RESUMO

• Setor teve investimentos gigantescos, com a chegada de mais montadoras ao País
• Novas exigências tecnológicas nas linhas de produção e vendas em alta criam janelas de oportunidade
• Foco está na valorização de mão de obra especializada e na exploração de nichos inéditos no mercado elétricos e híbridos

Não falta energia para o mercado de carros elétricos e híbridos no Brasil. Em 2023, foram emplacados 93.927 desses veículos movidos a baterias cada vez mais poderosas, um aumento de impressionantes 91% em relação às 42.245 unidades vendidas no ano anterior. O último mês de março fechou com novo recorde de vendas: 6.123 unidades, 68% a mais do que o total registrado em fevereiro. As novas exigências tecnológicas, a sucessão de bons resultados e o imenso potencial de crescimento do setor geraram oportunidades variadas de atuação profissional e exploração de nichos de mercado na órbita dessa indústria.

Por trás das várias janelas de oportunidade está a avalanche de investimentos prometida para o setor no País em 2024 e nos próximos anos.

Pelos cálculos da Associação Brasileira de Veículos Elétricos (ABVE), neste ano as montadoras do setor vão abastecer as várias etapas da fabricação de carros totalmente elétricos e os híbridos, movidos a energia e combustão, com aditivados R$ 97,3 bilhões.

Na avaliação dos dirigentes da ABVE e dos executivos de recrutamento e seleção, ainda é cedo para quantificar com precisão o acréscimo salarial e de benefícios dados aos engenheiros, técnicos e operários atuais, e também os a serem repassados aos futuros profissionais, para recompensar o desafio de operar a nova tecnologia exigida nas linhas de produção.

Mas todos apostam numa tendência: essa evolução será inevitável diante da necessidade de capacitação, atração e retenção de talentos e os processos de adaptação à cultura dos novos players, sobretudo os indianos e asiáticos, ainda novos no Brasil.

“Será um desafio gigante para os departamentos de recursos humanos. Os profissionais precisam estudar muito para entrar nesse mercado. Além disso, será preciso adaptação, principalmente dos profissionais ligados às áreas técnicas, tecnológicas e de operação”, resume Eduardo Saigh, sócio fundador da empresa de recrutamento e seleção Techrx. “Em dois ou três anos será concluída uma grande invasão dessas empresas no Brasil”.

Avanço do carro elétrico promove corrida à capacitação de profissionais
(Divulgação)

“Competi com um protótipo de carro elétrico no Brasil e no exterior. Projetos como esse são importantes porque colocam aluno no ambiente prático.”
João Bruno Palermo, engenheiro

As montadoras enfrentam outros desafios além da capacitação e remuneração de seus quadros.

Um deles é a necessidade de atrair mão de obra especializada para pontos distantes dos grandes centros do País, como ocorreu com a chinesa BYD, que investiu R$ 3 bilhões na compra de uma planta antes operada pela Ford em Camaçari, no litoral baiano.

“Aí reside um grande problema: as grandes instituições de ensino em engenharia elétrica, mecatrônica e novas tecnologias estão na Grande São Paulo e em um polo interessante no Recife”, destaca Saigh. Em meio à concorrência por talentos, é mais um fator a contribuir para a valorização salarial e da oferta de benefícios.

Os efeitos da onda elétrica no mercado automobilístico movimentam as principais instituições de ensino formadoras de profissionais da área.

Fábio Delatore, professor de Engenharia Elétrica do Instituto Mauá de Tecnologia, em São Paulo, chama atenção para o aumento brutal no número de pedidos de indicação feito por empresas de recrutamento e executivos do setor.

Delatore comanda um projeto chamado Fórmula SAE, competição estudantil em que os alunos montam um protótipo de carro elétrico com design similar ao da Fórmula 1.

“É um trabalho interessante para aprimorar a molecada de olho nesse mercado de trabalho. Quando empresas e recrutadores nos procuram, indicamos os que se destacam pelo desempenho”.

A Mauá tem um curso de pós-graduação em Veículos Elétricos e Híbridos com 60 alunos por ano. “É gente que trabalha ou, motivada pela onda, deseja se inserir na área”, explica o professor.

Avanço do carro elétrico promove corrida à capacitação de profissionais
Executivos da chinesa BYD comemoram a compra da planta antes operada pela Ford, em Camaçari, no litoral baiano (Crédito:Manu Dias)

O engenheiro elétrico João Bruno Palermo, diplomado pela FEI, em São Bernardo do Campo, na Grande São Paulo, outro centro de excelência formador de profissionais da área, foi aluno e recebeu orientação de Delatore no projeto Formula SAE.

Eles venceram uma competição nacional e foram a única equipe brasileira a participar da etapa internacional do programa nos Estados Unidos. “Acredito nesses projetos que colocam alunos no ambiente prático, para adquirir experiência profissional”, diz Palermo, sócio-fundador da startup ZNIT, dedicada à análise de impactos da transição energética em veículos pesados na área de logística das empresas. A energia desse mercado, pelo visto, não diminuirá tão cedo.

Avanço do carro elétrico promove corrida à capacitação de profissionais
O carro elétrico usado por Palermo na competição vencida no Brasil e na etapa internacional, nos Estados Unidos (Crédito:Divulgação )