Por volta do meio-dia deste domingo, 22, a aposentada Diná Silva, de 80 anos, caminhava sozinha com a ajuda de sua bengala em frente aos portões vazios de lojas e museus na Avenida Paulista. Moradora do bairro da Consolação, ela sabe que está no grupo de risco para o novo coronavírus, mas dessa vez teve de ir até a farmácia. Seu remédio para artrose havia acabado.

Normalmente o trajeto é mais curto. Diná frequenta uma drogaria na mesma rua de seu prédio, a três quarteirões da Paulista. Neste domingo, a farmácia mais próxima estava fechada e ela teve de andar mais. Não gostou de ver as calçadas vazias da avenida mais conhecida da cidade.

“Estou triste de ver esse lugar vazio desse jeito, mas isso vai passar com certeza, no tempo em que for necessário”, disse Diná. Sozinha em casa, ela diz que segue as recomendações de só sair em último caso. “Estou num confinamento que mal saio para tirar o lixo. Desço só à noite, quando tem menos movimento no prédio, mas hoje tive que vir.”

No primeiro fim de semana após o fechamento do comércio ter sido decretado pela Prefeitura, com as ruas esvaziadas e o baixo movimento, alguns moradores da região central queriam mais conscientização dos vizinhos. Ao serem abordados enquanto caminhavam na avenida, entrevistados pediram à reportagem que mantivesse distância segura.

“Estou tentando manter uma distância de ao menos 3 metros das pessoas na rua”, conta o programador Alfred Myers, de 49 anos. A epidemia em São Paulo fez com que ele passasse a guardar mais comida em casa para evitar deslocamentos. “Minha regra é só sair de casa para ir ao mercado em caso de extrema necessidade. Comprei o suficiente para passar cerca de duas semanas em casa.”

A designer Daniela Luchada, de 43 anos, que acompanhava Myers, diz que alguns vizinhos estão despreocupados e tomam poucos cuidados ao sair de casa. Ela se preocupa com pequenas aglomerações de pessoas que persistem na rua, mesmo com o comércio fechado. Mantendo distância segura, ela diz que está aproveitando os últimos dias ao ar livre, pois acredita que a restrição para caminhar na rua não deve demorar. “Sabemos que daqui a algum tempo já não vai dar mais para sair de casa, então estamos aproveitando para sair enquanto dá, tomar um pouco de sol”, diz.

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Pela segunda vez, a Paulista manteve-se aberta para carros no domingo, em mais uma ação para conter a pandemia do novo coronavírus. O movimento na avenida tem diminuído a cada dia e esse esvaziamento aumentou a preocupação de alguns moradores com a segurança.

No sábado, antes mesmo de entrar em vigor o decreto que determina a suspensão do atendimento em bares e restaurantes, muitos serviços acabaram fechando as portas mais cedo por causa do movimento baixo. É a partir de terça, 24, que devem permanecer abertos apenas serviços essenciais, como supermercados, farmácias e bancas de jornal. Mas neste fim de semana muitos já não viam mais sentido em manter os funcionários no trabalho.

“A demanda não está tão bem assim, tanto que muita gente do delivery, entregadores e cozinheiros, foi dispensada”, diz Antonio, de 65 anos, dono de duas pastelarias na Paulista. Próximo ao cruzamento com a Alameda Joaquim Eugênio de Lima, os garçons e cozinheiros de três restaurantes estavam de braços cruzados, à espera de clientes. “Nós estamos vendo se vale a pena ficar aberto até terça, se tem demanda suficiente para manter ao menos um restaurante. Se não, vou ter que ficar em casa mesmo.”

“Estamos vendo que não faz sentido ficar aqui trabalhando, só viemos porque somos obrigados”, disse a atendente Ingrid Araújo, de 20 anos, funcionária de um quiosque que serve açaí na Paulista. Até as 15 h da tarde do último sábado, ela havia vendido menos de cinco refeições.

O dono do quiosque onde ela trabalha manteve o local aberto para ter menos prejuízo. Quando ela conversou com a reportagem, ainda restavam 70 quilos de açaí na geladeira, e os restaurantes ao redor da esquina com a Avenida Brigadeiro Luís Antônio já fechavam as portas por falta de demanda. “Estamos informando os números das vendas e esperando uma posição do patrão”, contou. “Nosso vizinho fechou mais cedo porque não vendeu um prato de comida sequer.” As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.


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