As autoridades de Belgorod, uma região russa próxima à fronteira com a Ucrânia, propuseram, nesta sexta-feira (5), evacuar seus habitantes ante a multiplicação de bombardeios ucranianos, uma medida inédita depois que o Kremlin assegurou que o conflito não afetaria a segurança de seus cidadãos.

“A partir de hoje, estamos prontos para transportá-los para Stary Oskol e Gubkin [localidades mais distantes da fronteira], onde estarão em condições muito cômodas, em habitações aquecidas e seguras”, indicou o governador de Belgorod, Vyacheslav Gladkov, no Telegram.

Pouco antes, as autoridades haviam explicado, pela primeira vez, como seus cidadãos deveriam proteger as janelas em caso de explosão.

A região de Belgorod tem sido alvo de bombardeios em grande escala nos últimos dias. No sábado, um ataque ucraniano deixou 25 mortos e feriu mais de cem na capital regional homônima, de 360.000 habitantes.

Foi o ataque ucraniano mais sangrento desde o início da invasão russa da Ucrânia em 24 de fevereiro de 2022. Em represália, o presidente russo, Vladimir Putin, prometeu “intensificar” seus ataques contra alvos militares na ex-república soviética.

O anúncio do governador regional ocorre depois de a Ucrânia ter afirmado que não conseguiu confirmar se a Rússia usou mísseis fornecidos pela Coreia do Norte para atacar seu território em dezembro, após acusações nesse sentido dos Estados Unidos.

– “O tempo que for necessário” –

O Kremlin tem tentado manter uma aparência de normalidade após dois anos de guerra, mas os recentes ataques contra Belgorod aumentaram os temores da população.

“Vejo pedidos nas redes sociais nos quais se escreve: ‘Temos medo, nos ajude a encontrar um local seguro’. Claro que faremos isso! Já evacuamos várias famílias”, afirmou Vyacheslav Gladkov em um vídeo, fazendo referência a outras retiradas de localidades menores e mais próximas à fronteira em 2023.

Na véspera, um bombardeio deixou pelo menos dois feridos e quebrou os vidros de vários prédios altos. Ante essa situação, as autoridades decidiram na quinta-feira estender as férias escolares “de 9 a 19 de janeiro” em alguns colégios e recomendaram às universidades dar aulas à distância.

Os habitantes que decidirem ser retirados para Stary Oskol e Gubkin podem “permanecer o tempo que for necessário”, disse o governador, alertando, no entanto, que não havia abrigos provisórios suficientes para todo mundo.

“Farei um pedido aos meus colegas, os governadores das outras regiões, para que nos ajudem”, insistiu.

Os ataques aéreos se intensificaram nos dois lados da fronteira. Há dias, as forças russas bombardeiam as principais cidades ucranianas com o objetivo, segundo os especialistas, de cansar a população e desgastar as defesas antiaéreas de Kiev.

Ainda nesta sexta, o Exército ucraniano relatou 29 ataques russos com drones explosivos durante a noite, dos quais 21 foram derrubados pelo seu sistema de defesa aérea. Pelo menos quatro pessoas ficaram feridas em um bombardeio russo em Kherson (sul), revelou o Ministério Público.

O ministério russo da Defesa, por sua vez, informou ter “detectado e destruído” um míssil ucraniano sobre o mar Negro.

– Aproximação entre Rússia e Coreia do Norte –

Em Washington, o porta-voz do Conselho de Segurança Nacional americano, John Kirby, assegurou na quinta-feira que a Rússia utilizou mísseis fornecidos pela Coreia do Norte para atacar a Ucrânia.

Segundo Kirby, que não forneceu provas, as forças russas lançaram em 30 de dezembro pelo menos um dos mísseis fornecidos pela Coreia do Norte, que aterrissou em um campo aberto da região de Zaporizhzhya (sul).

Depois, dispararam “múltiplos” mísseis balísticos como parte de um enorme ataque aéreo em 2 de janeiro que deixou seis mortos em Kiev, nos arredores da capital e na cidade de Kharkiv (leste).

No entanto, Yuri Ignat, porta-voz da Força Aérea ucraniana, apontou que “até agora, não temos informações de que esse tipo de míssil tenha sido usado”.

“Os especialistas vão estudar os estilhaços e então poderemos dizer se isso é um fato ou não. Ainda não posso confirmar isso”, acrescentou.

Desde o início da guerra, a Rússia acelerou sua aproximação com a Coreia do Norte, uma relação que preocupa Washington, que teme que Moscou possa reforçar o regime norte-coreano para enfrentar o Ocidente.

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