Quase cinquenta líderes do continente europeu reuniram-se nesta quinta-feira (5) na cidade espanhola de Granada para tentar enviar uma mensagem de unidade, mas a recusa do Azerbaijão e da Turquia em participar enfraqueceu o encontro, que procurava aliviar as tensões regionais.

A ausência do presidente azerbaijano Ilham Aliyev e do seu homólogo turco, Recep Tayyip Erdogan, apoiado por Baku, representa um revés para esta terceira cúpula da Comunidade Política Europeia (CPE), já que não participarão nas conversas sobre a situação em Nagorno-Karabakh.

“É uma pena”, lamentou o chefe da diplomacia da União Europeia, Josep Borrell, ao chegar à cidade andaluz (sul).

“Não poderemos falar aqui sobre algo sério como o fato de mais de 100 mil pessoas terem abandonado as suas casas, fugindo de um ato de força militar”, disse Borrell.

Duas semanas depois da ofensiva das forças do Azerbaijão, que obrigou quase toda a população armênia a fugir da autoproclamada república de Nagorno-Karabakh, o formato parecia ideal para uma reunião ao mais alto nível.

Mas, irritado com os sinais europeus de apoio à Armênia, Ilham Aliyev cancelou a viagem.

Denunciando uma “atmosfera anti-Azerbaijão”, Baku “não considerou necessário participar das negociações”, disse um responsável do Azerbaijão à AFP.

No entanto, um assessor do presidente azerbaijano afirmou nesta quinta-feira que o Azerbaijão está disposto a negociar com a Armênia sob mediação da União Europeia (UE).

“O Azerbaijão está disposto a participar de reuniões tripartites entre a União Europeia, o Azerbaijão e a Armênia em um futuro próximo em Bruxelas”, escreveu o líder do país, Ilham Aliyev, no X (antigo Twitter).

O primeiro-ministro armênio, Nikol Pashinian, que está em Granada, terá uma reunião com o presidente francês, Emmanuel Macron, o chanceler alemão, Olaf Scholz, e o presidente do Conselho Europeu, Charles Michel, à margem da CPE.

Na última reunião da CPE, em junho, na Moldávia, Aliyev juntou-se à reunião destes quatro líderes, em um ambiente já muito tenso entre Baku e Ierevan. “É importante nunca desistir”, destacou Charles Michel, garantindo que a UE é “um mediador neutro”.

– Apelo de Zelensky –

A invasão russa da Ucrânia também estará na agenda. As potências europeias pretendem reafirmar o apoio a Kiev, no momento em que a crise política nos Estados Unidos provoca dúvidas sobre a continuidade do apoio americano.

Zelensky anunciou sua prioridade, “fortalecer a defesa aérea” ucraniana, e espera obter acordos sobre o tema.

O objetivo da CPE, idealizada pelo presidente francês, Emmanuel Macron, é reunir mais países do que apenas os que integram a União Europeia: além dos 27 membros do bloco, outras 20 nações foram convidadas para o terceiro encontro de cúpula.

Os representantes dos países têm diferentes posições em relação à UE, desde candidatos à adesão, outros que sabem que a porta está fechada, ou o Reino Unido, que optou por sair da UE há sete anos.

“A ausência de Erdogan pela segunda vez consecutiva enfraquece a CPE, concebida para lidar com Ancara em um formato diferente da UE, bloco em que candidatura turca está congelada”, disse Sébastien Maillard, do Instituto Jacques Delors.

“Sem a Turquia ou o Azerbaijão, a Comunidade Política torna-se mais estritamente europeia e parece mais anti-Putin, exceto para alguns líderes”, disse ele.

“Resta saber se estas ausências são temporárias ou permanentes”, continuou o analista, que lembrou que a adesão à CPE é flexível.

Na ausência da esperada reunião sobre Nagorno-Karabakh, a cúpula na cidade andaluz poderia centrar-se na questão da crise migratória, que o primeiro-ministro britânico, Rishi Sunak, está interessado em colocar no centro dos debates.

jca-dc/du/zm/aa/fp