Um avião com centenas de passageiros indianos retidos desde quinta-feira (21) em um aeroporto perto de Paris, por suspeitas de um caso de tráfico de seres humanos em massa, decolou nesta segunda-feira (25) com destino a Mumbai (Índia), informaram as autoridades francesas.

O avião, um Airbus 340 da empresa romena Legend Airlines, que seguia dos Emirados Árabes Unidos para a Nicarágua, foi bloqueado na última quinta durante uma escala para reabastecimento no aeroporto de Vatry e partiu hoje, pouco antes das 15h locais (11h em Brasília) com 276 dos 303 passageiros inicialmente a bordo.

Foi autorizado a partir após quatro dias de investigações e interrogatórios no aeródromo transformado em um dormitório gigantesco, mas com destino à capital econômica da Índia.

Do contingente inicial, 25 solicitaram asilo em França, e dois foram retidos para interrogatório, embora tenham sido liberados pouco depois, de acordo com fontes judiciais. Entre os demandantes de asilo, estão cinco dos 11 menores desacompanhados do voo.

A aeronave foi retida após uma denúncia anônima de que os passageiros eram vítimas de uma rede de tráfico de pessoas.

Uma fonte próxima à investigação disse que, provavelmente, eram trabalhadores indianos nos Emirados que pretendiam chegar à América Central. De lá, tentariam seguir para o norte e entrar, de forma irregular, nos Estados Unidos ou no Canadá.

Durante a investigação, os passageiros permaneceram nesse aeroporto, que fica 150 quilômetros ao leste de Paris, em zonas habilitadas pelos serviços de Defesa Civil, com camas individuais, banheiros e chuveiros.

A partida atrasou várias horas em relação ao horário inicialmente previsto.

A advogada da companhia aérea, Liliana Bakayoko, disse que muitos passageiros se recusavam a viajar para a Índia.

“Várias pessoas não querem ir para a Índia. Estão muito insatisfeitas, querem ir para a Nicarágua”, em uma viagem que alguns passageiros questionados no domingo afirmaram ter fins turísticos, declarou Liliana.

– Situação “surpreendente” –

“Não sabemos se se trata de um caso de tráfico de seres humanos, de tráfico de migrantes, ou de nenhuma das duas coisas (…). Mas, mesmo assim, ficaram retidas em um aeroporto, por três noites e três dias, 303 pessoas que faziam uma escala – homens, mulheres e crianças. É algo surpreendente”, disse à AFP no domingo (24) Geneviève Colas, coordenadora de Secours Catholique-Caritas do Coletivo contra o Tráfico de Pessoas.

“Se foram vítimas de tráfico, não é normal fazê-los partir para outro país”, acrescentou.

Segundo o site especializado Flightradar, a Legend Airlines é uma pequena empresa que possui uma frota de quatro aviões.

A Justiça descartou indiciar as duas pessoas interrogadas nesta segunda-feira por suspeita no envolvimento com uma rede de tráfico de seres humanos. Os dois, nascidos em 1984 e 2000, foram libertados, com “status” de “testemunhas assistidas”.

A advogada de um deles, Salomé Cohen, celebrou a decisão e considerou que a juíza que a proferiu fez “uma leitura extremamente precisa que soube se distanciar da cobertura midiática deste processo”.

“Agradecemos ao governo francês e ao aeroporto de Vatry pela rápida resolução da situação”, escreveu a embaixada indiana na rede X.

A retenção da aeronave ocorreu em um momento em que os Estados Unidos alertaram que a Nicarágua permite a operação de voos para facilitar a passagem de migrantes irregulares.

“O governo [nicaraguense] facilitou o negócio de uma rede de serviços aéreos internacionais para que as pessoas possam chegar à fronteira com o México e os Estados Unidos de forma mais rápida através do território nicaraguense como uma ponte de transição”, afirmou à AFP o analista Manuel Orozco, do centro de estudos Diálogo Interamericano.

Para o presidente Daniel Ortega, disse o analista, “os Estados Unidos são um inimigo a ser atingido como for possível” e a migração “é um mecanismo de política externa e ao mesmo tempo uma oportunidade econômica”.

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