Pela terceira vez, partidos austríacos tentam criar coalizão governamental, sem sucesso. Conservadores do ÖVP acusam FPÖ, de ultradireita, de "sede de poder e intransigência". Impasse pode levar a novas eleições.As negociações entre conservadores e a ultradireita para a formação de um governo na Áustria fracassaram nesta quarta-feira (12/02), e o país caminha rumo ao quinto mês de indefinição após as eleições parlamentares de setembro de 2024.
O Partido da Liberdade (FPÖ), de ultradireita, desistiu de formar uma coalizão com o conservador Partido Popular (ÖVP), após vários dias de debates. O principal ponto de atrito foi a distribuição das pastas ministeriais, com ambas as siglas disputando o Interior e as Finanças.
Nas eleições parlamentares de setembro de 2024, o FPÖ – uma sigla eurocética e pró-Rússia – emergiu como principal força, com 29% dos votos. De início, nenhum outro partido quis se coligar com ele, e o ÖVP, como segundo colocado (26,3%), recebeu o mandato para formar o governo.
Entretanto falharam as negociações entre ele, o Partido Social-Democrata (SPÖ) e o liberal NEOS. Assim, em 6 de janeiro o presidente austríaco, Alexander van der Bellen, encarregou o líder do FPÖ, Herbert Kickl, de travar com o ÖVP as atuais negociações.
"Sede de poder e intransigência" x "proposta condenada ao fracasso"
A potencial aliança dos conservadores com a ultradireita provocou grande apreensão em parte da população austríaca, com muitos cidadãos se sentindo contrariados. Protestos contra a guinada para a direita levaram até 30 mil participantes às ruas.
Após essa terceira tentativa de formação de governo, o ÖVP declarou que reivindicara o Ministério do Interior, ficando as questões de asilo e migração delegadas a uma outra pasta. No entanto as conversas teriam fracassado "devido à sede de poder e à intransigência" de Kickl, que "não estava disposto a chegar a um meio termo e a estabelecer uma colaboração de igual para igual".
Já o FPÖ alegou ter rejeitado a proposta dos conservadores por ser "carregada de numerosos problemas constitucionais" e "condenada ao fracasso". Aparentemente as posições das duas legendas são incompatíveis em numerosas áreas, desde as políticas da União Europeia ao tratamento aos requerentes de asilo.
Uma vez que os ultradireitistas condenaram as sanções impostas pela UE à Rússia, devido à invasão da Ucrânia, o ÖVP exigiu que esclarecessem seu posicionamento em relação a Moscou. De acordo com um documento confidencial revelado pela mídia, o partido conservador insiste que qualquer futuro governo austríaco considere a Rússia "uma ameaça".
Desde o começo das conversações, Kickl optou pela linha-dura e pelo erguimento de uma "fortaleza Áustria", exigindo a volta da neutralidade estrita e o fim da primazia do direito europeu.
Raízes do FPÖ na SS
Um possível saída para o atual impasse é a abertura de novas negociações de coligação, visando um governo centrista. Tanto o SPÖ quanto o NEOS se prontificaram a uma nova rodada de negociações.
Uma aliança só de conservadores e social-democratas teria maioria no parlamento de apenas um assento. O arranjo é considerado pouco prático, pois a ausência de um único deputado poderia comprometer a agenda governamental. Por isso o relativamente pequeno NEOS foi incluído nas negociações. Até agora Os Verdes, de esquerda, não têm sido cogitados para uma eventual coalizão governamental.
Em pronunciamento televisivo transmitido nesta quarta-feira, o presidente Van der Bellen citou outras três opções, além de uma nova rodada de negociações: a formação de um governo de minoria ou de um governo temporário integrado por especialistas ou, ainda, a convocação de novas eleições para daqui a três meses.
Esta última alternativa é defendida pelo FPÖ – que, pelas pesquisas de intenção de voto, poderia ampliar sua dianteira perante as demais legendas. Fundado nos anos 1950, o partido foi liderado de início por ex-oficiais da organização paramilitar nazista SS. Ao longo das décadas, estabeleceu-se como uma das principais forças políticas austríacas.
av/ra (AFP,EFE,Reuters,ots)