Se houvesse uma Olimpíada dos pássaros, o andorinhão preto venceria todas as provas de resistência com facilidade: alguns animais da espécie chegam a ficar 10 meses seguidos em voo, sem colocar as patas no chão ou em um poleiro. Um recorde, afirmam pesquisadores da Universidade de Lund, na Suécia, responsáveis pela descoberta. Mesmo os espécimes que pousam com mais frequência passam no ar cerca de 99% do período não reprodutivo . Os hábitos de voo do andorinhão preto eram um antigo enigma, cuja solução foi publicada nesta quinta-feira pela revista científica americana Current Biology.
Essas aves passam a maior parte do ano no sul da África e voam até a Europa e Ásia no verão para se reproduzir. A energia para sustentar voos tão longos vem de insetos que os pássaros caçam e comem no ar. A estrutura física do andorinhão ajuda a explicar seus hábitos. São cerca de 15 centímetros a 20 centímetros de comprimento, quase 40 centímetros de envergadura e pernas curtas.
De tão adaptada ao voo, essa morfologia compromete a mobilidade da ave no chão e a deixa mais vulnerável a parasitas e predadores quando ela não está no ar. Tanto que foi durante o período de reprodução, quando os andorinhões passam mais tempo em solo, que os cientistas conseguiram capturar espécimes para estudo.
Em 2013, eles equiparam alguns pássaros com aparelhos para contar o tempo médio de voo da espécie. Na temporada de reprodução seguinte, mais animais foram equipados e foi incluído um dispositivo de geolocalização. Nos dois anos subsequentes, 17 andorinhões foram recapturados com os aparelhos funcionando e registros do que se passou no período.
“Logo que deixam o ninho, no final da época de reprodução, os filhotes precisam achar o caminho da África”, diz a pesquisadora Susanne Åkesson, da Universidade de Lund. Já nessa viagem, eles ficam até 10 meses sem pousar. Voos com duração semelhante se sucederão durante toda a vida do animal, que migra para fugir do inverno e que chega à idade reprodutiva só aos dois ou três anos.
O andorinhão preto dorme?
O sono dos andorinhões em voo ainda é uma incógnita para os cientistas. “Isso ainda precisa ser melhor investigado”, afirma Åkesson. Sabe-se, por exemplo, que alguns pássaros conseguem dormir enquanto voam, mas seus cochilos, nessas condições, são mais curtos do que quando eles estão empoleirados. Como já é sabido que alguns andorinhões nunca pousam fora do período reprodutivo, isso sugere que a espécie durma em voo. E que os eventuais pousos em momentos atípicos acontecem por questões externas, como o mau tempo, por exemplo.