Mal o sol tinha nascido e na frente da agência da Caixa Econômica Federal, uma enorme fila já se formava.

Para receber o Auxílio Emergencial alguns estavam acampados desde a noite anterior.

Um funcionário saiu da agência e deu o aviso:

– Vamos lá, pessoal! Todo mundo de máscara e mantenham distância de quem está na sua frente! Dois metros! Vamos, vamos!

Como sabia que não adiantava apenas pedir, o funcionário passava de um em um para garantir a segurança de todos.

– A máscara, minha senhora… um passinho pra trás amigão… isso, isso… ô filho, dá um espacinho aí…

Assine nossa newsletter:

Inscreva-se nas nossas newsletters e receba as principais notícias do dia em seu e-mail

Em sua caminhada, o funcionário parou diante de um sujeito de boné e óculos escuros, vestindo uma camiseta do Atlético Paranaense.

Por alguns segundos, ficou olhando desconfiado para o homem, a ponto de deixá-lo sem graça.

O sujeito virou o rosto, evitando contato visual.

O funcionário ameaçou continuar caminhando, mas, subitamente, voltou ao sujeito.

– Perai… você não é o…

Antes que o funcionário completasse, o homem levou o indicador aos lábios sob a máscara:

– Shhhhhhh!

– Rá! Eu sabia! É você mesmo, então, né? — perguntou.

Quem diria! O senhor em carne e osso aqui na minha fila!
Olha, sempre fui seu fã, viu?
Achei uma injustiça o que fizeram com o senhor

O homem se aproximou e pediu em voz de segredo:

– Pelo amor de Deus, fala baixo… eu não quero ser reconhe…

Mas antes que terminasse de falar, o funcionário disparou:


– Pessoal! Olha só quem tá aqui!

Imediatamente a organização da fila se desfez.

Alguns sacaram os celulares e começaram a fotografar.

Outros pediam autógrafo.

Uma senhora tentou arrancar sua máscara e um rapaz mais jovem arrancou seu boné, sem cerimônia.

O funcionário, orgulhoso de sua descoberta, continuou.

– Quem diria! O senhor em carne e osso aqui na minha fila! Olha, sempre fui seu fã, viu? Achei uma injustiça o que fizeram com o senhor.

– Obrigado… mas, por favor,… continue aí o seu trabalho. — o homem pediu enquanto o funcionário o abraçava para uma self.

– Que honra! Nossa Senhora! O senhor é a última pessoa que eu esperava encontrar nessa fila! Me diga! O que o senhor tá fazendo aqui?

Incomodado com a multidão que se formava ao seu redor, o homem achou que seria melhor responder logo para que o funcionário da Caixa fosse embora.

– Ué? Tô pegando meu auxílio emergencial, não é para isso essa fila?

– É, não tá fácil para ninguém. Alguém falou no meio da multidão. O funcionário continua:


– Mas o senhor não sabe que podia ter feito tudo pela internet? Não precisava ter vindo até aqui. O famoso envergonhado, responde:

– Eu sei… mas sabe como é… cortaram minha internet essa semana. Falta de pagamento.

– Ouviram isso?! Cortaram a internet dele! — o funcionário grita para a fila.

– Shhh… por favor – constrangido, o homem pede discrição – não espalha!

A verdade é que o homem vinha passando por sérias dificuldades.

Sem acesso a internet, dizem que até as compras de supermercado estavam difíceis. Alguém na fila gritou:

– Bem feito, traidor!

Mas foi imediatamente vaiado.

Aos poucos a fila voltou a se organizar e começou a andar.

O funcionário se ofereceu para passá-lo na frente.

O homem agradece e continua em seu lugar.

Duas horas depois, consegue chegar ao caixa, sob aplausos de populares e funcionários.

Faz tudo o mais rápido possível e sai da agência dando os últimos autógrafos.

Na rua, seu celular toca. É sua mulher.

– Oi amor… deu certo, sim. O dinheiro já está comigo.

A mulher pergunta algo.

– Então… não deu, o pessoal me reconheceu. Mas não se preocupa. O Bolsa Família eu cadastro na próxima.

E, sem ser reconhecido, Sergio Moro desaparece na multidão.


Siga a IstoÉ no Google News e receba alertas sobre as principais notícias