O presidente mexicano, Andrés Manuel López Obrador, justificou nesta sexta-feira (18) a decisão de libertar, após breve detenção, Ovidio Guzmán, filho de Joaquín “el Chapo” Guzmán, para proteger a população de Culiacán, no estado de Sinaloa (noroeste), após ataques violentos do crime organizado.
Homens fortemente armados travaram uma batalha campal na véspera contra as forças de segurança mexicanas que realizavam uma operação fracassada para capturar Guzmán em Culiacán, capital de Sinaloa, reduto do cartel da família.
O secretário de Defesa, Luis Sandoval, reconheceu que o episódio foi resultado de “uma estratégia mal planejada”.
Em sua habitual entrevista coletiva pela manhã, López Obrador foi categórico ao justificar a decisão de deixar a operação.
“A captura de um criminoso não pode valer mais que a vida das pessoas. Eles tomaram essa decisão e eu a apoiei”, argumentou.
Ele garantiu que “de maneira alguma ele diria que sua estratégia de segurança falhou”. Fontes oficiais forneceram versões diferentes da existência ou não de um mandado de prisão contra Guzmán.
Ovidio Guzmán, de 28 anos, é um dos quatro filhos que El Chapo, preso nos Estados Unidos cumprindo uma pena de prisão perpétua por narcotráfico, teve com Griselda López Pérez, sua segunda esposa.
Durazo afirmou na noite de quinta-feira que uma unidade da Guarda Nacional realizava um “patrulhamento de rotina” em um bairro do centro de Culiacán, cidade de 750.000 habitantes, quando uma moradia foi atacada por tiros, em uma ação que a polícia respondeu com a detenção de quatro pessoas, entre elas, Guzmán.
Mas nesta sexta-feira, as autoridades reconheceram que a operação foi planejada.
Durazo disse que grupos do crime organizado cercaram a residência, onde Guzmán estava detido “com uma força maior” do que a dos militares, desatando o pânico em diversos pontos da cidade, motivo pelo qual o governo mexicano optou por interromper a operação.
“Se ontem demos uma versão diferente foi porque contávamos com uma informação diferente”, disse Durazo.
Durazo afirmou que não houve qualquer negociação na libertação de Guzmán, e reafirmou que o governo mexicano não está disposto a fazer isso com nenhum grupo criminoso.
– ‘Renúncia!’ –
A libertação gerou fortes críticas na Câmara dos Deputados. “Renúncia! Renúncia!”, gritaram deputados do conservador Partido de Ação Nacional (PAN, a segunda força do país) ao gabinete de segurança chefiado por Durazo.
Em termos de segurança, a semana já havia sido difícil para o governo de esquerda, com o massacre de 28 pessoas em dois dias.
“Envie Chapito para o 4T”, foi a manchete do jornal Reforma em sua edição desta sexta-feira, referindo-se à Quarta Transformação, como López Obrador se orgulha de chamar seu mandato. As três transformações anteriores seriam a Guerra da Independência (1810-1821), a Guerra da Reforma (1858-1861) e a Revolução Mexicana (1910-1917).
“Um desastre, por qualquer ângulo”, disse o especialista em segurança Alejandro Hope no Twitter.
“A única coisa pior do que tentar capturar um traficante sem planejamento indevido e desencadear uma batalha campal é tentar capturar um chefe sem planejamento indevido, conseguir, desencadear uma batalha campal e finalmente liberá-lo”, concluiu.
O tiroteio de quinta-feira durou cerca de seis horas em vários pontos da capital de Sinaloa. As imagens de televisão mostraram cenas de pânico nas ruas, com homens mascarados e fortemente armados atacando as forças de segurança com uma chuva ensurdecedora de tiros.
Sandoval confirmou a morte de um civil e sete soldados, além de três policiais feridos por arma de fogo. Vários veículos policiais locais e um helicóptero também foram alvejados por balas.
El Chapo Guzmán, considerado o traficante de drogas mais poderoso do mundo, escapou em janeiro de 2001 da prisão de Puente Grande.
Ele foi capturado novamente em fevereiro de 2014, mas 17 meses depois ele estrelou outra fuga espetacular de uma prisão de segurança máxima.
Ele foi preso pela terceira vez em janeiro de 2016 e um ano depois foi extraditado para os Estados Unidos.
Após um período de brigas internas, seus filhos assumiram o controle do cartel, juntamente com seu cofundador, Ismael “El Mayo” Zambada.