O chá de Ayahuasca tem sido cada vez mais utilizado para tratamento de doenças mentais, dependência química, entre outros, além de promover um despertar espiritual e busca por uma mais qualidade de vida. A substância é utilizada cada vez mais em ambientes religiosos e médicos e tem conquistado o público, inclusive celebridades.

A ayahuasca é um chá preparado geralmente com a mistura de duas ervas amazônicas, o cipó Mariri e as folhas de Chacrona, e sua origem é indígena da América do Sul. A substância tem potencial alucinógeno e é capaz de induzir expansão de consciência e alterações sensoriais. É usada em rituais xamânicos em várias regiões do continente.

A medicina é usada originalmente em rituais xamânicos mas foi levada para outras religiões, como Santo Daime, por exemplo, que é uma igreja cristã que utiliza o chá. Segundo os povos originários, a substância resulta em um maior contato com pós-vida e com outras dimensões. Aya quer dizer “pessoa morta, alma espírito” e waska significa “corda, liana, cipó ou vinho”. Assim a tradução, para o português, seria algo como “corda dos mortos” ou “vinho dos mortos”.

A ayahuasca contém DMT (Dimetiltriptamina), harmalina e harmina, substâncias que aumentam os níveis de serotonina no organismo, ajudando a melhorar o humor e o bem estar e podendo, por isso, ser usada também para o tratamento de ansiedade, depressão e estresse pós traumático. O chá também tem outros efeitos benéficos: ação antimicrobiana, antiparasitária e ações fisioimunológicas como o aumento da produção das chamadas células Natural Killers (NK), responsáveis por combater parasitas e células cancerosas.

O tratamento com ayahuasca se tornou uma sensação entre celebridades. No mundo, o usuário mais conhecido e que mais fala do assunto em entrevistas é Will Smith. Um vídeo do ator sendo entrevistado por David Letterman viralizou recentemente. Nele, Smith fala sobre sua relação com a substância e como ela afetou sua vida. (veja abaixo)

Outras celebridades internacionais também fazem uso da medicina: Miley Cyrus, Gwyneth Paltrow, Megan Fox, Sting e Susan Sarandon. No Brasil, a lista inclui Caetano Veloso, Maitê Proença, Frank Aguiar, Ney Matogrosso, Lucélia Santos e Zécarlos Machado.

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Como é o ritual

Dentro do contexto xamâmico, o consumo do chá de ayahuasca é feito sob procedimentos ritualísticos. É necessário que a pessoa esteja com o corpo “limpo” para receber a medicina: sem uso recente de drogas, álcool e remédios controlados. Também é recomendável interromper o consumo de alimentos industrializados, açúcar e cafeína alguns dias antes do ritual.

Na sessão ritualística, a pessoa pode tomar o chá em doses separadas e se manter sob o efeito da ayahuasca por uma média de 10 horas. Durante esse tempo, podem acontecer efeitos adversos como vômitos, náuseas e diarreia. No contexto xamânico, esses efeitos são considerados uma limpeza do organismo promovida pela substância. É comum os usuários experienciarem choro e riso.

Durante o ritual, o usuário pode experienciar expansão da consciência, com “mirações”, como são chamadas as visões que a substância promove. Também podem acontecer acesso a memórias esquecidas, revisitação a traumas e revelações do subconsciente. Também são relatadas experiências coletivas, com pessoas tendo mirações similares no mesmo ritual. Usuários relatam experiências transformadoras e muitas vezes, espirituais.

O chá é proibido para pessoas que possuem histórico de doenças mentais como esquizofrenia, transtorno bipolar, Parkinson ou psicose, pois há o risco de gatilhar crises e gerar efeitos adversos. Por isso, é apenas indicado o uso em ambiente controlado, religioso ou médico.

O que a ciência diz

A ciência tem dedicado cada vez mais estudos para o uso da ayahuasca de forma terapêutica. O maior estudo realizado no Brasil sobre os impactos do chá indígena no tratamento contra depressão refratária foi publicado em 2018. Coordenada pelo neurocientista Dráulio Araújo, do Instituto do Cérebro da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (ICe-UFRN), a pesquisa revelou que 67% dos participantes apresentaram melhoras significativas após o uso do chá indígena. Segundo o mesmo estudo, os efeitos da Ayahuasca são bastante seguros sob o ponto de vista neurológico.

Um estudo inédito realizado com seis voluntários com diagnóstico de depressão recorrente obteve resultados positivos na diminuição dos sintomas com a utilização da planta medicinal ayahuasca. A pesquisa foi conduzida na Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (SP) em 2021, com a participação de pesquisadores da Universidade Federal do Rio Grande do Norte e da Universitat Autônoma de Barcelona, na Espanha.

Seis pacientes com histórico de depressão recorrente receberam uma dose única de ayahuasca (2,2 ml/kg de peso). Os resultados apontaram que 24 horas após a ingestão do chá, os voluntários relataram diminuição dos sintomas depressivos em cerca de 62%, em média.  Os resultados foram publicados na Revista Brasileira de Psiquiatria. Sete dias após o uso, a diminuição dos sintomas foi superior a 72%.

De acordo com outro estudo, publicado em 2021 no International Journal of Neuropsychopharmacology, consumir ayahuasca reordena temporariamente a maneira como nosso cérebro recebe informações, interrompendo nossa hierarquia neural. Isso significa que podemos processar os eventos da vida de uma nova maneira, ganhar clareza ou perspectivas alternativas.

Já o Global Global Project promoveu uma pesquisa observacional que entrevistou cerca de 10.000 consumidores de ayahuasca e foi conduzida por pesquisadores da Austrália, Brasil, Espanha, República Tcheca e Suíça. Nos resultados, mais de 80% dos consumidores de ayahuasca disseram que obtiveram informações importantes sobre sua personalidade, comportamentos, moral, padrões de relacionamento e saúde física depois do uso da substância.