presidente da Argentina, Javier Milei, deixou claro seu ceticismo em relação às mudanças climáticas e é um aliado do ex-presidente dos EUA, Donald Trump.
Embora a delegação da Argentina fosse pequena, sua saída “não tem precedentes na história diplomática do país”, disse Oscar Soria, ativista ambiental argentino e diretor da Iniciativa Comum.
Rafiyev evitou entrar em detalhes sobre a saída, chamando-a de “uma questão bilateral entre a Argentina e a ONU”.
“Esperamos que todos os presentes aqui tenham apenas uma intenção: unir-se a esse esforço coletivo para alcançar um resultado positivo”, acrescentou.
O progresso no objetivo principal das negociações, um novo acordo de financiamento climático, avança muito lentamente.
A principal linha de conflito é clara: quanto os países desenvolvidos devem pagar para ajudar as nações mais pobres a se adaptarem às mudanças climáticas e a se afastarem dos combustíveis fósseis.
As nações ricas estão relutantes em gastar muito mais do que os US$ 100 bilhões (577 bilhões de reais) por ano já comprometidos, conscientes de seus cidadãos atingidos pela inflação e de suas economias instáveis.
Mas os países em desenvolvimento alertam que precisam de pelo menos US$ 1 trilhão (R$ 5,7 trilhões de reais) para se defenderem dos estragos da mudança climática e cumprirem os compromissos de atingir emissões líquidas zero.
Fontes descrevem as discussões em andamento como difíceis, com os negociadores lutando para ajustar um texto preliminar antes que os ministros cheguem em poucos dias para fechar um acordo.
“Nesse ritmo, não conseguiremos entregar algo significativo até sábado, conforme solicitado inicialmente pela presidência”, alertou Fernanda de Carvalho, líder de política climática da WWF.
A questão do papel que os Estados Unidos desempenharão na ação climática e no financiamento paira sobre as negociações, especialmente antes do retorno de Trump à Casa Branca em janeiro.
Trump prometeu se retirar novamente do Acordo de Paris, levantando questões sobre o quanto os negociadores dos EUA em Baku podem realmente prometer e cumprir.
“Acho que é justo dizer que há alguma incerteza sobre o próximo governo”, admitiu Jake Levine, diretor de Clima e Energia da Casa Branca.
No entanto, a necessidade de “projetar os valores americanos” será um poderoso impulsionador para a continuidade do financiamento e da ação climática, apesar do retorno de Trump, acrescentou ele.
“Não podemos ceder terreno para a China, para nossos concorrentes…. Portanto, acho que veremos uma presença americana contínua”, previu ele.
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