BERLIM E BOLZANO, 19 DEZ (ANSA) – O chanceler da Áustria, Sebastian Kurz, prometeu nesta terça-feira (19) “esclarecer” com a Itália a proposta de seu governo para conceder cidadania aos falantes de alemão que moram na província autônoma de Bolzano-Alto Ádige, no extremo-norte da península.   

A ideia foi recebida de maneira negativa na Itália, uma vez que é considerada potencialmente desagregadora para a Europa e para uma região já acostumada com a convivência entre diferenças linguísticas e culturais.   

“Temos excelentes contatos com Roma”, garantiu Kurz, acrescentando que a proposta será “esclarecida de modo positivo”. A medida foi apresentada pelo Partido da Liberdade da Áustria (FPÖ), legenda de extrema direita que integra o governo de coalizão do chanceler conservador, na última segunda (18).   

Seu objetivo é, a partir de 2018 ou 2019, conceder cidadania austríaca aos falantes de alemão de Bolzano-Alto Ádige, a única zona administrativa do país onde os que têm o italiano como língua materna são minoria (aproximadamente um terço dos moradores).   

A província, que faz parte da região de Trentino-Alto Ádige, pertencia ao Império Austro-Húngaro e foi cedida ao então Reino da Itália após sua derrota na Primeira Guerra Mundial. Nos anos do fascismo, Benito Mussolini tentou “italianizar” Bolzano à força, mas sem sucesso.   

Atualmente, a província goza de ampla autonomia em relação ao governo central. Ainda assim, abriga movimentos separatistas que defendem sua anexação pelo estado austríaco de Tirol – em alemão, o Alto Ádige é chamado de “Südtirol” (“Tirol do Sul”).   

Um jornal local estima que cerca de 350 mil pessoas podem se beneficiar da dupla cidadania, o equivalente a 67% da população da província. Com isso, esses indivíduos teriam até a possibilidade de se alistar no Exército da Áustria ou defender a seleção de futebol do país.   

“Essa medida, tal qual foi proposta, é tudo, menos europeísta.   

Responde sobretudo a uma ideia etnonacionalista, desagregadora da Europa e até da comunidade alemã no Alto Ádige”, afirmou nesta terça o vice-ministro das Relações Exteriores da Itália, Benedetto Della Vedova.   

Já o governador de Trentino-Alto Ádige, Arno Kompatscher, minimizou a proposta e disse que trata-se apenas de uma “declaração de intenções” do novo governo austríaco. “Muitas perguntas ainda estão abertas. No centro estará o espírito europeu que une, e não a divisão”, disse. (ANSA)