A defesa dos combustíveis fósseis por parte do cartel petrolífero da Opep recebeu uma avalanche de críticas neste sábado (9) na COP28, onde a ministra espanhola da Transição Ecológica, Teresa Ribera, descreveu esta posição como “repugnante”.

Os ministros tomaram as rédeas da reta final da reunião em Dubai, e o futuro do petróleo, do carvão e do gás elevou a temperatura das negociações.

“Na minha opinião, acho que o que os países da Opep estão fazendo, pressionando para atrasar as coisas, é muito repugnante”, disse a ministra, que representa a presidência espanhola da União Europeia (UE) nas negociações climáticas.

“Não estamos falando de eliminar amanhã os combustíveis fósseis, mas se não criarmos as condições para reduzi-los, para que consigamos sua eliminação, a transição energética não acontecerá”, insistiu a ministra.

Ribera fez estas declarações pouco antes de entrar em uma sessão plenária dos ministros, junto com o comissário europeu para a Ação Climática, Wopke Hoekstra, que co-lidera a posição negociadora europeia em Dubai.

O secretário-geral da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep) havia instado esta semana, em uma carta enviada aos membros deste cartel, a rejeitarem em Dubai qualquer acordo que vá contra os combustíveis fósseis.

“O projeto de decisão ainda contém opções para eliminar gradualmente os combustíveis fósseis”, advertiu Haitham Al Ghais na sua carta.

Embora a Opep e os seus aliados (quase 25 países) “levem a sério a mudança climática”, afirmava a carta, “seria inaceitável que campanhas com motivação política ponham em risco a prosperidade e o futuro do nosso povo”.

– As fórmulas em debate –

A controvérsia gira em torno de como definir o futuro das energias consideradas responsáveis pela grande maioria dos gases de efeito estufa.

O projeto em discussão na COP28 tem até cinco opções, que vão basicamente desde “abandonar” (phase out) esses combustíveis fósseis até “reduzir” (phase down) o seu uso.

Uma delas é “nenhum texto”, ou seja, não mencionar o papel destas energias no futuro da luta climática, o que seria a posição preferida de países como a Arábia Saudita. Também é mencionada “uma saída das energias fósseis baseada no melhor conhecimento científico possível”.

E duas outras fórmulas de “abandono” ligam-no aos mecanismos de captura de CO2 na atmosfera, para compensar as emissões, uma proposta científica que suscita polêmica.

“Cada uma (dessas opções) isoladamente não é suficiente. Temos que combiná-las”, explicou Ribera.

A COP28 deve definir o rumo da ação climática após a revisão do Acordo de Paris de 2015, que ocorreu em setembro.

“Nada põe mais em perigo a prosperidade e o futuro dos habitantes da Terra, incluindo o futuro dos cidadãos dos países da Opep, do que os combustíveis fósseis”, denunciou Tina Stege, emissária climática das Ilhas Marshall, um arquipélago no Pacífico ameaçado pelo aumento do nível das águas.

“Nem todos participam de forma construtiva e isso me preocupa”, disse a enviada especial da Alemanha para o clima, Jennifer Morgan.

A ministra colombiana do Meio Ambiente, Susana Muhamad, endossou as críticas em um discurso na sexta-feira que provocou aplausos.

A Colômbia está disposta a reduzir a sua dependência do petróleo, lembrou a ministra. Mas “nesta sala há países que planejam duplicar a sua produção de combustíveis fósseis”, gritou.

“Desta forma não conseguiremos fazer a transição”, alertou Muhammad, que falou depois da Arábia Saudita.

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