Considerado o arquiteto da Reunificação mas também uma figura marcada por escândalos na reta final da sua carreira política, Helmut Kohl, que faleceu em 2017, só agora vai dar nome a uma rua na capital alemã.A intenção de iniciar conversações com as autoridades distritais berlinenses para escolher uma rua ou praça que levasse o nome do ex-chanceler federal alemão Helmut Kohl consta no acordo da coalizão de governo entre os democratas-cristãos da CDU e os social-democratas do SPD, que governam a cidade-Estado de Berlim desde abril de 2023.
A declaração curta e direita do acordo de coalizão não apresenta justificativa para a homenagem, mas ela faz sentido: nenhuma outra cidade alemã foi tão marcada pela divisão da Alemanha quanto Berlim, e Kohl é considerado um dos principais arquitetos da reunificação alemã, em 3 de outubro de 1990.
Depois de dois anos e meio de mandato, o prefeito de Berlim, Kai Wegner (CDU), anunciou oficialmente onde Kohl, que também foi da CDU, será homenageado: na atual avenida Hofjägerallee, na região central da cidade. "É uma grande avenida para um grande homem, a quem devemos muito", afirmou Wegner. Ele lembrou o papel de destaque de Kohl na Reunificação, ocorrida há 35 anos.
O escândalo de caixa dois da CDU
Kohl faleceu em 2017, aos 87 anos, e uma das principais razões para que a homenagem só seja feita agora talvez seja a sombra lançada sobre sua vida política em 1999, com o escândalo das doações ilegais para a CDU, pelo qual ele foi amplamente responsável. De acordo com as investigações criminais e relatos na mídia, o partido mantinha as contas secretas na Suíça desde pelo menos a década de 1980.
Após inicialmente negar as acusações, Kohl essencialmente as confirmou e assumiu a responsabilidade política por erros nas finanças da CDU durante seu mandato. Ele admitiu ter aceitado o equivalente a quase 1,1 milhão de euros em doações partidárias ocultas e, portanto, ilegais, no caixa dois de seu partido.
Embora circulassem inúmeros boatos sobre quem seriam os doadores secretos, Kohl nunca revelou o nome deles com o argumento de que dera sua palavra a eles de que não o faria, apesar das objeções de que, com a sua recusa, estaria violando a Lei Fundamental (Constituição).
Em 2001, o Tribunal Regional de Bonn encerrou a investigação contra o ex-chefe de governo alemão. Ele foi obrigado apenas a pagar uma multa equivalente a aproximadamente 153 mil euros.
A CDU, da qual Kohl foi presidente de 1973 até 1998, distanciou-se dele. Dois anos depois, ele renunciou ao cargo de presidente honorário. Sua carreira política terminou em 2002 como mero membro do Bundestag. O fim inglório da era Kohl também marcou o início da ascensão da próxima chanceler federal da CDU, Angela Merkel, que acabaria ficando no poder tanto tempo quanto ele: 16 anos – de 2005 a 2021.
Kohl provavelmente aprovaria
Ao contrário de outros casos, a mudança de nome não deve enfrentar maiores dificuldades, pois ninguém mora ao longo dos 420 metros de extensão da Hofjägerallee, uma avenida que atravessa o parque Tiergarten. Ações judiciais contra a mudança poderiam ser feitas apenas por moradores, segundo a lei.
Não há como saber se Kohl ficaria satisfeito com a localização da avenida que em breve receberá seu nome, mas há muitos indícios de que sim, pois ela leva à Coluna da Vitória, localizada bem no centro do Tiergarten e nas proximidades da área governamental de Berlim.
A coluna de 67 metros de altura com a estátua dourada da Vitória é um dos monumentos nacionais mais importantes da Alemanha e uma grande atração turística. Ela lembra as chamadas Guerras da Unificação, que levaram à criação do Império Alemão, em 1871.
As cinco avenidas de várias pistas que partem da Coluna da Vitória também têm uma grande simbologia histórica, em especial a que vai para o oeste, até o Portão de Brandemburgo, o símbolo mais importante da unidade alemã.
Na direção sul chega-se à sede nacional da CDU, que leva o nome do primeiro chanceler alemão, Konrad Adenauer. Tudo isso deveria agradar a Kohl, um político que tinha doutorado em História.
Embora o democrata-cristão e chanceler da Reunificação provavelmente teria preferido que o trecho final da avenida também recebesse o seu nome. Mas, desde 1961, ele homenageia Gustav Klingelhöfer, que não era um conservador como Kohl, mas um social-democrata.