As medidas de estímulo anunciadas por várias autoridades mundiais e bancos centrais – a última delas do Banco Central Europeu (BCE) – devem ser insuficientes para acalmar os investidores nesta quinta-feira, 19, diante do avanço rápido da pandemia de coronavírus, que dificulta traçar um cenário menos desordenado para a economia global. Se não bastassem as incertezas relacionadas à economia mundial, internamente as ações também estão sendo incapazes de reanimar os mercados. A sensação é que dificilmente o mundo escapará de uma recessão.

Após uma breve desaceleração no ritmo de queda, o Ibovespa voltou a acentuar as perdas, renovando mínimas. A abertura negativa das bolsas em Nova York acentuou a velocidade do declínio na B3, que chegou na cede mais de 4,6 mil pontos, na comparação com o fechamento da véspera (66.894,95 pontos). Nem mesmo a forte alta entre 3% e 9% do petróleo no exterior ajuda a conter os ânimos. Já o dólar cai a R$ 5,1406 após leilões realizados esta manhã pelo Banco Central e depois de ter atingido a máxima de R$ 5,2111.

O temor de contaminação de recessão no mundo segue no radar, com as autoridades seguindo tomando medidas. Nesta manhã, o Federal Reserve (Fed, o banco central dos EUA) anunciou o estabelecimento de um programa temporário para ajudar a emprestar dólares a bancos centrais de nove países, incluindo o do Brasil, em mais uma tentativa de aliviar tensões nos mercados financeiros causadas pela disseminação global do novo coronavírus.

Com esses recursos, os bancos centrais poderiam manter linhas de crédito em dólares em um momento de restrição de liquidez na moeda, cita um fonte, acrescentando que o valor anunciado para o Brasil (US$ 60 bilhões) é representativo, mas considera que as reservas do País podem dar conta em um momento de dificuldade.

Já o secretário do Tesouro americano, Steven Mnuchin, disse nesta quinta que o Congresso americano precisa “agir logo” – já no início da semana que vem – para aprovar o pacote, proposto pelo governo, de US$ 1 trilhão em estímulos para combater os impactos econômicos do novo coronavírus. De acordo com Mnuchin, há um acordo entre os partidos Democrata e Republicano para que a medida seja chancelada.

No Brasil, as expectativas para o Produto Interno Bruto (PIB) continuam piorando. O BNP Paribas, por exemplo, prevê queda do PIB de 1% em 2020 e corte da Selic a 3,0% em maio, ou antes. Enquanto isso, a Caixa anunciou medidas para conter os impactos do coronavírus sobre a economia, com foco sobretudo nas micro e pequenas empresas.

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Nem mesmo a queda da Selic, que foi reduzida ontem de 4,25% para 3,75%, deve permitir ganhos na B3 hoje, como já sugere o Ibovespa futuro, que opera em baixa de mais de 5% esta manhã. A alta do petróleo no exterior, contudo, pode abrandar um pouco esse quadro. Além disso, o Banco Central segue atuando no câmbio, para tentar conter o avanço da moeda, que segue em R$ 5,20, após máxima de R$ 5,211.

O governo brasileiro segue anunciando medidas para tentar minimizar os efeitos do vírus sobre a atividade, mas a sensação é de que as perdas serão grandes e inevitáveis, diante do fechamento de fábricas e do comércio, que está sendo recomendado por autoridades. Neste sentido, as ações do setor de consumo na B3 já estão antecipando um cenário desfavorável para o segmento e a expectativa para hoje não é diferente.

Hoje, o único motivo que a Bolsa teria para subir seria essa injeção de recursos do BCE, pontua Renato Chain, estrategista da Arazul Capital Research. No entanto, até mesmo as bolsas europeias estão em baixa, bem como os índices futuros de Nova York. “Em tese, com base na teoria econômica, a queda da Selic seria um argumento de alta para a Bolsa. No entanto, a política monetária está se mostrando ineficiente porque antes mesmo do coronavírus a capacidade ociosa do Brasil já era elevada. Mesmo com juro baixo, não respondia”, explica. Também houve anúncio de corte de juros nas Filipinas, Indonésia e Austrália.

O pacote de compra de ativos de 750 bilhões de euros anunciado pelo BCE ajuda a amenizar o estresse, mas o quadro geral segue amplamente negativo, em meio à percepção de impactos econômicos cada vez mais significativos, descreve em nota o economista Silvio Campos Neto, sócio da Tendências Consultoria Integrada.

“No Brasil, além de manter o acompanhamento do ambiente global, o dia será de avaliação dos anúncios feitos pelo governo e, principalmente, do resultado do Copom. O corte de 50 bps e o tom do comunicado foram prudentes, sem confirmar expectativas de um ajuste mais agressivo”, avalia.

Ontem, também a Câmara dos Deputados aprovou o Projeto de Decreto Legislativo (PDL), que reconhece o estado de calamidade pública no Brasil. A proposta, que segue para votação no Senado, permite que o Executivo gaste mais do que o previsto e desobedeça as metas fiscais para custear ações de combate à pandemia de coronavírus, cita em nota a MCM Consultores. O governo ainda anunciou uma ajuda mensal de R$ 200 para os trabalhadores informais, durante três meses, com custo estimado em R$ 15 bilhões.

Para Chain, o reconhecimento de calamidade pública deve provocar um efeito ainda mais negativo para a atividade, que tende a ficar paralisada e, essa expectativa, continuar prejudicando o desempenho das ações na B3, sobretudo as de consumo. “A bola está mais com a economia do que o Banco Central. Tudo bem que há leis, mas como a inflação está deprimida, seria interessante o BC imprimir moedas e gastar, mesmo. A questão é saber como ficariam a meta fiscal e o teto de gastos”, cita.


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