Autoridades alemãs desmantelam grupo separatista de extrema direita

Autoridades alemãs desmantelam grupo separatista de extrema direita

"GrupoMinistério do Interior bane atuação do grupo "Reino da Alemanha", facção do movimento Reichsbürger, que rejeita o sistema democrático do país. Alguns dos líderes foram presos, incluindo seu autoproclamado "rei".O Ministro do Interior alemão, Alexander Dobrindt, anunciou o banimento nesta terça-feira (13/05) do grupo de extrema direita Königreich Deutschland ("Reino da Alemanha"), uma facção do movimento Reichsbürger ("Cidadãos do Império Alemão"), que rejeita a moderna democracia alemãe já foi até mesmo implicado no planejamento de uma tentativa de golpe em 2022.

O banimento do grupo "Reino da Alemanha" ocorreu após a polícia realizar operações de busca e apreensão em propriedades de suas lideranças em sete estados alemães. Foram efetuadas quatro prisões. Entre os detidos está Peter Fitzek, que fundou o grupo em 2012 e se autoproclamou monarca do "Reino".

O ministro Dobrindt, que assumiu o cargo há poucos dias, disse que "os membros desta associação criaram um 'contraestado' em nosso país e construíram estruturas econômicas criminosas."

"Dessa forma, eles minam o Estado de Direito e o monopólio da República Federal sobre o uso legítimo da força", acrescentou. "Ao mesmo tempo, usam narrativas conspiratórias antissemitas para sustentar sua suposta reivindicação de autoridade." A proibição também inclui ramificações que se originaram do "Reino da Alemanha".

As operações policiais desta terça-feira tiveram início durante a madrugada em edifícios utilizados pelo grupo e nas residências de apartamentos de seus membros mais importantes nos estados de Baden-Württemberg, Baixa Saxônia, Renânia do Norte-Vestfália, Renânia-Palatinado, Saxônia, Saxônia-Anhalt e Turíngia.

O que é o "Reino da Alemanha"?

As autoridades calculam que o "Reino da Alemanha" conte pelo menos 6 mil seguidores, alguns vivendo em comunidades organizadas e isoladas nos estados da Turíngia e Brandemburgo, no Leste alemão. É considerado pelas autoridades como o maior grupo organizado dentro do movimento Reichsbürger, que por sua vez soma mais de 20 mil seguidores.

Antes da ação policial desta terça-feira, o Departamento Federal para a Proteção da Constituição da Alemanha, principal órgão de inteligência do país, descrevia o Reino da Alemanha como uma "comunidade sectária" e um "Estado de fantasia".

No ano passado, o grupo ganhou destaque na imprensa alemã após alguns veículos apontarem que crianças nascidas nessas comunidades não estavam sendo registradas em cartório ou frequentando a escola. Na prática, uma sociedade paralela.

Essas práticas seguem o credo Reichsbürger, que considera a atual República Federal da Alemanha não passa de uma "empresa", uma construção artificial imposta pelos Aliados após a Segunda Guerra Mundial. Segundo essa visão, a única "Alemanha legítima" seria o extinto Império Alemão (1871-1918).

Assim, os seguidores do movimento costumam imprimir seus próprios passaportes e carteiras de motorista com antigos símbolos imperais. Os documentos do Estado alemão moderno seriam uma "assinatura de contrato" que acaba reduzindo os cidadãos à condição de "escravos". Portanto, não registrar os filhos em cartório seria um ato de resistência.

Os adeptos também costumam ser seguidores de outras correntes conspiracionistas, entre elas a crença de que a Alemanha seria governada por membros de um suposto "deep State" (Estado profundo). Vários são adeptos de teorias conspiratórias do movimento QAnon, para quem as principais instituições de governo do mundo são dominadas por uma elite de pedófilos satanistas. O movimento também ganhou tração durante a pandemia, quando os Reichsbürger passaram a se mesclar com ativistas antivacinas.

Nos últimos anos, o movimento Reichsbürger vem atraindo cada vez mais a atenção das autoridades de segurança da Alemanha, em meio a temores quanto a seu potencial violento.

O caso mais notável nos últimos anos envolveu outra facção do movimento, chamada de União Patriótica, que foi desbaratada em 2022, acusada de liderar um complô para derrubar o governo alemão . Seus organizadores são suspeitos de planejar invadir o Bundestag (Parlamento) e prender políticos importantes antes de instalar um governo interino.

Cerca de 27 pessoas foram acusadas em conexão com a tentativa de golpe de Estado e 380 armas de fogo foram encontradas. No final de abril de 2024 tiveram início três julgamentos separados por terrorismo e conspiração contra os acusados.

Quem são os detidos?

De acordo com o Ministério Público Federal, quatro homens foram presos nesta terça-feira, incluindo o autointitulado "monarca" Peter Fitzek.

Segundo um porta-voz da promotoria federal duas das prisões foram feitas no distrito de Saxônia Central, no estado da Saxônia, e as demais nos distritos de Oder-Spree, em Brandemburgo, e Bad Dürkheim, na Renânia-Palatinado.

Buscas também foram realizadas na região de Solothurn, na Suíça, onde o alvo também era um cidadão alemão.

Os quatro alemães presos têm 37, 38, 46 e 59 anos de idade e serão levados entre esta terça e quarta-feira perante um juiz no Tribunal Federal de Justiça em Karlsruhe, quando será decidido se eles devem ou não ser mantidos sob custódia.

rc (DPA, AP, EPD, AFP)